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Águas do Ribeira poderão suprir a capital

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p. A8
21 de Nov de 2003

Águas do Ribeira poderão suprir a capital

A solução para o problema da falta de água na Grande São Paulo pode estar no Vale do Ribeira. Será apresentado hoje, em São Paulo, o projeto Serra do Mar, que prevê o aproveitamento das águas da bacia do rio Ribeira de Iguape, no sul do estado, para o abastecimento na região metropolitana da capital paulista e também para a geração de energia elétrica. A iniciativa partiu de estudos desenvolvidos pela Isoterma, empresa do setor de construção, e encerrará o seminário "Abastecimento de Água da Macro-Região de São Paulo: Perspectivas a curto, médio e longo prazo", que teve início ontem, no Instituto de Engenharia (IE). O evento teve como objetivo traçar um panorama dos problemas hídricos do estado e suscitar soluções sustentáveis a longo prazo, que serão encaminhadas ao governador Geraldo Alckmin no início do próximo mês de dezembro.

De acordo com o engenheiro Fábio de Gennaro Castro, membro do Comitê Brasileiro de Barragens e contratado para prestar consultoria técnica à obra, o projeto Serra do Mar é inédito em sua concepção e pode complementar o sistema de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo por um período superior a 30 anos. O primeiro passo da empreitada seria a construção de uma barragem que aproveitaria as águas do rio Juquiá, que seriam transportadas por meio de túneis até uma usina subterrânea. Dali, seriam bombeadas e escoadas por outro sistema de túneis subterrâneos até um reservatório nas proximidades de Tapiraí. "A concepção de obra subterrânea traz vantagens no sentido de minimizar o impacto ambiental na região, que possui áreas de preservação ambiental (APAs), além de não interferir em barragens e usinas privadas já existentes", explica Gennaro Castro.

Desenvolvimento do Vale

O projeto Serra do Mar deve ainda fomentar o desenvolvimento econômico na região do Vale do Ribeira, conhecida como uma das mais carentes do estado. O empreendimento deve gerar empregos diretos em seu período de implantação, com duração prevista de cinco a seis anos, além de arrecadar ICMS em função da produção de água e energia elétrica. "Por estar localizado entre as metrópoles São Paulo e Curitiba, o projeto pode ainda incentivar a instalação de um parque industrial no Vale do Ribeira, alavancando um novo eixo de desenvolvimento que pode contribuir para o controle populacional nas duas metrópoles", afirma o engenheiro. As cidades ribeirinhas poderiam ainda obter receita de duas fontes: a cobrança de royalties pelos reservatórios e a compensação por parte do governo, pelo uso da água.

As bacias e sub-bacias hidrográficas do Vale do Ribeira ainda mantém considerável grau de preservação ambiental, devido à existência das maiores reservas florestais do estado, que asseguram o ciclo natural de produção da água, o que não acontece nos grandes centros urbanos, com alto grau de impermeabilização. Os índices de precipitação são altos na região, que tem ainda o menor contingente populacional do estado, o que faz com que suas águas não apresentem índices expressivos de poluição.

Estresse hídrico

"Reverter as águas do Ribeira para a Grande São Paulo poderá ser a solução mais efetiva para os problemas de abastecimento atualmente enfrentados, pelos próximos 30 anos", diz Gennaro Castro. Em uma primeira etapa, seriam disponibilizados 40 m³ de água por segundo, o que permitiria o abastecimento das regiões metropolitanas de Campinas e Sorocaba. A solução traria um alívio para a bacia do Piracicaba-Capivari que, além de abastecer a região de Campinas, Jundiaí e Piracicaba, também exporta água para a Grande São Paulo, o que a coloca em situação de "estresse hídrico".

Em termos de geração de energia elétrica, os estudos preliminares do projeto Serra do Mar prevêem a produção inicial de 1.500 MW de energia, que atenderiam a região sudeste em uma situação de emergência por até três dias. Essa energia gerada poderia ser ainda vendida no mercado interno.

O custo estimado da estrutura e operação que levará as águas do Ribeira até a Grande São Paulo é da ordem de US$ 2 bilhões. Em setembro de 2002, o projeto foi levado a Washington e apresentado aos técnicos do Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). De acordo com Gennaro Castro, o projeto não terá dificuldades de conseguir financiamento das instituições internacionais. Para o consultor, sua viabilização depende da aceitação por parte dos especialistas que estarão presentes no seminário, e de acertos com o governo estadual. "Uma vez conhecidas as vantagens desse projeto, caberá ao governo definir sua participação societária. Nosso objetivo é colocar água à venda em atacado, colaborando com o sistema de abastecimento", explica.

kicker: Obras subterrâneas minimizariam o impacto ambiental na região

GM, 21-23/11/2003, Saneamento & Meio Ambiente, p. A8

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