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Acidente de helicóptero ocorrido na região de Surucucu/Área Yanomami

Urihi-saúde Yanomami
Autor: Deise Alves Francisco
02 de Ago de 2002

16.20 Hs - A equipe de saúde da URIHI, responsável pela assistência aos Yanomami da região de Aratha u, recebe uma mensagem do auxiliar de enfermagem Israel Nunes Lopes, que realizava visita de rotina à comunidade Wanapikitheri informando que, por volta das 16 horas do dia anterior, um jovem Yanomami de nome Elias, havia chegado à maloca carregado por outros yanomami da região com história de "envenenamento por sarabatana de inimigos" (sic) e apresentava sinais de intoxicação exógena . Na ocasião informava também que o seu equipamento de radiofonia apresentava um defeito, só sendo possível receber mas não transmitir mensagens.

16:25 Hs - Ao receber o bilhete, a equipe do Pólo-Base Aratha u imediatamente comunica a necessidade dessa remoção à sede da URIHI em Boa Vista, modulando com o funcionário Wanderlei Marinho.

16:30 Hs - Ao tomar conhecimento desse assunto, a Dra Deise Alves Francisco (coordenação geral da URIHI), orienta a equipe de Surucucu a enviar para a maloca Wanapiki, de helicóptero, um equipamento completo de radiofonia (radio + painel + bateria + antena) juntamente a auxiliar de enfermagem Francisca Rosângela Baima da Silva, com para que, através da comunicação direta, se pudesse avaliar adequadamente as condições do paciente e avaliar se a remoção seria mesmo necessária. Orientou ainda que, caso a remoção estivesse indicada, antes de removê-lo, teria que ser determinado o grau de aliança da comunidade do paciente com as comunidades que residem ao redor do posto de Surucucu, em virtude da complexa rede de aliança e conflitos inter-comunitários entre os yanomami destas regiões. No caso de se tratarem de comunidades inimigas, a Dra Deise orientou que então o paciente fosse transportado para o Pólo-Base de Aratha u para receber maiores cuidados uma vez que não haveria tempo hábil para a remoção para Boa Vista naquele mesmo dia.

18:00 Hs - Ao chegar ao posto de Surucucu vindo de uma outra missão, o comandante Gleidston é logo avisado sobre a necessidade da operação para a comunidade Wanapiki (levar a radiofonia e a Rosângela para essa comunidade). Gleidston decide fazer primeiro a missão de rotina para Awiu, acertando com a equipe que retornaria em seguida para Surucucu para atender a esta nova operação.

18:45 Hs - Pelo adiantado da hora, sem que o helicóptero tenha retornado a Surucucu, a equipe da sede orienta a equipe de saúde para que esta operação seja adiada para o dia seguinte.

18:55 Hs - Sem que nenhum outro contato tenha ocorrido entre a equipe de saúde e o comandante Gleidiston, este chega ao posto de Surucucu trazendo já consigo o paciente Elias. Posteriormente soubemos que o auxiliar de enfermagem Israel, a pedido dos yanomami da maloca Wanapiki, orientou o comandante para que não levasse o paciente para Sururucu e sim para o Arathau, motivo pelo qual os yanomami da região permitiram que o Elias entrasse no helicóptero. Israel informa ainda que ao verem que o helicóptero tomava o rumo de Surucucu e não de Aratha u, começaram a chorar dizendo que os Yanomami de Surucucu iriam matá-lo.

Enquanto a equipe de saúde de Surucucu inicia os procedimentos de atendimento ao paciente removido, uma mulher yanomami da comunidade do Pirisi (Judite) reconhece o paciente como sendo de comunidade inimiga e inicia-se um tumulto. Os jovens dessa comunidade avisam à equipe que irão entrar no posto para matá-lo. A professora da URIHI, Alessandra Petternella, avisa o comandante Gleidiston sobre a necessidade de retirada imediata do Yanomami Elias daquele local. O comandante Gleidiston responde que achava que isso não seria necessário e, apesar da insistência da professora Alessandra, segue sozinho no helicóptero para estaciona-lo no interior das instalações do Pelotão de Exército de Fronteira de Surucucu (4o PEF).

19:10 Hs - Os yanomami da comunidade Pirisi iniciam a invasão do posto atacando o paciente com flechas, terçados, foices e machados. A equipe da URIHI pede ajuda ao Chefe de Posto da FUNAI, Paulo Gomes da Silva, que solicita o trator do Exército para transportar o paciente ferido para dentro das instalações do 4 o PEF.

19:40 Hs - A equipe de saúde de Surucucu comunica pela radiofonia os últimos acontecimentos à coordenação geral da URIHI em Boa Vista, que passa a acompanhar e a orientar todos os procedimentos da equipe desse momento em diante. A equipe de saúde e o chefe de posto da FUNAI são solicitados pela coordenação da URIHI a fazerem um relatório detalhado sobre estes acontecimentos. Ainda vivo, mas em estado grave, o paciente segue do posto de saúde da URIHI no trator em direção ao 4 o PEF, acompanhado pela auxiliar de enfermagem Rosângela e alguns militares. Acredita-se que, um pouco antes da chegada do trator, o comandante Gleidiston tenha tomado conhecimento do ocorrido e decidido, por conta própria, acionar o helicóptero em direção ao posto de Sururucu.

O atendimento ao Yanomami prossegue dentro do Pelotão e ante a demora na chegada do helicóptero (ainda que não se tenha sido ouvido qualquer ruído de impacto ou explosão), inicia-se a busca do helicóptero para o socorro às vítimas com os soldados do Exército e 4 profissionais da URIHI.

21:45 Hs - A equipe da URIHI comunica à sede que encontraram o corpo do comandante já sem vida e que continuam as buscas pelo mecânico do helicóptero.

21:50 Hs - A equipe informa que o Yanomami Elias não resistiu aos ferimentos e que acabara de falecer dentro das instalações do 4o PEF.

22:10 Hs - A equipe informa que encontraram o corpo do mecânico, Antonio Rodrigues Lima.

Dia 03 de agosto de 2002:

No dia seguinte, segue uma aeronave de Boa Vista para Surucucu levando um intérprete da URIHI, Richard Wanderlan de Souza Duque, para levar o corpo de Elias Yanomami de volta à sua comunidade de origem, no helicóptero do governo do Estado de Roraima, acompanhado por dois militares.

Nessa mesma manhã, chegam os corpos de Gleidiston Souto Moraes e Antonio Rodrigues Lima a Boa Vista, em aeronave pilotada pelo comandante Eliézer, acompanhado pela professora Alessandra que forneceu detalhes dos acontecimentos descritos e o relatório em anexo assinado pelo chefe de posto da FUNAI e funcionários da URIHI que testemunharam estes fatos.

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