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Ambientalistas se reúnem para combater Porto Brasil

Porto Gente
Autor: Bruno Rios
22 de Jan de 2008

Começou mal o ano de 2008 para o projeto Porto Brasil, que visa a instalação de um complexo de R$ 4 bilhões em Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. De acordo com ambientalistas da pacata cidade litorânea, advogados da empresa EBX, do empresário Eike Batista, estão procurando os moradores da Aldeia Piaçaguera, localizada bem no centro da futura área portuária, para negociar desde já os valores de indenizações e viabilizar a retirada dos índios que lá moram, uma decisão fundamental que pode acelerar ou retardar por anos o início das obras.

Por isso, cerca de 200 ambientalistas, representando mais de 60 entidades, se reuniram no último dia 16 para discutir o Porto Brasil na Assembléia Legislativa de São Paulo, na capital paulista. E por unanimidade, eles decidiram refutar o projeto capitaneado por um dos braços logísticos do grupo de Eike Batista, a LLX. "Criamos um grupo de trabalho que irá decidir nossas estratégias de atuação no combate à execução do Porto Brasil. O projeto é um total absurdo e nos reuniremos novamente no dia 28 para propor ações práticas", confirma o ambientalista Plínio Melo, um dos organizadores do encontro.

Vale lembrar que o Porto Brasil prevê a construção de um cais com capacidade para receber até 11 navios e 50 milhões de toneladas de cargas por ano, com a viabilização de um píer e o surgimento do Complexo Industrial Taninguá, para o armazenamento e manipulação dos produtos importados ou exportados pela LLX. O que assusta quem defende a preservação ambiental é a grandeza do projeto, que deve interferir em uma área de 24 milhões de metros quadrados, sem contar todas as mudanças nos acessos rodoviário e ferroviário, como PortoGente mostrou com exclusividade no final de 2007.

A presença de advogados na Aldeia Piaçaguera, supostamente em nome da EBX, foi o alerta que faltava para que outras aldeias se unissem para pedir a demarcação de terras indígenas na área, ato que dificultaria, e muito, os investimentos do empresário Eike Batista. Por isso, nesta sexta e sábado, será realizado justamente no local do futuro Porto Brasil, um encontro cultural e esportivo. Danças, cantos e um torneio de futebol estão programados, para chamar a atenção das autoridades federais e estaduais para a área. Estão confirmadas as aldeias Mongaguá, Itaóca, Aldeinha, Jaraguá, Paraiso e Miracatu.

Além disso, a organização não-governamental Mongue está financiando a construção de uma casa de reza no local, uma tradição de aldeias indígenas que inexiste até hoje na Piaçaguera. Mas de acordo com Plínio Melo, integrante dessa Ong, quando o assunto é o dinheiro da LLX, o pessoal da aldeia já não demonstra a mesma união de outros tempos. "Sei de maneira informal que alguns aceitaram a proposta o tal advogado que atua em nome do porto. Mas enquanto houver uma família contrária não tem negócio. Por isso, precisamos de apoio para manter as famílias que são contrárias ao porto lá dentro".

A também ambientalista Léa Corrêa Pinto, da Ong Terrae, lembrou durante o ato na Assembléia Legislativa que a adesão de mais entidades ao grupo contrário ao Porto Brasil mostra um embasamento teórico de quem vê graves problemas no projeto."O problema é que o Porto Brasil será construído ao lado da Juréia e do Parque da Serra do Mar, sem contar os efeitos colaterais, como a construção da Estrada de Parelheiros. O Estado precisa olhar com mais atenção para essa situação".

As fortes chuvas que trouxeram prejuízos estimados em R$ 11 milhões para Peruíbe e a morte do prefeito José Roberto Preto no último dia 5 de janeiro fizeram pairar sobre a cidade dúvidas a respeito do prosseguimento do Porto Brasil. Todavia, a presença de advogados parece mostrar que nada irá impedir a interrupção do projeto, que para uns, pode tirar do ostracismo econômico o litoral sul de São Paulo, enquanto para outros, trará danos ambientais irreparáveis. Resta acompanhar os próximos capítulos desta novela que, certamente, será muito longa.

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