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ALCOOLISMO AUMENTA DRAMA DE ÍNDIOS NO PARANÁ

Gazeta do Povo-Curitiba-PR
Autor: Ricardo Verdum
28 de Dez de 2003

Édson Quedes cumpre pena de seis anos por roubo, na Penitenciária Industrial de Guarapuava. Ariston da Silva morreu atropelado. Ademir Mendes foi degolado. A relação entre esses três casos, todos envolvendo índios que moram no Paraná, está no consumo de álcool.

Édson, segundo conta, roubou depois de beber em "má companhia", Ariston estava bêbado quando foi atropelado e Ademir bebeu com seu assassino, até duas horas antes de ser morto.

A incidência do alcoolismo entre os indígenas é menor do que entre os homens brancos, mas as oportunidades para a recuperação do índio são menores. "Não há uma política de medidas estruturais para combater essa mazela entre os índios. O alcoolismo é uma doença de branco e deve ser tratada nos moldes do branco", afirma o assessor para assuntos indígenas do governo do Paraná, Edívio Battisteli.

Na maior aldeia do estado, Rio das Cobras, em Novas Laranjeiras (Centro-Oeste), o número de atropelamentos e mortes de índios devido ao consumo exagerado de álcool vem aumentando ano a ano, afirma o cacique Neuli Olíbio.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o trecho da aldeia é um dos mais perigosos da BR-277, devido à presença dos caingangues e guaranis, que usam a rodovia como vitrine para vender aos motoristas os artesanatos que produzem.

Somente este ano, cinco mortes ocorridas na região teriam relação com casos de embriaguez. A polícia informa que é comum encontrar índios alcoolizados na região, o que requer cuidado dobrado dos motoristas que trafegam pela rodovia.

O consumo freqüente de destilados também foi responsável pela morte de parte da população da aldeia guarani de Palmeirinha, em Chopinzinho (Centro Sul). "Aos poucos, os que bebiam com freqüência foram morrendo atropelados, em brigas, tudo que envolve bebida alcoólica", diz o presidente do Instituto Guarani, Nelson Caraí Ribeiro.

O guarani estima que 30% dos 550 índios que vivem na aldeia bebem regularmente. Destes, cerca de 10% são adolescentes, segundo Ribeiro. É nesta faixa etária que o problema vem preocupando mais as lideranças em Palmeirinha. A curiosidade típica da idade e a facilidade de beber longe da aldeia atraem os mais jovens "Eles ficam violentos, batem nos pais e aqueles que são casados agridem as esposas", diz Ribeiro.

Cladestino

Segundo Batistteli, casos mais graves acontecem nas regiões mais próximas das cidades. "A maioria dos estabelecimentos não respeitam a legislação que proíbe a venda de bebida alcoólica aos índios". A lei federal 6.001/73 vem sendo ignorada pelos comerciantes instalados nas proximidades das aldeias.

O aperto na fiscalização das polícias Federal e Militar criou o comércio clandestino dentro das aldeias. O esquema foi descoberto recentemente e envolvia índios e moradores de Nova Laranjeiras. Os brancos vendiam o produto, que era revendido na aldeia pelos próprios indígenas. Segundo o cacique, o esquema acabou, mas a entrada de bebida alcoólica continua de outra forma. Olíbio conta que os índios usam os brancos como intermediários para comprar o produto destilado em bares e mercearias de Nova Laranjeiras. Eles pagam até três vezes mais o valor do litro de aguardente para o intermediário.

Na aldeia Guarani da Cotinga, em Paranaguá, as lideranças já cogitaram a hipótese de proibir a saída dos índios para a cidade na tentativa de dificultar o acesso à bebida.

De acordo com o índio Jair Mariano Rodrigues, presidente da associação Guarani do Litoral, os índios que chegam embriagados na aldeia relatam que ganharam a bebida de amigos "não-índios" de Paranaguá. "Comida, que é o que a gente precisa, eles (homens brancos) não dão, mas bebida eles dão", diz

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