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Andarilho amante da cultura indígena

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: ANDRÉA ZÍLIO
20 de Jul de 2003

Márcio Luiz deixou a vida agitada no Rio para conhecer as aldeias do país

Ele decidiu trocar os corredores de hospitais pelas estradas do Brasil para conhecer e viver um pouco a cultura de diversas tribos indígenas. Márcio Luiz de Oliveira, 36, conhecido como Bili, é de Marabá (PA), mas dos quatro meses de idade até os 25 anos viveu no Rio de Janeiro. A saída da Cidade Maravilhosa foi o pontapé para viajar pelo Brasil como um verdadeiro nômade.

Depois de algumas visitas em aldeias indígenas - chegou inclusive a morar em uma delas -, Bili descobriu uma outra paixão: o artesanato feito por eles. E começou a fazer uma espécie de intercâmbio cultural, levando o trabalho de aldeias de um Estado a outro. Diz que de certa forma está abrindo caminhos para que as pessoas conheçam um pouco da tradição de cada povo.

Há pouco mais de cinco meses no Acre, Bili decidiu se fixar por um tempo no Estado em virtude da rica cultura indígena do lugar. Ele montou uma loja para expor os trabalhos de diversas aldeias do país.

Bili conta que sua participação em trabalhos na saúde iniciou aos 18 anos, quando fez os cursos técnicos em odontologia, com higiene dentária, em ortopedia e em engessamento. Exerceu a profissão no Exército até os 21 anos. "No Exército eles te colocam em áreas que tenham algum estudo ou curso. No meu caso foi saúde", conta.

Depois trabalhou no hospital Estadual Rocha Farias (RJ). Aos 25 anos decidiu pegar seu triciclo, parceiro inseparável, e ir para São Paulo, onde trabalhou como autônomo. Depois morou em Passo Fundo e outras cidades do Rio Grande do Sul. Daí não parou mais.

As tatuagens no corpo, o estilo hippie e a admiração pela cultura indígena sempre o acompanharam. Mas foi no ano de 1997 que a paixão pelo artesanato se intensificou, quando passou a visitar as feiras hip-pies e de artesanato. "Nesse tempo eu só não tinha descoberto que seria tão gratificante trabalhar com artesanato", diz.

O primeiro contato com índios foi no litoral de São Paulo, em Pertioka, onde encontrou 14 etnias em uma confraternização indígena. "Eu estava por lá e li no jornal que haveria esse encontro de etnias. Fui lá e fiquei encantado. Sempre tive a curiosidade, mas até então não tinha o conhecimento do que realmente era a cultura indígena, que impressiona pela pureza e inocência", observa.

Troca de conhecimento

Decidido a conhecer outras aldeias, ele encontrou no que sabe sobre saúde uma maneira de aprender a cultura indígena. Bili viaja até as aldeias palestrando sobre higiene bucal, levando alimento e roupas. Em algumas vezes, recebe em troca o artesanato, peças que vende por onde passa. Ao saber das 14 etnias indígenas que há no Acre, cada uma com um dialeto próprio, entrou em contato com um amigo que mora em Rio Branco e veio para cá.

Bili diz ser contra a troca de artesanato pelo dinheiro, como preferem alguns índios aqui. "Prefiro trocar o artesanato deles com palestras, roupa, determinados alimentos, do que comprar. A maioria dos índios que tive contato aqui quer assim. Estou comprando, mas não acho certo porque fazendo isso estou cometendo um genocídio, mudando a cultura deles", ressalta.

Bili conta que em todas as tribos percebeu que os índios estão perdidos, sem saber que rumo tomar e em quem acreditar, devido as falsas promessas e o uso aleatório do nome e cultura deles. Ele fala que entre as aldeias que visitou, a mais intacta é dos Waiawaia, no Pará. "Acho que o Governo tem de olhar com mais carinho para os índios. Fiscalizando as pessoas que estão a frente desses projetos", opina.

SERVIÇO

A loja de Bili fica localizada na avenida Getúlio Vargas, próximo ao Parque da Maternidade.

Segundo ele, o local mostra um pouco do que os índios fazem de mais belo, o artesanato. Telefones 3026-2078 e 3026-2079

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