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Agricultura e Meio Ambiente serão unificados

O Globo, País, p. 6
31 de Out de 2018

Agricultura e Meio Ambiente serão unificados
Bolsonaro havia recuado dessa proposta, depois de críticas de ambientalistas e preocupação do setor produtivo com o mercado internacional; 80% dos nomes para os ministérios estariam definidos

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) voltou atrás na sua promessa de rever a fusão dos ministérios da Agricultura e Meio Ambiente. Depois da proposta, que consta do plano de governo, ser criticada por ambientalistas e gerar preocupação no setor produtivo, o capitão da reserva havia sinalizado, na reta final da campanha, que recuaria.
Ontem, porém, o futuro ministro da Casa Civil, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), confirmou que será uma única pasta.
-Agricultura e Meio Ambiente estarão no mesmo ministério como desde o primeiro momento -disse Lorenzoni, após uma reunião de Bolsonaro com sua equipe na casa do empresário Paulo Marinho, na zona sul do Rio.
O parlamentar negou que houvesse recuo na promessa de fusão. Na semana passada, no entanto, o presidente eleito, em transmissão ao vivo pela internet, admitiu que havia "um certo atrito" sobre a união das pastas e disse que estava "pronto para negociar."
A proposta de fusão de Agricultura e Meio Ambiente foi incorporada por sugestão do presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nabhan Garcia, principal consultor de Bolsonaro para o agronegócio. Na semana passada, até ele admitiu recuar da ideia, após uma visita ao então candidato.
- Ninguém pode ter um governo duro, autoritário, sem flexibilidade, com arrogância. Se for o melhor para o Brasil, depois de eleito todos vão sentar e ele vai ouvir toda a sociedade. É inevitável a fusão de várias pastas. Porém, estamos ouvindo a todos. Se tiver que haver flexibilização, haverá -disse Nabhan, na ocasião.
REAÇÃO
A fusão havia sido reavaliada depois que setores do agronegócio e ambientalistas fizeram alertas sobre o impacto da proposta. Os primeiros reconhecem possíveis prejuízos em negociações internacionais, que levam em conta práticas ambientais dos países exportadores, enquanto o segundo grupo entende que a medida prejudica o controle do desmatamento.
Ex-presidente do PSL, Gustavo Bebianno, que vai integrar a equipe de transição, informou que já estão definidos os nomes para cerca de 80% dos ministérios.
- Hoje já foram decididos alguns nomes, teve um significativo avanço. Em torno de 80% dos ministérios já estão definidos. Por questão estratégica nossa, vamos passar os nomes um pouquinho mais pra frente.
A presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputada Tereza Cristina (DEM-MS), afirmou ontem que a bancada ruralista montou uma equipe para começar a receber indicações de nomes para comandar o Ministério da Agricultura. De acordo com ela, o bloco parlamentar deve apresentar as sugestões durante uma reunião com o presidente eleito, prevista para a próxima semana.
O pesquisador Paulo Amaral, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), reagiu com preocupação à volta do plano de unir as duas pastas. Para ele, há risco de retrocesso das políticas socioambientais no país.
- Caso essa posição seja mantida, a tendência é que a visão seja pensar na produção a qualquer custo. Durante a campanha, essa sinalização já se refletiu numa retomada do crescimento do desmatamento na Amazônia. É preciso abrir um diálogo com os produtores agrícolas para mostrar a importância de o Brasil manter sua agenda ambiental. Se ela for enfraquecida, a mensagem para o resto do mundo é muito ruim -disse ele.
Coordenadora de Política e Direito do Instituto Sócio Ambiental (ISA), Adriana Ramos afirmou que o novo formato gera dúvidas:
- O Ministério do Meio Ambiente vai muito além da agenda da Agricultura e, por isso, não fica claro como será dada a solução para as várias demandas da área.
Para Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, se o objetivo é enxugar a máquina, haveria saídas melhores:
- Poderia unir meio ambiente ao turismo, por exemplo, como fez a Costa Rica e outros países que exploram o patrimônio natural para um turismo sustentável. Há ainda dentro do Ministério do Meio Ambiente a questão da água, que não diz respeito apenas à agricultura, mas também às áreas urbana e de saúde.

O Globo, 31/10/2018, País, p. 6

https://oglobo.globo.com/brasil/ambientalistas-alertam-para-retrocesso-…

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