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Africano vem a MT ensinar arte na madeira para quilombolas

Mídia news http://midianews.com.br/
04 de Mar de 2018

Interligados desde a colonização portuguesa, Brasil e Moçambique têm similaridades que vão além do idioma, da gastronomia, da música... A luta pela igualdade social entre brancos e negros - apesar da maioria esmagadora de negros no país africano - é, sem dúvida, na atualidade, umas das principais semelhanças das duas nações.

Em Mato Grosso, Brasil e Moçambique resolveram se juntar para combater juntos essa desigualdade.

Convidado pela presidente do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune), Antonieta Luisa Costa, o escultor Herminio Luís Nhantumbo veio para Cuiabá ensinar a arte de entalhar e esculpir a madeira transformando-a em belas estátuas e esculturas para o povo quilombola.

O objetivo: ensinar os quilombolas mais uma forma de economicamente se autossustentar e chamar a atenção para a falta de apoio a essas comunidades. A ação tem parceria do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).

O escultor já fez oficinas na comunidade Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento, e ainda ministrará aulas em quilombos de Santo Antônio do Leverger, Poconé e Barra do Brugres.

Natural da cidade de Matola, Herminio se interessou pelas artes plásticas em 2010 e teve como professor um dos grandes escultores de Moçambique, Alex Simões Ferreira, conhecido como Alexandria, assassinado em 2013.

Ao MidiaNews, Hermínio, que faz parte da Companhia Municipal de Canto e Dança da Matola, disse que suas obras têm inspiração nas mulheres moçambicanas e na natureza. Ele já expôs em Portugual, França e Suíça.

"Não sou artista que faço obras desenhadas. Eu trabalho com o abstrato. E o que é o abstrato? Eu vou ao contato da madeira e, no momento que estou a esculpir, ela me mostra seu limite do que pode ser transformada. Não tenho uma linhagem fixa, costumo dizer que minha abordagem é a inspiração", falou.

De acordo com Herminio, todas as suas obras são feitas de madeira reciclável.

"Nós que somos escultores não queremos contribuir para a devastação da natureza. Nós queremos preservar a natureza. Precisamos do meio ambiente. O meio ambiente faz bem para o mundo. Sabemos que agora temos problemas climáticos e temos que combater. Então, a madeira que usamos é aquela que que seca e perda sua vida depois de anos", disse.

Ele disse que está se sentindo em casa em Cuiabá e acredita que veio para ficar.

"Brasil e Moçambique têm um relação histórica muito forte. Alguns escravos que chegaram aqui saíram de lá, então temos muitas coisas semelhantes, como a língua, apesar de algumas diferenças, danças, comidas, enfim. Estou me sentindo em casa", afirmou.

"Não vim só de passagem, acredito que vim para ficar, existem algumas propostas além desse trabalho com o povo quilombola, terei cerca de quatro exposições em Cuiabá e espero ter mais. Estou aqui para deixar minha sabedoria e para aprender com artistas brasileiros que desejam trabalhar comigo, porque a arte é isso, é troca de experiência", relatou.

Sustentabilidade dos quilombos

Antonieta Costa contou que conheceu Herminio através de uma amiga que viu as obras dele na França.

Conforme ela, em novembro do ano passado, o Imune criou um projeto de sustentabilidade dos quilombos de Mato Grosso e apresentou ao escultor moçambicano, que topou participar.

A IFMT trouxe Herminio para Cuiabá e o Imune dá toda a assistência para que ele se mantenha na Capital.

"Sustentabilidades dos quilombos por quê? Porque a comunidade quilombola precisa de mais um instrumento de empreendedorismo. O objetivo é com que o povo quilombola aprenda mais uma forma de economicamente se autossustentar. No Mata Cavalo, por exemplo, eles aprenderam a faze o pilão, que é uma coisa mais fácil de se apreender e também de se vender por aqui", disse.

"Foi nesse sentido que a gente trouxe o Herminio, para que a gente pudesse criar um espaço empreendedor para um povo que está historicamente excluído de todas as formas de inclusão econômica", afirmou.

Conforme Antonieta, o escultor também aborda em suas oficinas a desigualdade, racismo e machismo contra mulheres negras.

"É interessante que o Hermínio também tem obras voltadas para as mulheres negras, e por que chama atenção? Porque ainda impera o machismo e isso não é nós quem estamos dizendo, são as pesquisas. As pesquisas apontam que as mulheres negras da região Centro Oeste são as que se encontram em piores estados de exclusão e a gente também precisa fomentar as políticas públicas para elas. E nessa oficina a gente não só ensina escultura, mas também trabalha a identidade. O Herminio é muito bom para discutir isso", finalizou.

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