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Alckmin diz ter apoio de Cabral, mas o governador do rio nega

O Globo, País, p. 4
20 de Mar de 2014

Alckmin diz ter apoio de Cabral, mas o governador do rio nega
Paulista diz que não haverá prejuízos; rio pede parecer técnico ao Inea
Silvia Amorim
silvia.amorim@sp.oglobo.com.br

Os governadores do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deram versões contraditórias ontem a respeito das negociações políticas entre eles para o uso da água do Rio Paraíba do Sul. Em entrevista coletiva, Alckmin disse que conversou, por telefone, com Cabral e com o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), e que conseguiu convencer os dois da necessidade da medida.
- O governador de Minas foi muito favorável. O governador do Rio entendeu e disse que estamos conversados. E que as equipes técnicas de São Paulo e Rio agora conversam e, qualquer coisa, voltamos a nos falar. Você não vai fazer retirada de água a não ser em situação excepcional e vai acumular mais água sempre - disse Alckmin.
Perguntado pelo GLOBO Se ele havia convencido Cabral de que a proposta é vantajosa para os dois estados, Alckmin respondeu:
-Mas é claro.
Logo em seguida, porém, Cabral negou, através da assessoria de imprensa, que já tenha dado seu apoio para a proposta de Alckmin de captar água no Rio Paraíba do Sul. Em nota, a assessoria do governador esclareceu que Cabral solicitou um parecer ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e ao secretário do Ambiente, Indio da Costa, "uma vez que se trata de demanda que exige análise técnica".
- Mas é claro.
Logo em seguida, porém, Cabral negou, através da assessoria de imprensa, que já tenha dado seu apoio para a proposta de Alckmin de captar água no Rio Paraíba do Sul. Em nota, a assessoria do governador esclareceu que Cabral solicitou um parecer ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e ao secretário do Ambiente, Indio da Costa, "uma vez que se trata de demanda que exige análise técnica".
Mais de 8 milhões de habitantes são abastecidos pelo Rio Paraíba do Sul no Estado do Rio - 70% deles estão na capital. O Rio capta cerca de 119 metros cúbicos por segundo de água do rio. São Paulo quer captar 5 metro cúbicos por segundo - somente em situações de crise de abastecimento.
Após apresentar os números, Alckmin defendeu ontem não haver motivo para preocupação dos municípios fluminenses nem da região do Vale do Paraíba, em São Paulo. Segundo ele, a história do sistema Cantareira, que abastece 55% da Região Metropolitana e hoje está com somente 14,7% da sua capacidade, mostraria que poucas vezes a captação de água do Paraíba do Sul seria necessária para socorrer a represa paulista. Além disso, segundo Alckmin, a retirada de água teria regras rígidas:
- Eu verifiquei que, nos últimos seis anos do sistema Cantareira, você passaria água (do Rio Paraíba do Sul) para ele em apenas duas oportunidades, porque ele raramente diminuiu de 35%, e essa seria a regra operacional. O que é inteligente é uma regra operacional. Se aqui está faltando e ali sobrando, passa daqui pra lá e vice-versa. Se está gerando dúvidas e preocupações, cabe a nós explicar.
Apesar da situação crítica de abastecimento este ano na Região Metropolitana paulista, Alckmin destacou que a solução usando o Rio Paraíba do Sul seria apenas para enfrentar problemas de desabastecimento a partir de 2015. A obra levaria 18 meses.
- Não tem nada a ver com o problema de agora. Trata-se de uma obra estruturante que traria segurança hídrica ao estado. Ela estava prevista para ser feita em 2020, mas decidimos antecipar - afirmou, para em seguida voltar a descartar a adoção de um racionamento em São Paulo este ano.

SP quer gastar R$ 500 milhões para abastecer o Cantareira
Água do Rio Paraíba do Sul poderia ser retirada já em 2015. Projeto existe desde 2008

Tiago Dantas
tiago.dantas@sp.oglobo.com.br

O governo do estado de São Paulo pretende gastar R$ 500 milhões para fazer a transposição do Rio Paraíba do Sul e, assim, abastecer o sistema Cantareira, atualmente com apenas 14,7% da sua capacidade. A obra ficaria pronta no segundo semestre de 2015, de acordo com o governador Geraldo Alckmin. Especialistas em engenharia hidráulica, porém, acreditam que os serviços levariam entre dois e quatro anos.
O projeto prevê retirar uma vazão de cinco metros cúbicos do Rio Paraíba do Sul, o que equivale a 15% da atual vazão do sistema Cantareira para a Região Metropolitana, de até 32 metros cúbicos por segundo. O Cantareira é responsável pelo abastecimento de 8,1 milhões de moradores de 11 municípios da Grande São Paulo, incluindo parte da capital paulista.
Para poder captar a água, o governo terá que construir um canal de até 30 quilômetros e uma estação elevatória no município de Igaratá, onde fica a represa do Rio Jaguari, um dos principais afluentes do Paraíba do Sul. Este canal levaria água do Jaguari até a Represa do Atibainha, um dos seis reservatórios que compõem o sistema Cantareira.
- Não é um trabalho simples. É um serviço de engenharia que deve demorar pelo menos dois anos - afirma o professor de engenharia hidráulica do Centro Universitário da FEI, Jorge Giroldo.
Buscar água no Rio Paraíba do Sul já era planejado pelo governo desde 2008, quando começou a ser feito um estudo sobre soluções para o abastecimento de água nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas, além do litoral. A previsão, no entanto, era começar as obras em 2028.
Alckmin afirmou que a água do Rio Paraíba do Sul seria utilizada apenas em situações críticas, quando o nível do sistema Cantareira estiver abaixo de 35%. Na última década, uma situação como essa aconteceu três vezes: entre novembro de 2003 e janeiro de 2005; entre setembro de 2007 e janeiro de 2008; e desde novembro de 2013.
Quando o sistema Cantareira estiver cheio, a água será bombeada de volta para o Paraíba do Sul. O Alckmin afirmou que a água do Rio Paraíba do Sul seria utilizada apenas em situações críticas, quando o nível do sistema Cantareira estiver abaixo de 35%. Na última década, uma situação como essa aconteceu três vezes: entre novembro de 2003 e janeiro de 2005; entre setembro de 2007 e janeiro de 2008; e desde novembro de 2013.
Quando o sistema Cantareira estiver cheio, a água será bombeada de volta para o Paraíba do Sul. O argumento, porém, não convence o presidente da Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Agevap), Danilo Vieira. Segundo ele, o governo já havia apresentado o projeto para o comitê da bacia do rio, que engloba cidades de Minas Gerais e Rio de Janeiro. O assunto, porém, não foi discutido pelo grupo.
- Veremos como será na prática. São Paulo está com o problema hoje. Como vai ser em 10 anos? - perguntou Vieira.

O Globo, 20/03/2014, País, p. 4

http://oglobo.globo.com/pais/cabral-nega-que-ja-tenha-dado-apoio-propos…

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