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Agricultores bloqueiam estradas em MT

FSP, Dinheiro, p. B10
02 de Mai de 2006

Agricultores bloqueiam estradas em MT
Manifestação contra a política agrícola do governo e a baixa do dólar também atingiram Estados vizinhos

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Produtores rurais de Mato Grosso intensificaram ontem a série de protestos que vêm realizando em rodovias federais do Estado contra as políticas agrícola e econômica do governo federal.
Em uma das manifestações, eles portavam faixas nas quais pediam o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre outras reivindicações, os produtores agrícolas querem redução no preço do diesel, seguro para safras e novas linhas de crédito no banco.
Eles reclamam também que a baixa do dólar reduz o lucro com as exportações de grãos, como arroz, soja e milho. O movimento, denominado "Grito do Ipiranga", também ataca a manutenção da taxa de juros num patamar alto.
Em ao menos três rodovias federais, houve interdições das pistas pelos manifestantes com o uso de máquinas agrícolas e tratores durante o dia.
Desde a semana passada, os produtores mantêm interditados trechos de quatro -BRs 174, 364, 163 e 158- das cinco rodovias federais que passam pelo Estado, segundo a Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso.
Os manifestantes não obedeceram a uma decisão judicial proibindo o bloqueio de trechos da BR-163, determinada pelo juiz federal Julier Sebastião da Silva na semana passada.
O Centro de Informações da PRF do Estado disse que, nas BRs 364,163 e 174, nas regiões de Rondonópolis e Comodoro, os agricultores não permitiam a passagem de caminhões carregados com grãos e insumos agrícolas. O tráfego dos outros veículos era liberado pelos manifestantes.
Na BR-174, em Comodoro (640 km de Cuiabá), a rodovia já havia sido interditada na semana anterior, mas tinha sido liberada no final de semana. Segundo a PRF, durante as manifestações não houve confronto.
Em Rondonópolis (219 km da capital), o bloqueio ocorre em um trevo no entroncamento das BRs 364 e 163.

Impeachment
Faixas pedindo o impeachment do presidente Lula foram confeccionadas para um protesto em Sinop (482 km de Cuiabá).
Em algumas faixas, os agricultores escreveram "Fora Lula. Impeachment já". Em Sinop, a manifestação ocorre no km 824 da rodovia BR-163.
"Da forma como ele [Lula] vem conduzindo o país, eu acho que ele está quebrando o Brasil. Na nossa região, não temos mais o que fazer porque não se vê mais dinheiro. Não conseguimos mais gerar empregos", disse o presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan.
"Ressalto que nos bloqueios só estão sendo impedidos de passar veículos que estejam carregados com grãos e insumos agrícolas", afirmou o presidente do Sindicato Rural de Sinop.
Na tarde de ontem, agricultores realizavam uma manifestação no centro de Sinop contra o governo federal. Eles entregaram panfletos à população e carregavam faixas contra o presidente Lula na praça das Bandeiras.
Estimativa dos próprios integrantes do movimento apontam que cerca de 4.500 agricultores estejam participando das manifestações, iniciadas no dia 24.
Na semana passada, em protesto, agricultores atearam fogo em duas colheitadeiras durante bloqueio de rodovia em Mato Grosso. O Estado é um dos maiores produtores de soja do país.
Agricultores ouvidos pela Folha disseram que os protestos seguirão por tempo indeterminado.

Outros Estados
Produtores agrícolas também interditaram rodovias federais em Mato Grosso do Sul.
Na rodovia BR-163, houve bloqueios na região de São Gabriel do Oeste e Bandeirantes.
Segundo a PRF do Estado, não havia ocorrido incidentes durante as manifestações.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de São Gabriel do Oeste (132 km de Campo Grande), Nei Canziani Filho, cerca de 1.500 manifestantes participavam do bloqueio na região.
Em Goiás, produtores rurais programaram para hoje uma reunião na Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás) para discutir as ações que serão adotadas contra a política de preços agrícolas vigente.
Até ontem à tarde a Polícia Rodoviária Federal não havia registrado bloqueios nas rodovias do Estado.

Colaboraram ADRIANA CHAVES e HUDSON CORRÊA, da Agência Folha

Produtor deve reduzir área de soja, diz Maggi
DA BLOOMBERG

Os produtores de soja brasileiros devem reduzir suas áreas de cultivo da commodity num momento em que a valorização do real gera prejuízos para suas exportações, disse Blairo Maggi, o maior produtor mundial de soja.
Maggi disse que os agricultores de Mato Grosso, o Estado brasileiro que é o maior produtor de soja do país, reduzirão suas lavouras para a safra do ano que vem em cerca de um terço. Maggi, 49, não revelou os planos para a sua empresa. O Grupo Maggi possui 300 mil hectares de área cultivada com soja.
"Os agricultores brasileiros estão enfrentando problemas profundos em relação ao preço e aos custos de produção", disse ontem em entrevista concedida em Brasília. "Toda essa crise tem a mesma origem: o câmbio", disse Maggi, que também é governador do Mato Grosso.
O real se valorizou 53% desde maio de 2004, sustentado pela disparada das exportações e pelos fluxos de capital para o mercado de renda fixa do Brasil. A moeda brasileira subiu 0,8% ontem, sendo negociada a R$ 2,1014 em relação ao dólar norte-americano.
Os agricultores de Mato Grosso, que respondem por cerca de 30% da produção brasileira de soja, recebem atualmente R$ 18 por uma saca de 60 quilos de soja, menos da metade dos R$ 40 que obtinham há um ano. Os custos de frete no Brasil, o segundo maior produtor mundial de soja, subiram 75% nesse período, aprofundando os prejuízos dos produtores rurais locais, disse Maggi.
Os preços internacionais da soja "estão indo bem", avaliou. "O problema é o valor do dólar aqui no Brasil."
A soja para entrega em julho subiu 0,1%, fechando a US$ 5,905 o bushel na Bolsa de Mercados Futuros de Chicago no último dia 27 de abril. Os preços da commodity recuaram 23% após terem atingido seu pico de um ano, em junho do ano passado.
O Brasil pretende anunciar no mês que vem medidas para reduzir os impostos e as tarifas de importação que incidem sobre os insumos agrícolas na tentativa de reduzir os custos e ajudar os agricultores a recuperar as margens obtidas com a exportação, disse Rodrigues na semana passada. As medidas se seguem a um pacote de ajuda financeira, no valor de R$ 14,6 bilhões, anunciado em abril para recuperar os prejuízos causados aos produtores rurais pela valorização do real.
"Os agricultores precisam de ajuda para reduzir os custos de plantio das colheitas futuras", diz.

FSP, 02/05/2006, Dinheiro, p. B10

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