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Agricultura orgânica no Brasil

CB, Economia, p. 8
Autor: ALBERTO JR., Carlos
14 de Mar de 2005

Agricultura orgânica no Brasil
Para comunidades carentes, sem acesso a crédito e a grandes mercados consumidores, a agricultura orgânica é um fator de inclusão social e de geração de renda.

por Carlos Alberto Jr.

Um número divulgado há poucos dias chama a atenção para um nicho de mercado interessante e com grande potencial de aproveitamento pelos produtores brasileiros. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil passou a ter, este ano, a segunda maior área de produção de agricultura orgânica do mundo. Os 6,5 milhões de hectares cultivados no país perdem apenas para a Austrália.
Estão sob o guarda-chuva da agricultura orgânica todos os produtos cultivados sem o uso de agroquímicos, sejam hortaliças, frutas, gado, ovos, mel ou camarão. Ainda não há dados consistentes sobre a movimentação financeira desse novo filão. Segundo a Agência de Promoção das Exportações (Apex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, a Biofach 2005, considerada a maior feira de produtos orgânicos do mundo, realizada na cidade alemã de Nuremberg, no mês passado, movimentou US$ 31,4 milhões. O dobro do valor negociado em 2004.
Quem optou pela agricultura orgânica no Brasil não tem do que reclamar. Ao utilizar o meio ambiente como ferramenta para melhorar o processo de produção, agricultores e pecuaristas conseguem lucros entre 30% e 40% superiores aos obtidos pela agricultura convencional. Quando chegam ao mercado, produtos cultivados com adubo natural e sem agrotóxicos têm comprador garantido. Em 2003, o segmento movimentou, no mercado interno, R$ 200 milhões. A produção veio, basicamente, de pequenas e médias propriedades.
Extrativismo
Até o ano passado, o Brasil ocupava o 34o lugar no ranking dos maiores produtores mundiais de produtos orgânicos. A mudança foi provocada pela inclusão do extrativismo sustentável no cálculo da área da agricultura orgânica brasileira. Entenda-se por extrativismo sustentável a colheita de produtos como castanha, açaí, pupunha, látex e frutas. Nesses casos, a interferência humana é mínima. A atividade é desenvolvida basicamente por comunidades que vivem em áreas de floresta, em especial na região amazônica. Dos 6,5 milhões de hectares de agricultura orgânica no país, 5,7 milhões são ocupados por esse tipo de atividade.
O governo brasileiro despertou para o potencial da agricultura orgânica há pouco tempo. Até 2003, não existia marco legal sobre o assunto. Naquele ano, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, encampou a idéia de criar o Programa de Desenvolvimento da Agricultura Orgânica (Pró-Orgânico). As iniciativas oficiais em andamento prevêem o desenvolvimento e a capacitação de cooperativas e o preparo de multiplicadores da experiência em instituições públicas e privadas que trabalhem com agricultores. Além de aprimorar a legislação sobre o assunto, o Pró-Orgânico vai atuar no fomento à produção, promoção comercial e venda de produtos orgânicos.
Para comunidades carentes, sem acesso a crédito e a grandes mercados consumidores, a agricultura orgânica é um achado. Com base na organização em cooperativas, cuja criação também será estimulada e apoiada pelo Pró-Orgânico, a atividade será fator de inclusão social e de geração de renda.
O caminho a ser percorrido para consolidar a atividade no país é longo. Nos próximos anos, este e futuros governos terão de lutar para obter o reconhecimento internacional ao sistema brasileiro de certificação e sua equivalência com os países importadores. É o princípio básico para garantir o acesso dos produtos brasileiros ao exterior.
O objetivo da certificação é garantir ao comprador que o item adquirido realmente possui as características indicadas. A conseqüência desse esforço será a criação de um selo de qualidade oficial para o produto orgânico brasileiro.
Transgênicos
Como ficam os produtos transgênicos nessa história? Alguns podem achar estranho o fato de o ministro Roberto Rodrigues, defensor de pesquisas e cultivo de produtos geneticamente modificados no país, abrir tanto espaço para a agricultura orgânica.
Nesse caso, vale a máxima: uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Transgênicos e orgânicos terão de conviver. Um não vai tomar o lugar do outro. O estímulo aos orgânicos é parte da política oficial de tentar incorporar ao mercado um segmento da população sem acesso a crédito e ao mercado consumidor nacional e internacional.
É claro que sempre haverá grandes produtores dispostos a investir no segmento de orgânicos. Ou por convicções filosóficas e religiosas, ou por questões meramente financeiras. No Mato Grosso, há fazendas com 700 hectares de soja orgânica plantada. O fato de os grãos não terem recebido uma gota de veneno aumenta o risco de prejuízo do agricultor. Mas ele o está assumindo o risco e será bem remunerado por isso. Seu produto tem saída garantida no mercado internacional por um preço até 40% superior ao do fazendeiro do outro lado da cerca que borrifou um agrotóxico básico sobre a lavoura.

CB, 14/03/2005, Economia, p. 8

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