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Acre vence a briga pelo "linhão elétrico"

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: ALTINO MACHADO
21 de Fev de 2003

Jorge e Tião evitam desmonte de usinas e querem gasoduto até Rio Branco para mudar matriz energética

Com o apoio do presidente Luis Inácio Lula da Silva, o governador Jorge Viana e o senador Tião Viana são protagonistas da vitória do Acre contra a Eletronorte em relação ao uso da linha de transmissão de energia elétrica de Porto Velho a Rio Branco.

Por causa de vários aspectos considerados prejudicais aos interesses do Acre, ambos conseguiram impedir a entrada do linhão em operação nos termos do projeto original apresentado pela diretoria passada da Eletronorte.

A decisão serviu para impedir que o parque termelétrico de Rio Branco estivesse sendo desmontado agora e, com isso, o Estado começasse a perder mais de R$ 30 milhões anuais decorrentes da arrecadação de ICMS pelo transporte de óleo diesel.

GASODUTO - A reportagem do Página 20 apurou que os novos diretores da Eletronorte já decidiram que o "linhão elétrico" de Porto Velho a Rio Branco, que já foi aprovado durante os testes de conexão, somente entrará em operação quando o governador Jorge Viana considerar conveniente ao Acre.

O governador e o senador, com apoio dos demais integrantes da bancada do Acre no Congresso, lutam agora para que o projeto de transporte de gás de Urucu (AM) até Porto Velho (RO), com 700 km, seja ampliado em 500 km até Rio Branco.

Caso isso se concretize, o Acre estará conectado ao sistema interligado brasileiro, a partir de 2004, como gerador de energia. Os entendimentos com a nova diretoria da Eletronorte e as articulações para sustentar politicamente a tese do Governo do Acre estão avançados.

Em meados de março, o presidente da Eletronorte, Silas Rondeaus Cavalcante Silva, será recebido por Jorge Viana em Rio Branco. "Nos interessa substituir o diesel pelo gás. No governo do presidente Lula será possível mudar a matriz energética do Estado. Antes não havia, mas agora temos uma perspectiva muito boa de fazer bom uso do linhão", afirmou.

ESTRATÉGICO - Segundo o governador, a Eletronorte desenvolvia uma política equivocada para o desenvolvimento energético da região. "Dependendo de como o linhão funcionar, pode ser um empreendimento ótimo ou péssimo para o Acre".

Desde o começo, o governador e o senador brigavam com a direção da Eletronorte, exigindo que a mesma deixasse claro o verdadeiro papel do linhão.

"Sempre nos interessou que o Acre participe como fornecedor de energia. Nos interessa isso porque futuramente o sistema será interligado e também poderemos vender energia", explicou Viana.

O governador disse que jamais aceitaria que Acre figurasse apenas como consumidor de energia, ficando exposto no final da linha às estratégias de desenvolvimento de outros estados. "A Eletronorte queria nos empurrar goela abaixo esse projeto. Nós não aceitamos porque seria prejudicial ao desenvolvimento do Estado", afirmou.

Viana acha que está perto de uma solução que atende aos interesses acreanos. Para ele, a questão não envolve apenas a possibilidade de perdas com a arrecadação de ICMS. "Estamos preocupados com o futuro definitivo do Acre e a geração de energia é a chave desse problema", concluiu.

Senador deu primeiro grito de protesto

O senador Tião Viana foi o primeiro a levantar a voz, em novembro de 2001, contra a possibilidade de a Eletronorte transferir a geração de energia do Acre para Rondônia.

Na ocasião, o senador acusou a Eletronorte de contrariar os interesses estratégicos do Acre ao mediar a entrada de geradoras e produtoras e buscar a concentração de energia.

Tião Viana destacou a expressiva carência de energia no Acre para a agroindústria, que é emergente, e para os setores produtivos, que são rurais. Ele até reconheceu que a Eletronorte tentava romper essa barreira, levando a produção de energia para todos os Municípios do Estado.

"Na hora em que estamos afirmando um modelo de desenvolvimento sustentável, com necessidade premente da energia como base e suporte da alavanca do desenvolvimento, a Eletronorte quer transferir toda a nossa geração de energia para o Estado de Rondônia", protestou.

RACIONALIDADE - A maior preocupação do senador era com a possibilidade de o Acre ficar dependente do chamado "linhão elétrico" como mero comprador da energia de Rondônia.

Tião Viana disse que até poderia entender a racionalidade da discussão se a mesma estivesse vinculada à produção de energia nova, pelo gasoduto de Urucu, que chegaria até Rondônia, onde seria transformado em unidade de produção e, depois, estendido até o Estado do Acre.

Mas não era isso o que estava ocorrendo. As usinas termelétricas existentes seriam desativadas com a operação do linhão, mas a energia a partir de Rondônia continuaria sendo gerada por usinas termelétricas.

"A energia termelétrica, que ainda é a nossa base de subsistência, continuaria sendo termelétrica em Rondônia e não haveria utilização do gás natural, como estávamos esperando", explicou o senador.

Quando se manifestou pela primeira vez contra o plano da Eletronorte, o senador Tião Viana acusou a empresa de agir em benefício de interesses privados na Amazônia.

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