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Aldeia sofre com falta de médicos

OESP, Cidades, p. C8
14 de Out de 2005

Aldeia sofre com falta de médicos
Em dois dias, duas grávidas perderam bebês e criança morreu na zona norte

Camilla Haddad

As 86 famílias de índios guaranis da Aldeia Itu, no Jaraguá, zona norte, estão sem atendimento médico há um mês, desde que o posto de saúde da região ficou sem profissionais. Nesta semana, uma criança morreu e duas grávidas perderam seus bebês, aos oito e nove meses de gestação. O índio Verá Tocumbó, de 57 anos, um dos líderes da aldeia, conta que o posto funcionava com um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem Há um mês guaranis são atendidos por uma enfermeira da Funasa e auxiliar voluntária e um dentista conveniados com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mas, segundo ele, o atendimento parou porque a Unifesp alegou não ter recebido a verba da Prefeitura. 'O que restou foi uma enfermeira da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e uma auxiliar de enfermagem voluntária.' Mas, diz Tocumbó, elas não podem receitar medicamentos nem fazer diagnósticos. Segundo ele, foi por falta de atendimento que as duas mulheres perderam seus bebês, no domingo e na segunda-feira. Joana Fernandes, de 30 anos, e Cleusa Martins, de 23, se sentiram mal e, como não havia médico na aldeia, seguiram para o pronto-socorro de Pirituba. 'Quando chegaram ao PS, os bebês já estavam mortos na barriga.' Também na segunda-feira, Manoela Gabriel, de 1 ano e 8 meses, morreu. Com falta de ar e dores no peito, ela foi levada para o mesmo PS, onde foi medicada e liberada para retornar à aldeia. No dia seguinte, Manoela voltou a ser internada e morreu. A causa da morte, segundo boletim médico, foi broncopneumonia. Tocumbó acredita que se houvesse um médico na aldeia a menina poderia ter sobrevivido.
PRECONCEITO
Os guaranis dizem que são vítimas de preconceito por parte dos médicos. 'Se a gente vai ao PS Pirituba, os médicos olham feio, têm preconceito de atender porque somos índios', diz Poty Poran, grávida de cinco meses. Ela diz que, para passar por consulta, é preciso andar 2,5 quilômetros até o ponto de ônibus e seguir ao PS Pirituba. 'Anteontem, uma grávida acabou dando à luz aqui mesmo porque não conseguiu chegar ao hospital.' A índia Ywa Poty Miran afirma que a aldeia só está lutando pelos 'direitos da saúde indígena'. 'Não é favor.' Atualmente, a aldeia é dividida em partes de baixo e de cima e cortada pela Estrada Turística do Jaraguá.

Prefeitura nega e Unifesp confirma suspensão de convênio
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o convênio de atendimento à Aldeia Itu não foi rescindido e será mantido. A secretaria e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) devem se reunir para discutiras medidas necessárias. Já a Unifesp admitiu que o convênio foi interrompido, mas confirmou que vai se reunir com a secretaria. A Funasa informou que o atendimento não foi suspenso e que no posto médico da aldeia existe um automóvel, para casos de remoção a hospitais da cidade, uma enfermeira, para atendimento emergencial, além de um médico voluntário. O diretor técnico do Pronto-Socorro Pirituba, Renato Tardelli, disse que os índios não são discriminados na unidade.

OESP, 14/10/2005, Cidades, p. C8.

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