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Angra 3 teve propina de R$ 48 milhões

O Globo, País, p. 6
07 de Jul de 2016

Angra 3 teve propina de R$ 48 milhões
Parte da Lava-Jato, Operação Pripyat volta a prender ex-presidente de estatal por desvios em obras da usina

JULIANA CASTRO E CHICO OTAVIO
opais@oglobo.com.br

A força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ) afirmou ontem que cerca de R$ 48 milhões podem ter sido desviados das obras da usina nuclear Angra 3 para pagar propinas ao ex-presidente da Eletronuclear Othon Silva, diretores da empresa e agentes políticos. A operação de ontem, batizada de Pripyat, voltou a prender Othon, que já havia sido alvo da 16ª fase da Lava-Jato e estava em prisão domiciliar desde dezembro de 2015. Para o MPF, ele continuava a ter influência na empresa.
Outros cinco diretores e superintendentes afastados da Eletronuclear, que, segundo o MPF, integravam o núcleo operacional das fraudes, foram presos pela Polícia Federal. O atual presidente da Eletronuclear, Pedro Figueiredo, não foi alvo de mandado de prisão, mas acabou afastado das funções porque as investigações indicam que ele favoreceu Othon Silva, interferindo no andamento das apurações feitas por uma comissão independente criada pela Eletrobras, da qual a Eletronuclear é subsidiária.
O diretor afastado da Eletrobras Valter Cardeal foi alvo de mandado de condução coercitiva (levado a depor). Considerado homem forte da presidente afastada, Dilma Rousseff, no setor elétrico, Cardeal teve um papel ainda não esclarecido na negociação de descontos sobre o valor da obra de montagem eletromecânica da usina Angra 3, com posterior pedido e pagamento de propina.
ANDRADE GUTIERREZ ESTÁ ENVOLVIDA
O esquema de pagamento de vantagens indevidas envolve a empreiteira Andrade Gutierrez, que recebeu R$ 1,2 bilhão da Eletronuclear pelas obras da usina de Angra 3. Desse valor, apurouse que pelo menos 2% iam para o núcleo político, 1%, para Othon, e entre1% e 1,5%, para os diretores também presos ontem. O total de propina chegaria, então, a R$ 48 milhões. Parte dos envolvidos nessa fase da operação recebia propina em dinheiro e outros, por empresas já identificadas. Na operação já foi determinado o bloqueio de bens e ativos de 17 pessoas físicas e jurídicas.
O procurador Lauro Coelho Júnior, responsável pelas investigações, disse que não faria comentários sobre o núcleo político, porque essa investigação está a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF), que atua em casos nos quais há agentes com foro privilegiado.
ELETRONUCLEAR NÃO SE MANIFESTA
A procuradora jurídica da Eletronuclear, Denise Sollami, foi alvo de pedido de condução coercitiva e busca e apreensão. Ela foi afastada das funções por recomendação da comissão independente instituída pela Eletrobras, por atuar em benefício da defesa de Othon. A Eletronuclear havia pedido para ser assistente de acusação no processo sobre o esquema de propina na empresa, que corre na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, mas a solicitação foi negada pelo juiz Marcelo Bretas.
A Eletronuclear, onde houve busca e apreensão, informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
O GLOBO entrou em contato com o escritório de advocacia que defende Othon, mas não obteve retorno. Também não conseguiu contato com os advogados de Pedro Figueiredo, Denise Sollami, Valter Cardeal e os diretores e superintendentes afastados da Eletronuclear.

QG dos afastados
Diretores acusados montaram escritório em empresa

Após terem sido afastados da Eletronuclear pela comissão independente que apurava irregularidades na empresa, diretores montaram um quartel-general próprio. O escritório funcionava numa empresa que mantém contratos com a Eletronuclear.
Segundo o procurador Lauro Coelho Júnior, o QG continuou a influenciar a Eletronuclear; por meio do monitoramento telefônico, constatou-se a interferência do atual presidente da Eletronuclear, Pedro Figueiredo, para atrapalhar as investigações. Figueiredo foi afastado por ordem judicial, mas não houve mandado de prisão contra ele.
- Após o afastamento de parte desses diretores, as salas deles foram lacradas e, com intervenção do atual presidente, e isso foi confirmado pelo monitoramento, as salas foram violadas e eles entraram para retirar documentos - disse Júnior.

REFERÊNCIA A ACIDENTE NUCLEAR
O delegado da Polícia Federal Tácio Muzzi explicou que a Operação Pripyat é uma menção a uma cidade da Ucrânia que fica perto da central nuclear de Chernobyl, lugar onde aconteceu o maior acidente nuclear da História. Em 26 de abril de 1986, uma explosão e um incêndio lançaram grande quantidade de radiação na atmosfera. As partículas radioativas espalharam-se para parte da União Soviética e da Europa Ocidental.
A ação que apura esquema de corrupção na Eletronuclear foi alvo da 16ª fase da Lava-Jato em Curitiba, em julho do ano passado, denominada Radiotividade. O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou seu desmembramento, e ela passou a correr na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, com o juiz Marcelo Bretas. A Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, é responsável pelas usinas nucleares de Angra.

O Globo, 07/07/2016, País, p. 6

http://oglobo.globo.com/brasil/mpf-aponta-qg-na-eletronuclear-estima-pr…

http://oglobo.globo.com/brasil/ex-diretor-da-eletronuclear-preso-pela-p…

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