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Animais pelo Sedex

CB, Cidades, p. 28
25 de Out de 2005

Animais pelo Sedex
Ibama apreende répteis que chegaram do Rio Grande do Norte pelos Correios. Especialista diz que o DF faz parte de rota internacional

Leandro Bisa
Da equipe do Correio

A caixa tem 13,5 cm de altura, 22,5 cm de largura e 27 cm de comprimento. As duas iguanas não conseguiam sequer se mexer no pequeno espaço. Com cerca de seis meses, cada uma mede aproximadamente 70 cm de comprimento, entre a cabeça e a ponta da cauda. Traficantes de animais silvestres as enviaram do Rio Grande do Norte para Brasília, via Sedex. Policiais militares apreenderam os répteis na Quadra 402 de Samambaia, na noite da última sexta-feira, com um rapaz. Ontem, fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e agentes da Polícia Federal começaram a investigar o caso. Acreditam que grandes traficantes possam estar envolvidos no esquema ilegal.
As iguanas estavam com Ricardo Maia Pinto. O rapaz afirma ser promotor de vendas e mora na Quadra 601 de Samambaia. Às 23h30 de sexta-feira andava de bicicleta pela cidade, com uma mochila nas costas. Desconfiados, policiais militares decidiram fazer uma abordagem de rotina. O pacote saiu de Currais Novos (RN), município a 250 km distante de Natal, capital do Estado. O nome José Francisco, morador da Rua do Plutônio, sem número, aparece no espaço indicado ao remetente. A etiqueta com o nome do destinatário foi arrancada da caixa.
Encaminhado para a Polícia Federal, Ricardo afirmou que a encomenda chegou a sua casa por engano, mas não disse para onde levava as iguanas no momento em que a prisão ocorreu, de acordo com o delegado Federal Francisco Serra Azul, da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico. O rapaz recebeu multa de R$ 3,2 mil e acabou liberado para aguardar o julgamento. Ele responde pelos crimes de tráfico e maus tratos de animais. A pena para esses crimes é de seis meses a um ano de prisão, mas pode ser convertida em medidas alternativas, porque o crime é considerado de menor potencial ofensivo. Se não pagar a pena pecuniária em 20 dias, seu nome vai para a dívida ativa da União. "Vamos investigar para saber quem é o remetente", comentou Serra Azul.
Rota alternativa
Segundo o coordenador-geral da organização não-governamental Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais (Renctas), Dener Giovani, a rota que passa pelo Distrito Federal e Entorno é cada vez mais utilizada pelos traficantes de animais. O motivo, segundo Giovani, é que a fiscalização nas rotas tradicionais, Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), está mais rigorosa. "Antes, os animais saíam das matas direto para os grandes centros. Agora, os traficantes usam estradas alternativas para chegar a Brasília. Os bichos ficam estocados em depósitos nas cidades ou no Entorno. Depois, são levados aos poucos para os grandes centros", explicou.
Dessa forma, os criminosos driblam as barreiras de fiscalização e não correm o risco de perder todos os animais de uma só vez, caso policiais ou fiscais do Ibama os encontre. No DF e Entorno, de 1o de janeiro a 30 de setembro de 2005, foram apreendidos na mão de traficantes ou receptadores 597 animais, entre aves, répteis e mamíferos. Isso representa, em média, 66 bichos por mês. O número é semelhante ao registrado em 2004, quando a média ficou em 73 animais apreendidos mensalmente. No total, os órgãos fiscalizadores conseguiram capturar 876 animais no ano passado.
O diretor do Zoológico de Brasília, Raul Gonzalez, lembrou que nem todas as espécies sobrevivem. No DF, a maior partes dos animais capturados ou entregues voluntariamente aos órgãos fiscalizadores é levada para o hospital veterinário do Zôo. Entre os dias 1o e 23 de outubro, o hospital recebeu 218 aves e 73 mamíferos. "Deste total, 74% das aves e 15% dos mamíferos não sobreviveram", lamentou Gonzalez.
Segundo Dener Giovani, da Renctas, as punições brasileiras aplicadas aos traficantes estimulam o crime. Citou as iguanas como exemplo. Ele afirmou que as pessoas que as capturaram no mato devem ter recebido, no máximo, R$ 1 por animal. No mercado negro nacional, o preço delas varia entre R$ 300 e R$ 600. Já na Europa, cada bicho custa até mil dólares. "O tráfico de animais não é feito por amadores. É muito rentável. As multas, às vezes, não pesam. E, quando pesam, ficam por isso mesmo. A pessoa não paga e continua a traficar", afirmou Giovani.

CB, 25/10/2005, Cidades, p. 28

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