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Alemão cobra verba destinada a índios

Diário de Pernambuco-Recife-PE
01 de Ago de 2002

Deputado Wolfgang Kreissl-Doerfler disse que Governo brasileiro terá de explicar aplicação de
recursos

O Parlamento Europeu quer saber onde e como o Governo brasileiro aplicou os R$ 60 milhões
de euros - o equivalente a R$ 192.811.200,00 - destinados à demarcação de terras indígenas
nos últimos seis anos. O anúncio foi feito ontem pelo deputado Wolfgang Kreissl-Doerfler, do
Partido Social Democrata da Alemanha, que esteve em Pernambuco e visitou, na última
quinta-feira, a aldeia dos Xukuru, em Pesqueira. O parlamentar veio ao Estado para
acompanhar de perto os procedimentos tomados pelas autoridades do País, que estão ligadas
às questões indígenas, e ontem conversou com a Imprensa no Centro Luiz Freire, em Olinda.
Segundo ele, somente 30% dos terrenos desapropriados foram demarcados em todo o Brasil.
Na região de Pesqueira, apenas 21 donos de fazenda foram indenizados até agora, o que não
chega a corresponder a 10% do total das cerca de 300 propriedades existentes na área.
O deputado informou que enviará ofícios para a Presidência da República, Procuradoria Geral
da República, governos dos estados e para a Funai. Ele teme que o problema possa interferir
no acordo global com os países do Mercosul, que está sendo negociado com a comunidade
européia. "Um dos pontos principais da pauta de discussão é a questão dos Direitos Humanos.
As instituições ofereceram muita assistência financeira e não estão tendo um retorno com
isso. Estamos bastante preocupados com a lentidão dos processos de demarcação de terras".

O parlamentar disse ainda que o povo europeu também questiona como são produzidos os
produtos exportados e vendidos no Exterior. "Não queremos comprar produtos originados do
sangue da população", ressaltou. O deputado não descartou a possibilidade de as entidades
alemãs suspenderem o envio da verba ao Brasil. "Se verificarmos que esses recursos não
foram investidos corretamente, com certeza vamos cancelar o convênio", advertiu. Segundo
ele, o dinheiro enviado pela Alemanha e comunidade Européia deve ser aplicado em projetos
na área de saúde, educação e habitação nas áreas indígenas.
O vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário, Saulo Feitosa, aproveitou para
denunciar que a maioria do dinheiro europeu foi aplicado em terras localizadas no Estado do
Amazonas. "O que houve foi um favorecimento às empresas de grande porte como
mineradoras e madeireiras, que atuam na região do Amazonas", disparou.
O deputado Wolfgang afirmou também estar muito preocupado com a criminalização das
lideranças Xukuru. Hoje, o parlamentar tem encontro marcado com o superintendente da
Polícia Federal, Wilson Damázio, onde vai conversar sobre as investigações que envolvem
integrantes da tribo. Na semana passada, os Xukuru se desentenderam por conta de uma
cisão na tribo. A maioria dos 8,2 mil índios permanece sob o comando do cacique Marcos
Luidson, o Marquinhos, filho do cacique Chicão, assassinado há quatro anos. O outro grupo é
liderado por Expedito Alves Cabral, o Biá, secretário de Assuntos Indígenas da Prefeitura do
município que é acusado de ter ligações com fazendeiros da região.
Comentários dos leitores
"Gratulieren Herr Kreissl-Doefler! Temos que pressionar mesmo. Talvez assim o seu dinheiro
será melhor usado em benefício das pessoas certas: Os nativos brasileiros. Os verdadeiros

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