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Amazônia tem "síndrome de James Dean"

FSP, Ciência, p. A16
29 de Jul de 2004

Amazônia tem "síndrome de James Dean"

Viva rápido, morra jovem. Essa "síndrome de James Dean" parece estar afetando as árvores da Amazônia. As causas ainda não estão claras, mas existe uma boa possibilidade de o aumento nos níveis de gás carbônico na atmosfera ser o culpado. As conseqüências também não, mas no horizonte pode estar uma redução na biodiversidade da floresta.
O fenômeno foi detectado numa série de estudos do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia) e apresentado ontem pelo britânico Yadvinder Malhi, da Universidade de Oxford, na 3ª Conferência Científica do projeto, que se encerra hoje em Brasília.
Malhi e seus colegas analisaram o padrão de crescimento de árvores em cerca de cem áreas da Amazônia, a maior parte na região oeste da floresta (Peru, Bolívia e Equador). Essas árvores haviam sido medidas há 20 anos e foram reavaliadas agora.
O grupo descobriu que as árvores do oeste crescem mais depressa que as do leste. A causa, afirma Malhi, é a maior fertilidade dos solos na alta Amazônia em relação ao baixo curso do rio, no Brasil. Árvores de crescimento mais rápido, por outro lado, também morrem mais depressa. O chamado tempo de residência do carbono nas florestas (medida relacionada com o tempo de vida das árvores) em áreas analisadas pelos cientistas na bacia do baixo Amazonas é de 70 anos, contra cerca de 30 nas regiões mais férteis. "Isso as torna mais sensíveis a perturbações globais no carbono", disse o pesquisador britânico.
O excesso de gás carbônico (CO2) na atmosfera, decorrente da queima de combustíveis fósseis como o petróleo por atividades humanas, "fertiliza" as plantas, aumentando a fotossíntese e acelerando seu crescimento.
É o que parece estar acontecendo com as árvores amazônicas. A aceleração verificada desde 1975 é da ordem de 15% no oeste amazônico, e apenas 5% no leste.
"A nossa hipótese, que não está provada, é que a maior concentração de CO2 está fertilizando as árvores, fazendo-as crescer mais rápido, ou aumentando a disponibilidade de nutrientes no solo devido a uma maior taxa de decomposição", disse Mahli.
Pergunta: isso é uma coisa boa?

Cipós
Há dois lados na resposta. Por um, o crescimento acelerado pode significar que a floresta está retirando mais CO2 da atmosfera, funcionando como um "ralo" para o excesso do gás. Dados do próprio LBA indicam que a Amazônia é um pequeno sorvedouro de carbono.
Por outro, como ocorre sempre em sistemas complexos, há conseqüências inesperadas. "Temos visto um aumento na abundância de cipós", afirmou o britânico. Plantas oportunistas de crescimento rápido, os cipós provocam a morte de árvores.

Para físico, país joga fora serviço ambiental

Após 20 anos de debate, o LBA conseguiu determinar que a floresta absorve mais gás carbônico da atmosfera do que emite. "É um pequeno sorvedouro, da ordem de 0,5 tonelada de carbono por ano por hectare", disse Paulo Artaxo, da USP, que coordena a conferência.
"A floresta está prestando um serviço ambiental. Burros somos nós, que jogamos isso fora [queimando a mata] sem nenhum retorno para a sociedade." (CA)

FSP, 29/07/2004, Ciência, p. A16

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