VOLTAR

Amazônia tem 29 espécies ameaçadas em área crítica

FSP, Ciência, p. A21
04 de Nov de 2006

Amazônia tem 29 espécies ameaçadas em área crítica
Região na divisa do Pará com o Maranhão já perdeu 77% das suas florestas
Animais e plantas da lista só existem na área estudada; terras indígenas e reservas particulares ainda mantém pequenos "oásis" na região

Eduardo Geraque
Da reportagem local

Pesquisadores que estudam a Amazônia agora já sabem qual vai ser o primeiro pedaço da floresta a ter espécies extintas. O chamado Centro de Endemismo Belém, área geográfica com 243 mil km2 dividida entre Pará e Maranhão, abriga vários seres vivos endêmicos (que só existem lá) e é a região mais ameaçada de todo o norte do Brasil. O alerta foi dado ontem num estudo apresentado por cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém.
"Essa é de longe a pior área da Amazônia em termos de risco ambiental. Restam apenas 23% de floresta intacta" disse à Folha José Maria Cardoso da Silva, pesquisador e vice-presidente de Ciência da CI (Conservação Internacional). A ONG é parceira do museu no trabalho, que faz parte do Projeto Biota-Pará.
O quadro consolidado pela análise das imagens de satélite e também dos trabalhos de campo é tão dramático que os autores do estudo estão relacionando o Centro de Endemismo Belém com outros biomas brasileiros e não com o restante da floresta amazônica. "Em termos de destruição, encontramos agora a nossa mata atlântica", disse Ima Vieira, diretora do Museu Goeldi.
A floresta litorânea brasileira, na sua origem, ocupava um grande trecho de terra situado entre Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul. Hoje, intactos, restam apenas 7%. Na Amazônia, apesar de a área agora analisada ter ainda 23% de floresta, as pressões são tão grandes que os pesquisadores admitem estarem realmente preocupados com o futuro da região, que tem 147 municípios e 5,9 milhões de habitantes.

Aves desaparecidas
A área agora classificada como a mais vulnerável da região amazônia é a que tem o histórico de ocupação humana mais antigo. "As atividades agropecuárias, de forma oficial, são feitas lá desde o século 19. Mas nos últimos 50 anos elas se aceleraram muito", explica a diretora do Museu Goeldi.
Segundo Vieira, o local abriga 29 espécies classificadas como ameaçadas do Estado do Pará. "São vários grupos, mas tem um tipo de pássaro que não é visto na região há 40 anos." Além disso, dois tipos de primata -entre eles o macaco-caiarara- também correm o risco de serem riscados da floresta. "Começar a perder espécies na Amazônia é algo bastante crítico", afirma Vieira. "Não estamos mais falando de problemas existentes entre os rios. Nossos parâmetros agora são as estradas, como a zona entre a PA-150 e a BR-010, onde não existem mais blocos contínuos de vegetação florestal".
Para o vice-presidente de ciência da CI, o estudo também aponta um caminho que pode ser considerado positivo. "Os dois grandes blocos preservados mostram que terras indígenas e reservas particulares podem muito bem cumprir com seus papéis."
No resto da área, entretanto, o quadro é absolutamente oposto. "A ilegalidade é muito grande. Na grande maioria das áreas não há respeito pela Lei da Reserva Legal [20% da floresta na propriedade não pode ser derrubada]".
Para Silva, todo cuidado a partir de agora é pouco. "Essa área chegou a esse estado pela falta de organização no processo de ocupação. Temos que ficar atentos para que ela não vire um pólo de extinção. Além disso, para o pesquisador, a imagem que se têm diante dos olhos poderá ficar pior. "Caso não exista um planejamento para o resto da Amazônia, vai ocorrer o mesmo nos outros sete centros de endemismo."

Saiba mais sobre a Amazônia www.museu-goeldi.br

FSP, 04/11/2006, Ciência, p. A21

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.