OESP, Geral, p. A10
09 de Abr de 2004
Amazônia pode ficar pela metade em 80 anos
Pela 2.ª vez seguida, taxa supera em 5 mil km2 média dos anos 90; 'é inaceitável', diz ecologista
Sandra Sato
Pela segunda vez consecutiva, a taxa de desmatamento na Amazônia superou 23 mil quilômetros quadrados, equivalente ao território do Estado de Alagoas. Na década de 90, a taxa média não ultrapassava 18 mil km2. A tendência de crescimento preocupa entidades ambientalistas.
"Demonstra um patamar muito acima do sustentável para a Amazônia. É inaceitável", afirma a pesquisadora Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA).
Se o atual ritmo de desmatamento for mantido, em 40 anos a Amazônia estará cheia de estradas e fazendas, prevê um dos coordenadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho. Ele estima ainda que metade da floresta poderá estar "completamente derrubada" dentro de 80 a 100 anos, na hipótese de corte raso de 25 mil quilômetros por ano em média. "O povo brasileiro é o único no mundo que tem ainda a chance e um relativo tempo de preservar sua floresta tropical e fazer o tão sonhado desenvolvimento sustentável."
Desde o início do monitoramento da derrubada de mata, nos anos 70, a Amazônia já perdeu 16,32% de sua cobertura florestal - 12 vezes o território da Costa Rica. Anteontem, o governo anunciou que o desmatamento atingiu 23.750 km2 de agosto de 2002 ao mesmo mês de 2003, período que pega o fim da gestão Fernando Henrique Cardoso e o início da de Luiz Inácio Lula da Silva.
Além da taxa em si, uma discrepância nos números preocupa os ambientalistas.
A taxa prevista pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base em imagens captadas pelo satélite Landsat, não coincidiu com a projeção da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feema) de Mato Grosso para o desmatamento no Estado. Segundo o Inpe, o Mato Grosso foi o campeão do desmatamento, com 10.416 km2. Mas a Feema, que usa imagens do satélite CBERS, calculou 18.580 km2. "É importante esclarecer a razão desta diferença", cobra Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra, para não pôr em xeque a taxa total da Amazônia.
Uma das hipóteses avaliadas no seminário realizado pelo Ministério do Meio Ambiente com ONGs terça-feira é de que a Feema teria computado também cortes em áreas de cerrado, enquanto o Inpe só consideraria os da floresta. A pedido do governo federal, os dois órgãos vão avaliar onde está o erro. Mas para ambientalistas as taxas serviram para expor a fragilidade na fiscalização no Mato Grosso, apesar do sofisticado sistema de georreferenciamento adotado, em que o Estado usa imagens de satélites para autorizar cortes de vegetação.
Lição - Outra lição tirada do anúncio de anteontem é de que o corte da floresta independe do crescimento econômico do País, como antes. Smeraldi diz que, ao longo dos anos 90, o desmatamento caía quando a economia estava fraca ou vice-versa. O desmatamento recorde de 29.059 km2, por exemplo, ocorreu na euforia do real.
Hoje a abertura de novas áreas está relacionada à criação de gado e ao plantio de soja, que contam com um mercado fantástico no exterior. "Manter a floresta em pé é caro", admite Moutinho. Ele adverte que o País deve mudar de enfoque e procurar abrir novos mercados mundiais, relacionados a serviços ambientais. A Amazônia, diz, é um armazém de biodiversidade. Sua destruição implica perda de recursos genéticos e aumento do efeito estufa, gerando mudanças climáticas. Ou seja, a derrubada de floresta não é bom negócio nem para a agricultura, no longo prazo.
OESP, 09/04/2004, Geral, p. A10
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