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Água: crise e colapso em São Paulo

Revista Greenpeace - revistagreenpeace.org
Autor: WHATELY, Marussia
02 de Out de 2014

Água: crise e colapso em São Paulo

Reportagem: Luciano Dantas

Desde o início do ano os moradores de São Paulo têm ido dormir sem saber se haverá água pela manhã em suas casas. Por meio de diferentes fontes, reunimos informações para levantar as causas, consequências e soluções para a crise hídrica que atinge o Estado.
Omissão e descaso: a falta d'água era prevista
Marussia Whately, coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA) e uma das maiores especialistas em recursos hídricos de São Paulo, dá o seu diagnóstico. Assista:
Dias difíceis
Desde maio deste ano a Sabesp se utiliza da água proveniente do chamado volume morto do Sistema Cantareira, principal manancial abastecedor da Grande São Paulo, para nutrir a capital.
Para o professor Antonio Carlos Zuffo, da área de Hidrologia e Gestão de Recursos Ambientais da Unicamp, o prognóstico é de dias difíceis. Segundo ele, além de enfrentar a escassez, os paulistas terão de lidar com a impureza da pouca água do reservatório. "Os peixes já vêm sofrendo com a falta de oxigênio dos rios e represas, e isso tende a piorar. Com um volume menor de água para a diluição de impurezas, a saída será o tratamento com maiores quantidades de cloro, o que compromete a qualidade da água que abastece residências, a produção agropecuária e industrial do Estado", explica.
Zuffo acredita que a estiagem dure entre três e quatro décadas, e que a única saída para minimizar os prejuízos a curto-prazo é conscientizar a população. "A água economizada hoje será responsável pelo abastecimento de amanhã", diz. E garante: não há medida que consiga reverter esta situação em menos de cinco anos.
A seca vira arte
Na contramão do que pensa a maioria dos moradores do Estado, Marcelo Delduque, morador de Bragança Paulista, não enxerga com tanta estranheza a seca que toma conta da represa que passa por sua propriedade, a Fazenda da Serrinha, já que a barragem foi construída artificialmente na década de 1970 para compor o Sistema Cantareira.
"Quando nasci, a represa não existia. Acompanhei durante a infância o povoado sendo alagado por ela. Por isso, para mim não é estranho ver tudo seco novamente", conta.
É na centenária fazenda da família que há 13 anos acontece o Festival de Arte da Serrinha, produzido por Marcelo e seu irmão, Fábio Delduque, curador-responsável do evento. O festival propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. É lá que artistas, estilistas, apaixonados e curiosos pela arte se embrenham, a cada ano, em produções artísticas livres e muito criativas.
Hoje a paisagem no entorno da fazenda é completamente diferente de quando a represa comportava seu nível normal de água. Assim, o que Marcelo pode acompanhar é o movimento contrário do qual vivenciou quando criança: o resgate das condições naturais do local, a retomada das raízes da Serrinha.
Curiosamente, o tema do Festival de 2014 foi justamente "Raízes", e a paisagem do chão de barro rachado, que antes dava lugar à represa, tornou-se protagonista do evento.
Morador do Mandaqui, zona norte da cidade de São Paulo, o estudante de jornalismo João Tiago Soares, 32, se queixa da falta de transparência praticada pela Sabesp. "Inacreditável. Até a Copa, tudo correu bem. Dias depois da final do campeonato, sem aviso prévio, o racionamento começou" - relata.
João afirma que no início faltava água por quatro horas durante a tarde e que depois foi faltando água cada vez mais tarde e por mais tempo. "Fechavam os reservatórios por volta das 22h, quando as pessoas se preparavam para dormir. Só abriam lá pelas 04h, quando estavam prestes a acordar", conta. João diz que sempre que ele ou algum vizinho telefonam para a Sabesp, a resposta é a mesma: estão realizando uma "adequação" no sistema hídrico.
No último dia nove de setembro, a relatora da ONU (Organização das Nações Unidas), Catarina de Albuquerque, declarou que a crise da água não pode ser justificada apenas pela estiagem: cabe ao Estado prever e prevenir a população de circunstâncias como esta. Diante da crise e em plena campanha por reeleição, o governador Geraldo Alckmin continua negando a interrupção do abastecimento - praticada há pelo menos dois meses - e a necessidade de racionamento em 2014. Veremos o que acontece depois das eleições.

Revista Greenpeace, 02/10/2014

http://revistagreenpeace.org/segunda-materia/agua-crise-e-colapso-em-sa…

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