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Acampamento em Brasília revela triste situação dos índios no Brasil

CIR-Boa Vista-RR
Autor: André Vasconcelos
16 de Abr de 2004

Na esplanada dos ministérios, a cerca de 250 metros do Palácio do Planalto, indígenas de todo o Brasil ergueram às 5 horas da manhã de 15 de abril, o acampamento "terra livre" para chamar a atenção da sociedade e serem ouvidos pelo presidente Lula da Silva. O principal objetivo da manifestação é cobrar a imediata homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima e evitar um retrocesso nos direitos amparados pela Constituição Federal.
Já estão acampados lideranças dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Amazonas, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e Mato Grosso do Sul, somando mais de uma centena de pessoas. É aguardada para antes do Dia do Índio (19), mais uma caravana do Centro-oeste e outra da Bahia, que deverá elevar o número de participantes para cerca de 150 indígenas.
O protesto é liderado por Joênia Wapichana, Davi Kopenawa Yanomami, Júlio Macuxi, Marcos Xucuru, Agnelo Xavante, João Salvador Kaingang, Leonardo Guarani, Aniel Priprá Xokleng e Gecinaldo Saterê-Mauwé, coordenador da Coiab (Coordenação das Organizações da Amazônia Brasileira).
A primeira ação do movimento foi protocolar pedidos de audiências com o Presidente Lula da Silva, ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e com o presidente da Funai, Mércio Gomes. As lideranças insistem que querem ser atendidas até o Dia do Índio.
Júlio Macuxi, do Conselho Indígena de Roraima (CIR) considera que o primeiro dia do acampamento conseguiu atrair a atenção da mídia e o apoio da população. "A sociedade local (Brasília) teve uma reação positiva a nossa manifestação, muita gente parou para nos apoiar, pois sabem que os índios continuam sendo tratados no Brasil com racismo e discriminação", explica.
Para Egon Reick, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o acampamento na esplanada dos ministérios "é a forma que os povos indígenas encontraram para dizer que o governo Lula não está cumprindo o que prometeu" e serve ainda para "mostrar a verdade diante das mentiras" inventadas por políticos antiindígenas, principalmente da "bancada ruralista que está mais forte no atual governo".
Após reunião com Lula, no dia 12 de abril, o ministro Luiz Dulci anunciou que a assinatura da homologação vai ocorrer até o dia 27 de abril, postergando mais uma vez a decisão do governo para o impasse sobre Raposa Serra do Sol. O presidente da Funai havia garantido que o decreto seria editado no dia 19, junto com um pacote de demarcações.
Júlio Macuxi suspeita de uma manobra do governo para desviar as atenções e a expectativa para o Dia do Índio, mas garante que o movimento indígena não está disposto a dar mais essa 'trégua' ao governo. "Até o dia 19 vai ser 'ou vai ou racha'", afirma Macuxi.
Marcos Xucuru, filho do cacique Chicão Xucuru, assassinado em 1998, destaca que a participação da delegação do nordeste no acampamento é para manifestar solidariedade aos povos da Raposa Serra do Sol, "que é uma terra que vive uma situação emblemática da qual a sua definição vai refletir em todas as terras indígenas do Brasil".
Xucuru não descarta a possibilidade de haver um retrocesso nos direitos indígenas e se diz "estarrecido com a postura de alguns deputados que não aceitam o Brasil como uma nação pluriétnica e pluricultural", pelo contrário, "pregam o racismo e o preconceito contra os índios".
No acampamento "terra livre" uma pergunta carregada de angustia está presente em todas as mentes e corações: por que o presidente Lula se recusa a receber e a ouvir os povos indígenas?. Enquanto continuam sem resposta, lideres de todo o Brasil reforçam o movimento de resistência, com "medo de perder a esperança" que ainda resta.

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