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Amazonlog17, um desafio logístico na Amazônia

OESP, Espaço Aberto, p. A2
Autor: OLIVEIRA, Guilherme Cals Theophilo Oliveira
21 de Set de 2017

Amazonlog17, um desafio logístico na Amazônia
Exercício multinacional objetiva promover ações humanitárias rápidas em catástrofes

Guilherme Cals Theophilo Oliveira

Diante dos acontecimentos mais recentes no cenário mundial, é de esperar o aumento de eventos que causem instabilidade nas relações inter-regionais, como a disputa pelos escassos recursos naturais e a migração não controlada. A esses fatores estão também associadas as catástrofes naturais e as chamadas "novas ameaças", como o terrorismo, o narcotráfico, o crime organizado, a proliferação de armas de destruição em massa, os ciberataques e o tema do meio ambiente, que afetarão a situação de segurança e defesa.
Na América Latina, essa instabilidade é evidente e preocupa, na medida em que impacta diretamente a segurança pública e o bem-estar das sociedades. Esses dois aspectos são fundamentais para o desenvolvimento social e econômico de um país e requerem políticas públicas eficientes. Um melhor controle das fronteiras nacionais, por exemplo, afetará as ações decorrentes nos centros urbanos e as possíveis intenções veladas.
Nesse contexto, a Panamazônia apresenta-se como área de relevância e preocupação. A região é considerada hostil, distante e, muitas vezes, de escassa integração, sendo pouco conhecida por grande parte da população dos países que a possuem. A extensão territorial, a falta de estrutura e as peculiaridades da selva impõem obstáculos aos governos, o que dificulta o controle e a ação institucional, gerando consequências locais imediatas e que reverberam para os grandes centros urbanos e econômicos desses países. É mister iluminar que em muitos desses longínquos rincões só as Forças Armadas estão presentes como braço político, psicossocial, econômico, tecnológico e militar.
Os terremotos no Haiti e no Chile, as frequentes situações de enchentes e secas na Amazônia (norte do Peru, Estados do Acre e do Amazonas), a migração de haitianos em direção aos países da América do Sul (em especial, Brasil, Colômbia e Peru), a desmobilização das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e, mais recentemente, a onda migratória de venezuelanos para o Brasil são exemplos de situações de instabilidade que podem ter consequências negativas caso não haja planejamento e medidas de controle adequados.
A partir dessas constatações e tendo como uma das finalidades criar uma doutrina de emprego para enfrentar tais desafios, o Exército brasileiro está preparando o Exercício de Logística Multinacional Interagências denominado Amazonlog17, com o objetivo de promover ações humanitárias que respondam, de modo rápido, a adversidades causadas por acidentes no âmbito da América do Sul. O exercício, inédito no continente sul-americano e conduzido pelo Comando Logístico do Exército, distingue-se por ser um evento em que diversos países, atuando de forma conjunta, farão o desdobramento de uma base que coordenará ações logísticas necessárias para uma resposta efetiva em caso de catástrofes.
O cenário tático escolhido para o Amazonlog17 está localizado na cidade de Tabatinga (AM) e integra a tríplice fronteira com Leticia, na Colômbia, e Santa Rosa, no Peru. A região é conhecida pelas altas temperaturas, chuvas constantes, dificuldade de acesso, vegetação densa, infraestrutura carente e outras especificidades da área, apresentando contrabando da fauna e da flora, tráfico de drogas, isolamento e outras questões.
As Forças Armadas dos países participantes contarão, ainda, com a presença das agências reguladoras, dos órgãos de segurança pública do Brasil e de algumas empresas civis que demonstrarão seus produtos com possibilidade de emprego dual. Buscar-se-á destacar empresas que trabalham na linha de preservação ambiental com sustentabilidade.
Aproveitar-se-á o Amazonlog17 como vitrine que expõe soluções e fornece apoio para civis e militares em regiões remotas, desassistidas e com pouca infraestrutura, realizando-se, simultaneamente, as chamadas Ações Cívico-Sociais (Acisos), com prestação de serviços médicos e odontológicos à população local.
É tradição das Forças Armadas brasileiras o estímulo ao intercâmbio nas escolas militares, com a realização de cursos de especialização. Um exemplo é o Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus, que recebe em seus cursos regulares militares de países dos diversos continentes, que aprendem "na pele" a dificuldade de operar e sobreviver na selva amazônica, fator de dissuasão e de demonstração da capacidade profissional dos mais de 30 mil militares brasileiros que operam naquele ambiente.
No caso do Amazonlog17, pretende-se contar, por meio de observadores militares, com a expertise em operações humanitárias de países como Alemanha, Canadá, EUA, França, Japão, Reino Unido e Rússia, entre outros. Essa é uma prática em exercícios dessa envergadura. Vislumbra-se que o legado para o Brasil será a consolidação de uma base de dados médios de planejamento para situações reais já ocorridos em nosso território. Como exemplo, citam-se o acidente com a aeronave da GOL e o grande incêndio que acometeu o Estado de Roraima, com elevado desdobramento de meios em pessoal e material para apoio às vítimas.
Espera-se que o Amazonlog17 vire modelo para ser utilizado em situação de catástrofes naturais, em que seja necessário fornecer ajuda humanitária à população residente ou deslocada, bem como aos civis e militares que estejam trabalhando na região afetada.
Para o Brasil será oportunidade de testar a nova logística militar terrestre dentro dos objetivos estratégicos do Exército, demonstrando, na esfera regional, a capacidade do Estado brasileiro de realizar atividades humanitárias, agregando conhecimentos, integrando táticas e ações, trocando informações, conhecendo tecnologias, estreitando laços com a sociedade acadêmica e levando serviços àquela região de fronteira tão importante para o Brasil, a Colômbia e o Peru. Selva!
*General de Exército Comandante Logístico

OESP, 21/09/2017, Espaço Aberto, p. A2

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