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A Amazônia no ano eleitoral

O Globo - https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post
Autor: PRADO, Fabiana
22 de Fev de 2022

A Amazônia no ano eleitoral

Por Fabiana Prado
22/02/2022

A Amazônia foi tema de importância global no ano passado - e em 2022 não será diferente. A relevância da floresta para o equilíbrio climático, a biodiversidade e a bioeconomia torna os esforços direcionados à conservação do bioma um objetivo crucial para todos. Apesar de os olhos do mundo estarem voltados para a manutenção da floresta, não começamos com boas notícias.
Dados mais recentes do programa Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que cerca de 360 quilômetros quadrados de floresta foram destruídos de 1o a 21 de janeiro. Um recorde de desmatamento já nas primeiras semanas do ano. E, ainda mais recentemente, por meio de decreto, o governo federal sugere incentivo ao que chama de "mineração artesanal" em ação prioritária na região da Amazônia Legal, que abrange os estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão.
O aumento da cotação do ouro e das demandas do minério no mercado internacional estimula o avanço da exploração garimpeira ilegal. E a pressão em Terras Indígenas tem sido um conflito crescente. O que se vê como resultado não é o desenvolvimento econômico, mas rios e peixes contaminados com metais pesados, exploração social do trabalho, violência, crime organizado e ocupação desordenada do solo.
A Amazônia é o um ativo ambiental com possibilidades de modelos de negócios escaláveis utilizando bioeconomia e soluções baseadas na natureza. Contudo, a falta de visão política, de forma geral, está transformando nosso patrimônio em cinzas e destruição.
Isso pode ser percebido quando se olha como o Congresso Nacional vota as leis ambientais e as propostas para a Amazônia dos candidatos à eleição de 2022. Os políticos precisam conhecer melhor quem vive na Amazônia, o que é o bioma e os seus reais problemas e oportunidades. Gerir esse território gigantesco vai muito além dos principais ilícitos como desmatamento, garimpo e grilagem - não dá para olhar a Amazônia somente de cima, é urgente olhar para dentro dela.
Na coordenação do LIRA/IPÊ, trabalhamos em conjunto com 116 organizações que atuam diretamente em 62 municípios, com 37 mil beneficiários diretos. As experiências coletivas deixam nítidos a possibilidade e o grande potencial da construção desse diferente modelo de conservação para o território amazônico.
A notícia boa é que existem movimentos de trabalhos colaborativos entre empresários, investidores, sociedade civil e instituições de pesquisa. Esses setores atuam em redes para estimular as estruturas de governo a cumprir o seu papel. Exemplos são a rede Uma Concertação pela Amazônia, a rede Origens Brasil, a Coalizão Pró-UC, a Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura - de todas o LIRA/IPÊ participa e com todas contribui.
Pensando em 2022, ano eleitoral, a pergunta que fica é o que os candidatos estão propondo para Amazônia? Nos últimos governos democráticos, nenhum deles priorizou esse território. Precisamos de propostas consistentes, que considerem a população e todo o potencial econômico. Que consiga trabalhar em conjunto com sociedade civil e demais atores com base em diálogos e que considerem bases científicas como ponto de partida para a criação de políticas públicas ou sua aplicação de fato. Do lado do eleitor, é necessário acompanhar essa agenda, pois ela refletirá na vida de todos os brasileiros.

*Bióloga, é coordenadora do Legado Integrado da Região Amazônica (LIRA/IPÊ)

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