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Abandono e invasões são vistos em área natural na Asa Norte

Correio Braziliense - www.correiobraziliense.com.br
27 de Jul de 2010

Sacos de lixo, entulho e outros dejetos resultantes da ação humana disputam espaço com a vegetação natural da Asa Norte. Em vários pontos do Parque Ecológico e Vivencial Burle Marx (1) situado na divisa do bairro com o futuro Setor Noroeste, é possível ver catadores de papel com carroças para carregar o material adquirido nas andanças pela cidade. Muitos deles passam a semana no Plano Piloto e improvisam, em meio ao cerrado, moradias com pedaços de plástico e restos de madeira. A vegetação tem de conviver ainda com os cachorros dos invasores e com os usuários de drogas.

A Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água (Sudesa) tenta conter o problema. Fiscais do órgão visitaram ontem parte do parque e removeram seis barracos de lona e madeira. Durante as operações, a equipe retirou as estruturas inteiras e, acompanhada de assistentes sociais, ofereceu alternativas aos ocupantes irregulares do espaço. "O problema é que a maioria não aceita ajuda. Dias depois, eles acabam voltando", explica o diretor do órgão, major Maurício Gouveia. Segundo ele, a Sudesa realizou, desde 2007, pelo menos 50 operações na Asa Norte. "Todas as semanas, percorremos o bairro", garante.

O cinturão verde fica ao longo das quadras 900 da Asa Norte, entre o bairro e os lotes do Setor Noroeste. Além de administrar o surgimento da futura área habitacional, a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) viabiliza um projeto com várias construções para o Burle Marx. "O assunto só vai ser resolvido quando o parque estiver urbanizado", prevê o gerente de Meio Ambiente da Terracap, Albatênio Granja. Estacionamentos, ciclovias, vias de acesso, sistema de drenagem pluvial e os quatro espelhos d'água do parque começaram a sair do papel.

As invasões de área pública se estendem a outros pontos da Asa Norte. De acordo com a Sudesa, há acampamentos de catadores de lixo e moradores de rua nas imediações da Universidade de Brasília (UnB) e nas vias L4 e W5 Norte. Durante a ação de ontem, a equipe removeu outros oito barracos nesses pontos. "As operações são tão constantes que tanto os agentes quanto os infratores se conhecem pelos nomes. O governo oferece abrigos e benefícios, mas não adianta", constata o major Gouveia.

Paisagem
O local era antes uma reserva ecológica de 175 hectares. O gerente de Meio Ambiente da Terracap explica que a autorização para a construção do Noroeste, em 2007, permitiu a implantação de equipamentos urbanos e aumentou a área do parque. "O Burle Marx cresceu e tem, agora, 280 hectares", calcula Granja. O gerente afirma que o local terá mais relevância ambiental do que o Parque da Cidade, na Asa Sul. "Lá, mudaram muito a paisagem natural", avalia.

Mesmo assim, a geógrafa Mara Moscoso, do Fórum de ONGs Ambientalistas do DF, acredita que parte da vegetação nativa da região sofreu alterações: "A rotatividade no parque é muito grande e vários segmentos da população fazem mau uso da área". Mara acredita que a abertura de pistas e outras obras previstas para o Burle Marx também podem prejudicar o cerrado nativo. "O parque está sumindo", alerta.

1 - Marca registrada
Roberto Burle Marx nasceu em São Paulo, em 1909, e morreu em 1994. O paisagista dedicou-se também à pintura e ao desenho. Em Brasília, o artista de múltiplos dons fez, entre outros trabalhos, o projeto paisagístico da 308 Sul e da Praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano.

Para saber mais - Atrações verdes

A pedra fundamental do Parque Burle Marx foi lançada em 12 de setembro de 2008, dia em que Juscelino Kubitschek completaria 106 anos. O projeto coube ao arquiteto e paisagista Jaime Lerner. A proposta engloba pavilhões e construções emoldurados por jardins que celebram a diversidade brasileira e homenageiam artistas como Frans Krajcberg, Francisco Brennand e o próprio Burle Marx. O parque terá, entre outras atrações, a Praça das Sombras, com torres de bambu que formam um cenário futurista. Há ainda espaço para o Museu Vivo do Cerrado, para espelhos d'água e para um quadrilátero destinado à diversidade da cultura brasileira.

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