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Aldeia de Japorã campeã de suicídios

Correio do Estado-Campo Grande-MS
20 de Jan de 2002

Entre os índios, uma parte da população, de zero a 10 anos, não existe oficialmente. São crianças que não possuem registro de nascimento

Localizada no município de Japorã, a 300 quilômetros de Dourados, fronteira com o Paraguai, a aldeia indígena Porto Lindo é a que mais apresentou suicídios no ano passado e tem uma parte da população, de zero a 10 anos, que não existe. São crianças que até agora não possuem registro de nascimento. Os índios estão abandonados pela Funai, cujo funcionário há vários meses não aparece no posto por falta de material para o trabalho.

A Aldeia Porto Lindo, com uma área total de 1.640 metros quadrados, tem hoje cerca de 670 famílias de guaranis, e caiuás, mais de 3 mil pessoas. O acesso é bastante difícil, pois são mais de 30 quilômetros de estrada de chão que separam a BR-163 da aldeia. A dificuldade no acesso a Japorã, município ao qual pertence, é grande pela distância, mais de 20 quilômetros, e os índios acabam se deslocando para um município mais próximo, Iguatemi, em qualquer necessidade.

O capitão Agostinho Riquelme considera, em termos de alimentação, uma aldeia até certo ponto privilegiada. Para ele, não se pode considerar a vida daqueles índios como de miséria. Segundo ele, com a ajuda do Governo, através da cesta básica e das pequenas culturas, a aldeia está sobrevivendo. O que ele reclamou é com relação ao descaso da Funai, que não dá nenhuma assistência aos índios.

Sem documento

Agostinho Riquelme denunciou que um grande número de crianças não existem, pois não possuem registro de nascimento. Dez alunos, segundo o capitão, fizeram o primeiro ano do ensino fundamental, mas não puderam passar para a série seguinte por falta do documento. O único funcionário da Funai é Lúcio Vilhalva. De acordo com palavras do capitão, ele praticamente abandonou o posto do órgão e mora em Iguatemi por falta de material de trabalho. Nenhum índio pode obter qualquer documento que dependa da Funai.

Riquelme falou sobre o aumento nos casos de suicídio em relação a outras aldeias e atribuiu uma boa parte à falta de apoio dos órgãos competentes. O capitão explicou que o jovem índio tem certas necessidades, assim como o branco, e no entanto, não pode desfrutar. A cultura indígena mudou muito dado a proximidade com o branco, sem que estivessem preparados para isso. Hoje o lazer e o esporte são as coisas mais pedidas pelos jovens e não são incentivados a isso.

Para o capitão, a caça e pesca são palavras que não podem ser até mesmo pronunciadas. Hoje é crime caçar ou pescar na piracema e o índio fica sem saber o que fazer, pois tanto na caça como na pesca, ele tira o sustento para sua família. Impedido dessa prática e sem condições de desenvolver outras atividades, ele fica sem opção e passa a perder o gosto pela vida chegando ao suicídio.

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