OESP
12 de Nov de 2002
Possibilidade de redução de parque estadual mobiliza sociedade civil e governo suspende o processo,
temporariamente.
A redução da área do Parque Estadual do Cristalino em 46%, votada pela Assembléia Legislativa do Mato Grosso, em outubro último, está temporariamente suspensa.
Após a realização de uma audiência pública, na própria Assembléia, no dia 6 de novembro, o governo estadual resolveu criar uma comissão para estudar melhor as opções, com a participação de representantes de órgãos governamentais (Instituto de Terras, Fundação de Meio Ambiente, Secretaria de Turismo), ambientalistas, deputados, prefeitos, um procurador do Estado e representantes do Grupo Técnico Operacional (GTO) do Proecotur, o programa de ecoturismo do governo federal.
Localizado no norte do estado, na divisa com o Pará, o parque abrange 184.900 hectares e protege cinco ecossistemas ainda intactos -floresta de terra firme, floresta estacional, igapó, varjões e afloramentos rochosos - entre o Rio Teles Pires, a Rodovia Cuiabá-Santarém e a área da Aeronáutica, na Serra do Cachimbo (Pará).
Conforme o plano de manejo, concluído há um mês, apesar de a área ser relativamente pequena para um parque amazônico, a diversidade é altíssima. São 515 espécies de aves, das quais 50 endêmicas (exclusivas daquela área), 43 de répteis, 29 de anfíbios, 36 de mamíferos e 16 espécies de peixes comerciais e esportivos.
A proposta de reduzir a área partiu do governo estadual, que pretendia excluir algumas áreas - ocupadas e já degradadas - a leste, para incluir outras - intocadas - a oeste. Mas o projeto governamental foi substituído por outro, de autoria do deputado Nico Baracat (PSB), que reduz a área protegida em 84.418 hectares ou 46% do total, sem propor nenhuma compensação.
O trecho de maior conflito é conhecido como Serra do Rochedo, onde cerca de 2.400 hectares de floresta foram ilegalmente cortados e há terras griladas, com denúncias de ameaças de morte a autoridades envolvidas na discussão dos limites do parque.
Após a aprovação da redução da área, o deputado Gilney Viana (PT) - hoje no comando da transição de meio ambiente do governo Lula - solicitou a realização da audiência pública, onde se decidiu pela suspensão da tramitação do processo.
Ambientalistas, pesquisadores e operadores de turismo agora lançam a campanha "SOS Parque Cristalino", para manter a área original do parque, considerado último reduto de mata preservada, nos municípios de Alta Floresta e Novo Mundo.
Os dois municípios recebem o chamado ICMS ecológico, em função da existência do parque e, no entorno da unidade de conservação, já existe alguma infra-estrutura ecoturística em desenvolvimento.
"A alta diversidade de aves do local é internacionalmente conhecida, entre europeus e norte americanos aficionados da observação de aves", ressalta Vitória da Riva Carvalho, empresária da área de turismo e membro do GTO/Proecotur.
Responsável por cerca de 70% do movimento de um hotel de selva local, o turismo de observação é considerado muito especializado e em expansão, no mercado brasileiro, e poderia ser uma opção de desenvolvimento sustentável, de acordo com Vitória. A campanha em defesa do parque é coordenada pelo Instituto Centro de Vida, Fundação Ecológica Cristalino e Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, com apoio das universidades federal e estadual do Mato Grosso (UFMT e Unemat).
Em português e inglês, as entidades pedem que manifestações de apoio ao parque e veto ao projeto de redução sejam enviadas, por e-mail, ao governador Rogério Salles.
(Liana John-Estado de S. Paaulo-São Paulo-SP-12/11/02)
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