VOLTAR

Ação de educador dá sobrevida ao pau-brasil

FSP, Cotidiano, p. C6-C7
18 de Jul de 2010

Ação de educador dá sobrevida ao pau-brasil
Norberto Baracui tentar preservar ambiente e história com 30 mil mudas em um sítio em São Sebastião (SP)
Milhares de exemplares foram trazidos do Nordeste em um carreto; parte é doada a escolas e prefeituras

Eduardo Geraque
De São Sebastião

O paraibano Norberto Baracui não pode ser chamado de "brasileiro", pelo menos no sentido que a palavra tinha no período colonial.
Naquela época -que ele adora estudar- o termo servia para designar os portugueses que traficavam pau-brasil para a Europa.
O geólogo nordestino, ao contrário, faz de tudo para que a árvore nativa permaneça viva em solo nacional.
Baracui escolheu um lugar onde costumava acampar nos anos 70, um sítio em frente à praia de Santiago, em São Sebastião, litoral paulista, para cultivar mudas da árvore oficial do pais.
Hoje, existem ali cerca de 30 mil mudas. Ele costuma doá-las a escolas e cidades. "Cheguei a distribuir quase 100 mil mudas em 20 anos."
O também educador -ele fez parte da turma de fundadores do Colégio Equipe, em São Paulo, nos anos 1960- teve a ideia de criar as mudas a partir de uma cena urbana.
No início dos anos 90, sua filha ganhou uma muda de pau-brasil depois de almoçar no restaurante Rubaiyat.
Depois disso, as viagens quase anuais para o Nordeste, na época de São João, para o tradicional forró, passaram a ter mais um objetivo.
"Comecei a encontrar lugares no interior que tinham mudas de pau-brasil. Despachava por avião mesmo."
Em uma das viagens, para aumentar a produção no Sudeste, Baracui alugou uma carreta para transportar milhares de mudas de uma vez.
Refletindo sobre sua iniciativa, ele diz, sem muita pretensão: "Só estou tentando fazer a minha parte para o planeta. Em 1962 havia 3 bilhões de pessoas vivendo na Terra. Hoje, são 6 bilhões".

INTERESSE
Filho de um dentista que se mudou da Paraíba para Goiás por causa da mineração, Baracui acabou em São Paulo aos 18 anos, para estudar geologia na Universidade de São Paulo. Profissão que, de fato, ele nunca exerceu.
Das aulas em um dos grêmios daquela época ele caiu no Equipe, colégio sem fins lucrativos. "Vivo da venda de uns terrenos por aqui", diz.
O problema é que nem mesmo hoje, quando o discurso ambiental está na moda, iniciativas como a de Baracui são levadas a sério.
Apesar da gratuidade da muda, diz, tem prefeitura que às vezes não aparece para pegar as mudas encomendadas alegando não ter verba para o transporte.
E as mudas que são doadas, se transformam de fato em árvores do pau-brasil? "Não dá para ter controle sobre elas", afirma.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1807201010.htm

Medidas não recuperam nem 10% do já devastado
Árvore era encontrada na faixa entre RN e SP

De São Sebastião

A ação ambiental de Norberto Baracui a favor do pau-brasil, árvore que consta da lista oficial do país como ameaçada de extinção, está longe de ser a única.
Outros grupos no Rio de Janeiro e no Nordeste também tentam resgatar a história da árvore que dá nome ao Brasil. Na época da colônia, ela era cobiçada por causa da sua cor vermelha.
A tintura feita a partir da árvore era usada para colorir as roupas reais na Europa.
Mas, mesmo com o esforço de todos, a partir de cálculos muito otimistas, a quantidade de mudas geradas até hoje não representa 10% do que foi devastado no passado.
Entre 1500 e 1872, quando a Coroa portuguesa exerceu um monopólio estatal sobre as reservas de pau-brasil, 70 milhões de árvores da espécie foram retiradas de um país dominado pelos "brasileiros". Leia-se: traficantes.
Em São Paulo, segundo Baracui, um dos exemplares mais antigos que ele conhece da árvore embeleza uma rua na Vila Madalena, na zona oeste de SP, a dos Zapara.
"Ela deve ter mais ou menos uns 60 anos. Por ter uma raiz que vai em direção ao solo, o pau-brasil pode ser usado sem risco de destruir as calçadas, por exemplo", diz o educador Baracui.
Antes, típica do ambiente de mata atlântica, ela era encontrada entre o Rio Grande do Norte e São Paulo. Atualmente, apenas em viveiros, jardins botânicos, algumas reservas ou ruas isoladas.
Historiadores contam que os franceses e holandeses foram os que mais exploraram o pau-brasil. Os primeiros por causa do longo período em que retiraram a árvore.
Os holandeses, entretanto, foram mais vorazes. Entre 1632 e 1651 eles retiraram 3.718 toneladas da planta, o que significou 22,5% do total explorado no século 17.
Na verdade, tanto a árvore símbolo do Brasil, como a própria floresta em que ela vivia, sumiram juntos. Hoje, os mais otimistas, dizem que resta apenas um pouco mais de 20% da floresta atlântica.
Nem sempre é fácil reconhecer o pau-brasil, lembra Baracui. "A árvore é prima do pau-ferro e, por isso, acaba sendo frequentemente confundida com ele".
"As sementes saem dessas vagens. A abertura delas não dura mais que alguns dias", conta o educador, mostrando as estruturas na mão.
"A planta precisa de muita água e sol para crescer", conta, para quem quiser plantar.
(Eduardo Geraque)

FSP, 18/07/2010, Cotidiano, p. C6-C7

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1807201012.htm

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.