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Ameaças e ataques a indígenas e sem-terra marcam fim de semana da vitória nas urnas de Bolsonaro

De olho nos ruralistas https://deolhonosruralistas.com.br/
Autor: Leonardo Fuhrmann
29 de Out de 2018

As falas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) contra povos indígenas, quilombolas e sem-terra provocaram uma onda de violência nas vésperas de sua vitória e logo após o anúncio do resultado das urnas. Os casos envolvem ameaças, tentativas de intimidação, depredação de unidades de saúde e educação e ataques com armas letais e não letais.

O principal foco de violência foi o Mato Grosso do Sul, mas também foram registrados casos de violência em Pernambuco. Os episódios têm outro aspecto em comum: a maioria deles aconteceu em regiões onde os conflitos não foram solucionados nos últimos anos. Pelas declarações de Bolsonaro antes e durante o período eleitoral, a tensão nessas regiões deve ser crescente.

Ele já afirmou que não pretende demarcar um centímetro sequer de terra para indígenas e quilombolas. Também disse que os sem-terra devem ser enquadrados como terroristas e chamou os integrantes do movimento de "marginais". "Invadiu? É chumbo!", afirmou em maio deste ano, durante uma palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro.

CRIANÇA DE 9 ANOS FICOU FERIDA NO MS
Em Dourados (MS), 15 indígenas ficaram feridos em um ataque a um acampamento ao lado da aldeia Bororo, na madrugada de domingo. Entre eles está uma criança de 9 anos. Os agressores usaram balas de borracha e bolinhas de gude. O ataque só foi interrompido com a chegada da Política Militar. Uma indígena fez um relato ao Correio do Estado:
- Eles chegaram em três caminhonetes e um trator. Era muito homem. Derrubaram tudinho os barracos, levaram panelas, essas coisas. O que tinha de alimento eles cortaram e derramaram tudo no chão, o povo estava fazendo chicha e eles derramaram tudo.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) tem outros dois relatos de violência contra indígenas no estado. Ambos na noite de domingo, logo depois do anúncio da vitória de Bolsonaro e do pronunciamento do presidente eleito. Em Caarapó, cerca de 40 caminhonetes fizeram uma carreata à retomada indígena. Em junho de 2016, um membro da etnia Guarani Kaiowá foi morto e outros seis ficaram feridos depois de um ataque de cerca de 200 homens.

Em Miranda, os fazendeiros também soltaram fogos e fizeram disparos de armas de fogo em direção aos indígenas. Ninguém ficou ferido. Os indígenas do município já foram atacados a tiros outras vezes. Em uma delas, o líder Paulino da Silva Terena foi baleado, em 2014. Quando foi atacado, ele já estava incluído no Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Dois ônibus de transporte escolar indígena foram incendiados na localidade, em 2011 e 2013.

Em Jatobá, no sertão de Pernambuco, uma escola e um ambulatório do Programa de Saúde da Família que atendem a comunidade Bem Querer de Baixo, do povo Pankaruru, foram completamente destruídos no domingo por um incêndio criminoso. Os indígenas temiam por um aumento da violência desde o mês passado, quando posseiros foram retirados pela polícia de suas terras por determinação da Justiça Federal.

No último dia 13, o indígena Davi Mulato Gavião foi morto a tiros por dois homens. Ele foi atacado durante a madrugada, quando dormia no centro de Amarante, no Maranhão. Os indígenas da região atribuem o crime ao preconceito que sofrem na região

ACAMPAMENTO DO MST FOI INCENDIADO
Ainda no Mato Grosso do Sul, em Dois Irmãos do Buriti (município que também abriga comunidades Terena), a violência atingiu camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na noite de sábado, homens em uma caminhonete fizeram o ataque o acampamento Sebastião Bilhar, aos gritos do nome de Bolsonaro. Um dos barracos foi incendiado pelos agressores. Com 240 famílias, o acampamento foi criado em julho do ano passado.

Em entrevista à rádio Brasil de Fato, o líder do MST João Pedro Stédile defendeu a necessidade de retomada do trabalho de base dos movimentos sociais e afirmou que a esquerda está novamente aglutinada para enfrentar os desafios do governo Bolsonaro:

- É um governo que vai usar todo o tempo a repressão, as ameaças, o amedrontamento. Vai liberar as forças reacionárias que estão presentes na sociedade. Por outro lado, ele vai tentar dar liberdade total ao capital em um programa neoliberal. Porém, essa fórmula é inviável, não dá coesão social e não resolve os problemas fundamentais da população.

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