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Aluguel de floresta é crime, diz geógrafo

FSP, Dinheiro, p. B7
Autor: AB'SABER, Aziz
09 de Nov de 2004

Aluguel de floresta é crime, diz geógrafo
Para Ab'Saber, solução é usar bordas da mata para a agricultura

Cláudio Ângelo
Editor de ciência

O Projeto de Lei do Ministério do Meio Ambiente que prevê a concessão de florestas públicas para a exploração sustentável é um crime histórico. A opinião é do geógrafo Aziz Ab'Saber, da USP (Universidade de São Paulo), que diz que a proposta reflete a "ignorância do governo sobre a Amazônia".
"Muitos governantes tiveram, ao longo das últimas décadas, a possibilidade de ter idéias sobre o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Não o fizeram por ignorância", disse o cientista.
Ao conceder grandes áreas de floresta, em especial as Flonas (Florestas Nacionais), para a exploração madeireira, o governo está jogando fora uma biodiversidade que se regenera numa velocidade muito maior que a da exploração, avalia Ab'Saber.
"Vai haver uma perfuração exagerada da Flona para buscar madeira a 3 km da beira das estradas", afirmou o geógrafo à Folha.
Além disso, entregar áreas enormes por 30 ou 60 anos à iniciativa privada pode significar perder essas áreas para sempre, num quadro institucional incerto a longo prazo. "Eles [os madeireiros] vão querer aquilo como espaço deles", criticou o pesquisador, para quem a ministra Marina Silva é "uma grande amiga, mas que está errada" nessa questão -Marina é a principal defensora do mecanismo de concessões.
Em relação à exploração ilegal de madeira, que o governo quer frear com as concessões, Ab'Saber diz, ainda, que o aluguel de Florestas Nacionais "não coíbe nada".

Solução
A solução, segundo o geógrafo, é aplicar às Flonas a receita de geração de renda que vem sendo usada com sucesso há uma década pelo projeto Reca, no município de Nova Califórnia (RO): usar as bordas da floresta para agricultura.
"A umidade da floresta permanece na borda, onde pode ser feita a agricultura. Podemos criar condições de produção de banana, cupuaçu, açaí e pupunha", afirmou. "Penso numa ética para o futuro."
Para Claudia Azevedo-Ramos, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), ONG que criticou o PL do governo no início, a proposta de concessões foi amplamente debatida e hoje inclui o acesso de comunidades e movimentos sociais às florestas públicas. "A proposta acabou saindo fortalecida", afirma.
Frase
Muitos governantes tiveram, ao longo das últimas décadas, a possibilidade de ter idéias sobre o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Não o fizeram por ignorância

Aziz AB'Saber geógrafo

FSP, 09/11/2004, Dinheiro, p. B7

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