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Água para São Paulo

OESP, Notas e Informações, p. A3
15 de Out de 2006

Água para São Paulo

O abastecimento de água na Grande São Paulo não está agora no seu limite. Sempre esteve. Em primeiro lugar, porque a disponibilidade hídrica da região é ínfima. Chega a 201 metros cúbicos de água por habitante por ano, o que significa menos de 10% do índice de referência adotado pela Organização Mundial de Saúde. Uma área é considerada auto-sustentável em recursos hídricos quando assegura mais de 2.500 metros cúbicos de água por ano para cada um de seus habitantes. Mais de 50% da água consumida por 18,5 milhões de moradores da Grande São Paulo é trazida de bacias cada vez mais distantes, com altos custos de construção e de energia.

Em segundo lugar, porque o consumo sempre foi excessivo e, além disso, permitiu-se a contaminação de rios e córregos. Por último, o crescimento desordenado e a falta de políticas públicas de meio ambiente e de planejamento urbano permitiram o adensamento de áreas de proteção de mananciais, comprometendo ainda mais a pequena capacidade local de fornecimento de água.

É, portanto, evidente que a solução para o risco permanente de racionamento sob o qual vive a população do quarto maior aglomerado urbano do mundo não está somente em obras de engenharia. É urgente adotar estratégias que privilegiem a economia e o uso racional da água.

Os investimentos anuais da Sabesp atingem R$ 1,2 bilhão, grande parte para atender às necessidades da região metropolitana. Ainda assim, é pouco. Recentemente, a empresa desenvolveu o primeiro projeto de Parceria Público-Privada (PPP) voltado para o setor de saneamento em São Paulo. Seu objetivo é aprimorar e ampliar o Sistema Produtor Alto Tietê, que atualmente produz 10 metros cúbicos de água por segundo, abastecendo 15% da população da região metropolitana.

No curto prazo, a PPP permitirá investimentos na captação das Represas Paraitinga e Biritiba-Mirim, que integram o sistema Alto Tietê, e estão em fase de enchimento. A partir de 2008, as novas fontes de captação aumentarão de 5 mil litros por segundo a oferta. Como maior captação exige maior capacidade de tratamento e de transferência, serão feitos investimentos de R$ 270 milhões para ampliar a capacidade da Estação de Taiaçupeba, de 7 mil litros por segundo para 9 mil.

A captação de água do Alto Juquiá, no Vale do Ribeira, e a captação de água do Rio Pequeno, um dos formadores da Represa Billings, estão nos planos que a Sabesp pretende realizar até 2011. Com isso, aumentará em 12 mil litros por segundo a produção de água nos próximos cinco anos.
Mas o aumento do fornecimento, desacompanhado de um esforço para estimular a economia e o uso racional da água, não resolverá o problema do abastecimento da metrópole. Cada habitante da Grande São Paulo consome diariamente entre 170 e 180 litros de água. Especialistas consideram que 100 litros atenderiam às necessidades da população.

Se não houver uma redução substancial do consumo excessivo e do desperdício, o crescimento vegetativo da população e da atividade econômica, a ocupação desordenada do solo e as características do regime hidrológico local podem reduzir e até anular os resultados dos investimentos programados pela Sabesp.

Em 2004, a empresa fez uma campanha publicitária oferecendo desconto nas contas, pelo período de seis meses, aos consumidores que reduzissem o uso da água em pelo menos 20%. Mas as ações para reduzir o consumo e o desperdício devem ser permanentes.

Outra medida que pode economizar água é a utilização da água de reúso. A Sabesp construiu cinco estações de tratamento de água que poderia ser reutilizada, mas as empresas consumidoras pouco se interessam por esse tipo de produto.

O problema do abastecimento da Grande São Paulo não tem soluções simples. Mas elas são conhecidas: acabar com as ocupações irregulares das áreas de mananciais, reduzir drasticamente as fontes poluidoras, induzir o emprego na indústria e na agricultura da água de reúso. O que falta é coragem política para implementar essas medidas.

OESP, 15/10/2006, Notas e Informações, p. A3

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