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Ainda indefinido plano para novas usinas nucleares no país

Valor Econômico, Brasil, p. A2
11 de Mar de 2016

Ainda indefinido plano para novas usinas nucleares no país

Rodrigo Polito

Cinco anos após o desastre na central nuclear de Fukushima, no Japão, atingida por um tsunami, o mundo dá sinais de ter superado o incidente e retomado a expansão da energia nuclear, que deverá ganhar novo impulso com os compromissos firmados no Acordo de Paris, em 2015, para limitar o aumento da temperatura do planeta.
De acordo com dados da Associação Mundial Nuclear (WNA, na sigla em inglês), 440 novos reatores nucleares estão atualmente em construção, e outros 510 em projeto, em todo o mundo. No Brasil, porém, o governo ainda não definiu os próximos projetos. A única usina nuclear em construção, Angra 3, está com as obras paradas desde setembro do ano passado, por falta de pagamentos e investigação de irregularidades. A obra está prevista para ser concluída em 2021.
O problema, alerta o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Antonio Müller, é que o custo da energia nuclear aumentou nos últimos cinco anos, devido às medidas de segurança exigidas pós-Fukushima, e viabilidade econômica dos projetos exige escala e um programa contínuo.
Segundo ele, o custo de implantação da energia nuclear na Coreia do Sul, por exemplo, é de US$ 1,7 mil por quilowatt instalado. Em um país que ainda não detém a tecnologia, esse custo pode chegar a US$ 5 mil por quilowatt.
Quase todos os países que haviam paralisado seus programas de expansão de energia nuclear, após o acidente em Fukushima, retomaram os planos de construir usinas, com exceção da Alemanha, que mantém a decisão de desativar todos os reatores até 2023.
Segundo Müller, entre os países que voltaram a investir no setor, estão Estados Unidos, Reino Unido e o próprio Japão, devido à necessidade de aumentar a oferta de energia, sem contribuir para o aquecimento global. Segundo ele, outros países, como Turquia e Emirados Árabes Unidos, decidiram instalar os primeiros reatores.
No Brasil, a última informação oficial sobre a expansão de energia nuclear é a do Plano Nacional de Energia (PNE) 2030, lançado em 2007 e que deveria ser atualizado a cada cinco anos. O documento prevê quatro novas nucleares, além de Angra 3, até o fim da próxima década. Não há, porém, qualquer sinalização sobre a construção desses projetos, que levam cerca de dez anos, desde a tomada de decisão até o início da operação.
Em 2008, o então ministro de Minas e Energia Edison Lobão, afirmou, no local onde seria iniciada a construção de Angra 3, que o Brasil deveria construir de 50 a 60 usinas nucleares até 2050. A declaração, porém, não se apoiava em nenhum documento oficial. Mais modesto, o atual ministro, Eduardo Braga, sinalizou no ano passado que deverão ser construídas 12 novas usinas até 2050, mas o plano do governo para esse período ainda não foi lançado.
Para o diretor do Comitê Brasileiro do Conselho Mundial de Energia e presidente do Conselho de Energia da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Sergio Malta, será necessário abrir o setor para a iniciativa privada para que sejam construídas novas usinas nucleares no país. "O Brasil vai ter que colocar novas nucleares na matriz até 2050. E é preciso mudar a Constituição e permitir que agentes privados possam construir e operar essas usinas. O modelo estatal não está apto [para fazer os investimentos]", disse.
Com relação a Angra 3, segundo especialistas, a interrupção das obras cria risco para a integridade das estruturas. Além disso, a paralisação eleva o custo de manutenção dos componentes. Antes da decisão de retomar a implantação de Angra 3, em 2007, a Eletronuclear, dona do empreendimento, desembolsava US$ 20 milhões por ano em manutenção e armazenamento dos equipamentos adquiridos no passado. Estima-se que esse custo hoje seja ainda maior.
Segundo o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, Nivalde de Castro, a interrupção de Angra 3 é um problema político, sem solução à vista, corroborado pela queda da demanda, devido à crise econômica.

Valor Econômico, 11/03/2016, Brasil, p. A2

http://www.valor.com.br/brasil/4476244/ainda-indefinido-plano-para-nova…

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