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Amazônia lança carbono na atmosfera

GM, Meio Ambiente, p. A10
28 de Jul de 2004

Amazônia lança carbono na atmosfera

Especialistas afirmam que, em alguns trechos, a floresta emite mais CO2 do que seqüestra. O funcionamento da floresta amazônica, que sempre pareceu homogêneo, é muito mais complexo do que se pensava, varia bastante de uma região para a outra e é capaz de surpreender especialistas do mundo todo.

Trocando em miúdos, a Amazônia não é uma floresta uniforme, do ponto de vista da paisagem e do comportamento químico e físico das espécies animais e vegetais. Além disso, a mata também sofre da falta de nutrientes e, em algumas regiões, libera mais dióxido de carbono (CO2) do que consome.

Estas foram algumas das conclusões do primeiro dia de discussões da III Conferência Científica do LBA (sigla em inglês para Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), evento que reúne, em Brasília, 800 especialistas do Brasil e do mundo com o objetivo de discutir a influência da Amazônia nas questões climáticas globais.

Desde a sua criação, em 1998, foram investidos quase US$ 100 milhões no LBA, um dos maiores projetos sobre o papel da região no sistema climático do planeta. Desse total, pelo menos US$ 50 milhões são oriundos da agência espacial americana NASA e outros US$ 30 milhões da União Européia, o que dá uma dimensão do interesse internacional na maior floresta tropical do mundo.

Os cientistas reunidos em Brasília advertem que a falta de uniformidade da Amazônia precisa ser levada em conta daqui para frente, não só para definição de políticas públicas, mas também para balizar a posição do Brasil frente às discussões do Protocolo de Quioto.

Um estudo liderado pelo pesquisador Yadvinder Malhi, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, por exemplo, mostra claramente estas diferenças e revela que a velocidade de crescimento da mata varia ao longo de sua extensão leste-oeste, desde o Pará até a Colômbia. A floresta tende a crescer e a morrer três vezes mais rapidamente na porção oeste, que abrange os estados de Rondônia e Amazonas e trechos da Bolívia, do Peru, da Colômbia e da Venezuela, do que na parte leste.

Uma das hipóteses para esta diferença, segundo o pesquisador, é que as taxas mais altas de crescimento se devem à fertilidade do solo nas áreas próximas à Cordilheira dos Andes, aparentemente maior do que nos solos do leste. "Dessa forma, compreender a qualidade do solo é muito importante não só para prever o futuro da floresta como também para indicar os locais com maior potencial para seqüestro de carbono", acrescenta.

Mais carbono

Neste quesito, outra surpresa. Trechos da Floresta Amazônica, considerada por muito tempo uma garantia do Planeta contra o aquecimento global, podem estar, na verdade, lançando na atmosfera - mais do que absorvendo - o principal gás a causar o problema. Isso acontece na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, por exemplo, que foi observada por três anos por especialistas de diversas instituições. Agora é preciso entender como isso acontece. "É por isso que o mundo inteiro está de olho na Amazônia", diz Malhi.

O interesse internacional também é tecnológico. "Para alguns países, programas como o LBA são uma oportunidade de testar novas metodologias e equipamentos", ressalta o coordenador do LBA no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Flávio Luizão. É o que acontece com os Estados Unidos. A gerente do programa de ecologia terrestre da NASA, Diane Wickland, confirma esta idéia. "De um lado, a NASA é especializada em desenvolver satélites de sensoriamento remoto, uma excelente ferramenta para o estudo de grandes ecossistemas. De outro, a Amazônia é um dos mais importantes biomas do mundo. Essa união é uma chance de responder questões importantes sobre mudanças resultantes de alterações no uso da terra e suas conseqüências no clima", completa Diane.

kicker: Desde 1998, já foram investidos US$ 100 milhões no LBA; metade disso vem da NASA

GM, 28/07/2004, Meio Ambiente, p. A10

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