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Agronegócio atrai R$ 1,5 bi ao oeste da BA

FSP, Dinheiro, p. B14
15 de Jun de 2008

Agronegócio atrai R$ 1,5 bi ao oeste da BA
Empresas estrangeiras já têm 20% da área plantada e disputam mercado com grandes grupos produtores nacionais
Investidores nacionais e estrangeiros já ocupam 1,7 mi de hectares com o plantio de grãos na região; outros 5 mi são disputados

Mauro Zafalon
Enviado especial ao Oeste da Bahia

Demanda mundial aquecida, disponibilidade de terra e boas condições de produção colocaram, em definitivo, o oeste baiano na mira de investidores nacionais e estrangeiros.
Na semana passada, a SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de grãos do Brasil, fincou ainda mais os pés na região e vai plantar 75 mil hectares.
Ao mesmo tempo, circulava pela região um grupo de irlandeses em busca de bons negócios. Eles foram precedidos, dias antes, por 50 representantes de bancos estrangeiros. A presença de estrangeiros, responsáveis por 20% da área plantada na região, é constante.
A região, que há duas décadas tinha apenas 180 mil hectares de terra destinados à produção de grãos, soma agora 1,7 milhão de hectares. E deve crescer ainda mais. As previsões indicam área ainda disponível de 5 milhões de hectares para grãos.
O avanço da agricultura atrai empresas, que estão fazendo investimentos de R$ 1,5 bilhão. Esses investimentos vão desde o processamento de matéria-prima à produção de energia proveniente de biomassa. O agronegócio dá impulso à economia e já é responsável pelo movimento de R$ 5 bilhões por ano -o dobro de há três anos.
A região atrai, ainda, a atenção de bancos estrangeiros, que financiam os produtores dentro da porteira. Esses produtores são escolhidos pelos próprios bancos, que garantem crédito mais acessível aos agricultores de menor risco.
A produção de grãos na região exige tecnologia e capital. Grande parte do plantio é feita por meio de irrigação e a montagem de um pivô custa cerca de R$ 400 mil. Se for preciso perfurar um poço artesiano, os investimentos podem somar outros R$ 400 mil. É uma produção bastante concentrada.
Embora ausente da região, João Lopes Araújo, produtor de café, afirma que chuvas bem distribuídas durante o ano e áreas mecanizáveis são os pontos altos.
A recente Bahia Farm Show, realizada em Luís Eduardo Magalhães (LEM), mostrou a força do agronegócio, quando houve volume recorde de vendas de máquinas -os negócios somaram R$ 250 milhões.
Apesar da presença de grandes grupos, o secretário de Agricultura de LEM, Eduardo Yamashita, diz que o município abriga um dos maiores assentamentos do país, parceria entre prefeitura e Incra -são 350 famílias em 12,5 mil hectares.

Diversidade
Humberto Santa Cruz, presidente da Aiba (associação de produtores), diz que uma das vantagens da região é a diversidade de culturas -café, algodão, soja, milho e frutas. A cana deve chegar em breve. "Primeiro estamos desenvolvendo as variedades adaptáveis à região; depois virão as usinas."
A diversidade atrai as indústrias. Décio Alves Barreto Jr., presidente da Icofort, que está montando uma unidade no Centro Industrial do Cerrado de LEM, diz que o potencial da região é crescente. Por isso, a empresa optou por estar mais perto dessas fontes produtoras. "Com isso, diminuímos nossos custos e ficamos mais perto dos mercados de Tocantins, Goiás e Minas", acrescenta.
Essa diversidade encantou os irlandeses. Após visitar outras regiões no país, eles optaram pelo oeste baiano. Preços elevados de terras na Europa, ausência de novas áreas para expansão do plantio e subsídios menores por lá estão trazendo os europeus para o Brasil, avalia Peter O'Neill, da Links Between Brazil & Ireland.
Apesar desses atrativos da região, Walter Horita, um dos principais produtores de algodão do país, diz que "o agricultor tem de saber produzir". Segundo ele, "não existe formato de mercado que compense a incompetência na produção".
Mas não basta ser bom só dentro da porteira porque as relações de mercado estão mudando. Um dos focos de preocupação são os fundos especulativos que fizeram com que as Bolsas deixem de ser parâmetro para vendas futuras.
O jornalista Mauro Zafalon viajou a convite da Aiba.

Produtores querem industrialização na região

Do enviado especial

Os produtores do oeste baiano julgam que a primeira fase, a de produção de grãos, está bem encaminhada na região. Agora, querem partir para a segunda: a da industrialização.
"Não queremos mais mandar nossos produtos para fora", diz Humberto Santa Cruz, presidente da Aiba (associação de produtores da região).
A industrialização abre o leque de opções de venda e os produtores não ficam apenas nas mãos das tradings. "A concorrência aumenta e melhora a remuneração", diz Santa Cruz.
Para efetivar essa industrialização, foi criado o Centro Industrial do Cerrado, com 500 hectares, em Luís Eduardo Magalhães (LEM). Entre as empresas que estarão nesse centro está a pernambucana Mauricéa, que constrói um frigorífico de aves e uma indústria de ração; na industrialização de milho para consumo humano estarão a Coringa e a São Braz.
Outro grupo que passará a operar em LEM é a processadora de grãos Bioclean Energy. Sérgio Iunis, presidente da empresa, diz que há bons motivos para estar na região. Além da crescente oferta de grãos, a área está longe da Amazônia e do Pantanal, regiões que estão na mira dos europeus.
Alguns produtores farão a industrialização na propriedade. É o caso da Multigrain, associada à norte-americana CHS e à japonesa Mitsui, que faz investimentos de R$ 700 milhões no município de São Desidério.
O grupo vai implantar uma unidade processadora de algodão, uma usina de biodiesel, outra de álcool e uma unidade de armazenagem.
A unidade de algodão está sendo construída em tempo recorde e será a maior da América Latina. Os investimentos atingem US$ 20 milhões só em equipamentos, diz Luiz Carlos Rodrigues, da Busa, empresa responsável pela montagem.
Já a Sykué Bioenergya, com área de 11 mil hectares em São Desidério, produzirá energia de capim-elefante. Na primeira fase, a empresa utilizará 5.000 hectares. Luiz Felipe D'Ávila, sócio-diretor, diz que 90% da produção já foi adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar.
No setor de café, a fazenda Santa Colomba implanta 6.000 hectares com irrigação. Inicialmente serão 15 pivôs, chegando a 60 no final do projeto.
A região deve receber, ainda, investimentos nas áreas têxtil e de leite, vindo de grupos portugueses, holandeses e dos Estados Unidos. (MZ)

FSP, 15/06/2008, Dinheiro, p. B14

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