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Agricultores aliviam apagão da madeira

OESP, Agrícola, p. 10
03 de Out de 2007

Agricultores aliviam apagão da madeira
Para evitar falta da matéria-prima, indústria moveleira e de papel e celulose incentiva o plantio de terceiros

Lilian Primi

O temido apagão no mercado de madeira já não é mais um risco iminente, segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), Cesar Augusto dos Reis. 'O alerta foi dado porque a área plantada não acompanhava o avanço da indústria. Havia um grande descompasso. Hoje o risco de apagão praticamente não existe mais', garante.

A solução veio com o aumento do plantio em áreas da indústria e, principalmente, em áreas de terceiros, estimulado por programas de fomento do setor privado, alimentados pela expansão do mercado consumidor e em parte financiados por programas como o Pronaf Florestal e o Propflora.

Segundo o último relatório anual da Abraf, de 2006, o Brasil tem um total de 5.373.417 hectares de floresta plantada, 130 mil hectares a mais do que havia em 2005. Dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) mostram que os plantios de floresta em 2006, somando áreas de reforma e expansão, chegou a 627 mil hectares, dos quais 25% - ou 157 mil hectares - em pequenas e médias propriedades.

'O objetivo dos programas de fomento é injetar recursos na comunidade, repartindo benefícios e promovendo a fixação do homem no campo', ressalta Reis.

Para os que decidiram investir no setor, a floresta serve como uma poupança verde. A madeira de eucalipto e pinus atende a três segmentos: de celulose e papel, de painéis de madeira e o de carvão. O tempo necessário para o primeiro corte varia de um tipo de destinação para outro, indo de um mínimo de 6 (para painéis de madeira e carvão) até o máximo de 12 anos (para madeira serrada).

MENOS VERTICALIZAÇÃO

Reis afirma que a orientação da indústria é reduzir a verticalização - neste caso, as áreas de plantio da própria indústria -, porém sem abrir mão das reservas estratégicas de matéria-prima, o que abre um vasto campo de investimento para terceiros.

'Nos novos empreendimentos - são três neste momento, no Sul do País, que envolvem a Votorantim CP, a sueca Stora Enso e a Aracruz - , as empresas terão de instalar novas áreas. Mas quem já tem suas reservas está seguindo a orientação de buscar a matéria-prima de terceiros', explica.

A experiência de fomento está sendo feita por praticamente todas as empresas e é avaliada como francamente positiva. 'A meta é ultrapassar 20% da área total de plantio. Hoje pouco mais de 10% vem de terceiros. Esperamos conseguir isso em oito anos', afirma. Isso significa que o setor continuará sendo bastante lucrativo nos próximos oito anos, pelo menos. 'O preço da madeira está subindo e vai continuar assim por um bom tempo ainda. O ponto de equilíbrio ainda está longe', avalia Reis.

CONSÓRCIO

Os programas de fomento invariavelmente indicam a floresta como alternativa de diversificação para quem se dedica a culturas anuais ou é agricultor familiar. Foram desenvolvidas tecnologias que tornam viável o consórcio com, por exemplo, milho e girassol, com pecuária de corte e leite, o mais eficiente deles, e ainda com lavouras de subsistência.

No noroeste de Minas Gerais, mais de 400 produtores aderiram ao cultivo de eucaliptos, apoiados por um grupo gestor liderado pelo Sebrae do Estado, que atua em nove municípios, e fomentado pela Votorantim Metais.

'São todos pequenos produtores, que se dedicam principalmente à criação de gado leiteiro. Eles plantam as árvores, por enquanto, para suprir necessidades da fazenda de madeira e carvão', explica a gestora da iniciativa, Vânia Guimarães.

Números

5,373 Milhões de ha é a área total com floresta plantada no Brasil em 2006.

131 Mil hectares foi o aumento de área em relação a 2005

8 Bilhões de reais é o valor a ser investido até 2012 pelos segmentos de madeira
sólida, painéis de madeira
e siderurgia

156,2 Milhões de metros cúbicos foi o consumo de madeira em toras em 2006

Para os pequenos, eucalipto é uma poupança verde
Nos sítios, o plantio é feito em consórcio com grão ou pasto ou em parceria com a indústria

O pecuarista Gilberto Batista Diniz, 55 anos, plantou, há três anos, 80 hectares de eucalipto em sua propriedade, na cidade de Vazante (MG), consorciado com capim mombaça. Ele diz que planta as árvores no sentido norte-sul, de forma que o sol, ao nascer no leste, faça sombra no oeste. 'Ao longo do dia, a sombra se locomove e o gado escolhe onde quer ficar. Cobri o pasto todo.'

O espaçamento é de 10 metros entre as leiras e 2 metros entre as plantas e o plantio custou R$ 750/hectare. 'O primeiro corte, para madeira serrada, será após 10 a 12 anos', diz. A expectativa é ganhar de R$ 500 a R$ 600 por metro cúbico de madeira. 'Acho que vai dar R$ 10 mil/hectare', avalia.

Até lá, Diniz terá ganhos na produção de carne, garantidos pelo sombreamento do pasto. 'Retirei o gado da área com eucalipto no primeiro ano, o que resultou em perda inicial de 15%, compensada porém no manejo. O pasto sombreado permite lotação maior.' Diniz diz que o eucalipto também afasta parasitas do gado e insetos da propriedade.

Recuperação

O agricultor Manoel Eustáquio Machado, também de Vazante, plantou pouco mais de 1 hectare, mas espera muito da sua floresta. 'Estou plantando a floresta para continuar a viver do leite. A terra está tão degradada que não consigo cultivar o capim.' Ele fez um pequeno consórcio com lavoura de subsistência, com mandioca, banana e abacaxi, que irão produzir nos primeiros dois anos.

Em outra área, Machado está juntando eucalipto com capim, plantado no sistema conhecido como 'barreirão'. 'Semeia o capim e depois vem com a plantadeira de milho, que cresce junto com o capim. Cortamos o milho com pé e tudo, para fazer silagem. O capim fica por baixo, já pronto para receber o gado', explica.

Ele diz que adotou o sistema na última safra sem o eucalipto, e conseguiu dobrar a produção de silagem. 'Este ano vou reformar outra área, agora juntando o eucalipto com o barreirão.' A área total da propriedade é de 171 hectares.

Bom rendimento atrai produtores e provoca a valorização da terra
A maior concentração de florestas na região está em João Pinheiro, onde foi criada a Associação dos Produtores Florestais de João Pinheiro (APFJOP) . 'Plantamos 10.500 hectares de 2005 até hoje, a maior parte aqui na cidade, pertencentes a 70 fazendeiros florestais', diz o tesoureiro Alberto Antonio da Silva. Até o fim do ano, serão instalados mais 2.200 hectares. 'Chamamos fazendeiro florestal aquele que planta de 15 até 500 hectares. Mais que isso é empresa.'

Nessa região, o consórcio com pecuária ou cultura é raro. 'A maior parte faz o plantio convencional, cuja madeira será vendida em Sete Lagoas, Belo Horizonte e Itaúna, para ser transformada em carvão. O primeiro corte é feito depois de seis anos', conta. O lucro líquido por hectare/ano, segundo cálculos da associação, fica em R$ 1.050. 'É um dos melhores rendimentos hoje na região.' Silva diz que trocou o pasto por eucalipto nos 100 hectares da propriedade.

Paulistas

A boa rentabilidade está atraindo produtores de outros Estados e provocando um aumento no preço das terras. Silva diz que, dos 70 associados da APFJOP, 60% são paulistas. Como Luís Antonio Stradiotti, 57 anos, citricultor de Itajobi, cidade da região de Catanduva, em São Paulo, que comprou de uma área em João Pinheiro, a mais de 780 quilômetros de casa. 'Ia fazer pasto, mas começou o programa de eucalipto e decidi entrar, no escuro mesmo, pois nunca plantei eucalipto', conta.

Na região de Araxá, que abrange o município de Vazante, as terras de cerrado valorizaram-se quase 60% nos últimos três anos, segundo levantamento do Instituto FNP. Em Governador Valadares, mais ao norte, onde o Instituto monitora especificamente terras para reflorestamento, a valorização foi de 117% no mesmo período. 'No sul, onde a terra é mais valorizada, o aumento foi de 30%', diz a analista do mercado de terras do IFNP, Jacqueline Bierhals.

OESP, 03/10/2007, Agrícola, p. 10

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