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80% das plantas da Amazônia são desconhecidas, afirma diretor do Musa

Portal Amazônia - http://portalamazonia.com
Autor: Tanair Maria
19 de Jul de 2015

Na visão do diretor do Musa, a botânica e a entomologia (ciência que estuda os insetos) deveriam ser as disciplinas mais cultivadas aqui no Amazonas

Quando perguntamos sobre a importância da biodiversidade para o desenvolvimento socioeconômico do Amazonas diversas questões são levantadas por especialistas e pesquisadores, dentre elas, o fato de que a biodiversidade da Amazônia, cenário onde reina o Estado do Amazonas, é um patrimônio de valor inestimável. Porém a deficiência de recursos impede o avanço do conhecimento, hoje cerca de 80% das plantas amazônicas permanecem desconhecidas. Além de parte da classe política tratar pesquisadores e cientistas como praticantes da biopirataria, também fomentam o turismo ecológico sem perceber que navios vem equipados com laboratórios e que estão livres para coletar a água e seus organismos, bem debaixo dos nossos olhos.

Quanto aos institutos de pesquisas, há muito de concreto sobre acesso e uso da biodiversidade, mas uma questão importante é saber que a transferência dos resultados dos laboratórios para o processo fabril não pode ser feita por pesquisadores.

Segundo o professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e ex-diretor da Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Ozório Fonseca, o ideal seria existir uma instituição direcionada para buscar resultados promissores, usá-los em pesquisa de mercado, construir uma fábrica e vendê-la, ao invés de distribuir folders coloridos. "No caso da biodiversidade um entrave enorme é o fanatismo e o infantilismo com que parte da classe política trata os pesquisadores e cientistas considerando-os biopiratas", observou.

A biodiversidade da Amazônia é um patrimônio de valor inestimável, que pode ser comparada a uma biblioteca de milhões de volumes que, em sua grande maioria, nunca foram lidos. Porém, desconhecemos 80% das plantas da Amazônia. Segundo especialistas e pesquisadores, para explorar as riquezas minerais e biológicas e promover o desenvolvimento regional é preciso muito conhecimento, pesquisa, determinação e universidades de excelência. Para se ter uma ideia, ainda não há um banco de sementes na Amazônia semelhante ao do Kew Garden de Londres, referência no assunto, faltam recursos financeiros e logísticos para ampliar para 10 mil, o número de botânicos e entomólogos a fim de explorar o patrimônio que a biodiversidade amazônica oferece.

Segundo o diretor-geral do Museu da Amazônia (Musa), Ennio Candotti, ainda desconhecemos a linguagem em que muitos desses livros são escritos e isso torna difícil o trabalho de decifrar os códigos e informações da geo e biodiversidade. Sem falar das culturas e línguas antigas que em sua grande parte também permanecem desconhecidas, e que guardam segredos de grande valor para a humanidade. "Particularmente por ter demonstrado uma milenar capacidade de viver, se alimentar e multiplicar nas florestas inundadas", relatou.

Segredos da Amazônia

Para Ennio Candotti, a Amazônia é um imenso laboratório que esconde segredos que podem fornecer novos alimentos, por exemplo, a batata do Perú, a mandioca, o cupuaçu, dentre outros; novos fármacos; novas maneiras de se comunicar, como os modos de comunicação dos insetos que são em grande maioria desconhecidos; novas maneiras de transformar energia solar em alimento, ou produtos químicos com elevado conteúdo energético. "Não sabemos fabricar uma folha sequer! Coisa que qualquer planta faz sem a menor inibição", frisou. Candotti ainda disse que por enquanto a cana é a planta que revelou ter a maior eficiência na conversão de energia solar para produzir combustíveis líquidos, mas que há outras plantas na Amazônia com maior eficiência de conversão, por isso é preciso estuda-las. "Desconhecemos 80% das plantas da Amazônia", completou.

Sobre a biopirataria praticada no Amazonas, desde a época áurea da borracha, não há um banco de sementes na Amazônia semelhante ao do Kew Garden de Londres, citado inicialmente. "Nos queixamos que os ingleses levaram as sementes da seringueira e as adaptaram para o clima e a terra da Indonésia e Malásia. Onde fizeram isso? No Jardim Botânico de Londres, 130 anos atrás! Passados 130 anos quantos Jardins Botânicos há na Amazônia? Deveria haver um em cada município", la- mentou Candotti.

Na visão do diretor do Musa, a botânica e a entomologia (ciência que estuda os insetos) deveriam ser as disciplinas mais cultivadas aqui no Amazonas. Candotti afirma que é preciso 10 mil botânicos, 10 mil entomólogos para explorar o patrimônio que a biodiversidade amazônica oferece. "Isso exigiria visão e determinação das elites econômicas, políticas e intelectuais. Não é isso que vemos. Acuadas, de pires na mão, buscando incentivos e subsídios junto ao governo federal. Subsídios que repassam às elites do Centro-Sul", segundo ele a direção das principais empresas do Distrito Industrial de Manaus está no exterior ou no Centro-Sul, com isso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Amazonas melhorou menos do que a média do resto do país.

Há também outro fator que não está sendo considerado: segundo Candotti a maioria da população por desconhecer o valor dos segredos que a floresta esconde, não tem muita simpatia pelos ecossistemas complexos. "Na batalha asfalto versus floresta, o asfalto ganha. É difícil proteger a biblioteca e a floresta de segredos que se escondem nela se a sociedade não participa consciente e informada do significado deste patrimônio comum. Se querermos tirar proveito da biodiversidade devemos conhecê-la melhor e sobretudo popularizar o que já conhecemos para que a sociedade seja mobilizada e aliada nessa batalha", concluiu.

A sustentabilidade do desenvolvimento da Amazônia passa pela popularização dos conhecimentos existentes sobre a biodiversidade e a diversidade cultural. Bem como é muito importante enfatizar da ampliação desses conhecimentos através da pesquisa e da ciência em todas as áreas: biologia, antropologia, física, geologia, história, arqueologia, química, medicina, arquitetura e engenharia de portos fluviais. "Que casas temos sido capazes de desenhar e construir para os ribeirinhos? A biodiversidade da floresta é experta em todas elas", finalizou Ennio Candotti.

Projetos só no papel

Sobre os projetos que não saem do papel, ou não ganham o âmbito nacional e internacional, o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia), por exemplo, funciona há 12 anos sem representação jurídica e assim permanece sem expressão inibindo o desenvolvimento do Polo Industrial Biotecnológico. "Você menciona o CBA, ao que parece nestas últimas semanas, após quinze anos de pingue pongue, o Mdic/Suframa resolveu que vai jogar golf: um, taco uma bola e alguns buracos. Querem jogar a bola longe. Querem pensar grande. Ótimo! Espero que saibam que quadros técnicos expertos em tacadas longas são poucos no Amazonas. Muitos ainda deveriam ser formados", criticou.

Candotti afirma que é necessário criar um CBA para a pesquisa Básica na Amazônia, com foco em pesquisas sobre fungos e microrganismos que, em solos pobres, permitem o crescimento de uma exuberante floresta, como a Amazônica. "Quantos laboratórios de microbiologia básica ou aplicada há na Amazônia? Quantos pesquisadores 1A (nível máximo) há no Amazonas em biotecnologia? Quantos pensam importar? Os institutos de pesquisas aplicadas em geral funcionam bem quando há bons institutos de pesquisa básica por perto ou dentro deles", defende.

Para o professor Fonseca da UEA, é difícil saber os rumos do CBA, por causa dos interesses econômicos e políticos que estavam e que ainda estão em jogo. "O CBA foi criado de acordo com o melhor conceito de política pública, isto é, com policy (conteúdo = Probem), politics (processos =biotecnologia) e polity (instituições = CBA/Bioamazônia). A ignorância e inconsequência de uma parlamentar denunciou uma suposta prática de biopirataria, em um Acordo com a Novartis e FHC (ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), com medo, baixou uma MP 2.052/2000 depois 2.186/2001 (Medidas Provisórias), que inviabilizou não apenas o Acordo, mas o CBA e a pesquisa científica com a biodiversidade", relatou.

Antônio Sérgio Martins de Mello, foi o único superintendente da Suframa que se interessou em reativar o CBA. "Talvez por isso ficou apenas quatro meses no cargo. Todos os outros sequer desconfiam o que é sociedade moderna de biomassa", lamentou. Ainda sobre o rumo do CBA, Fonseca afirma que o tempo vai mostrar que esse foi o pior caminho para usar a biotecnologia como alicerce do desenvolvimento do Amazonas e não de crescimento econômico. "Essa diferença é assunto que está fora do alcance intelectual da maioria da classe política e de parte considerável da elite econômica, por ser um assunto que exige outra dimensão de conhecimento. O Polo Biotecnológico vai continuar sem solução real", avaliou.

Quando o assunto é sobre o Inpa, o ex-diretor do instituto fez uma viagem no tempo para lembrar que a partir do governo de Itamar Franco com a nomeação de José Israel Vargas para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); Gustavo Krause e Aspásia Camargo para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e José Seixas Lourenço para o Inpa, houve um novo foco para o desenvolvimento da pesquisa no Amazonas. "Depois Seixas Lourenço foi levado para a Secretaria de Coordenação da Amazônia e eu vim para o Inpa e esse período marca uma abertura do Instituto para a sociedade", recordou.

A abertura do Bosque da Ciência foi um marco importante para o Inpa e para a carreira do professor Ozório Fonseca, criando uma diretriz de difusão institucional que se solidificou com a criação de uma Agenda de Pesquisa composta por projetos direcionados para as chamadas sustainables sciences. "Inaugurado por mim com a presença do FHC. Durante minha gestão (1995-1999), o Inpa tinha presença na mídia local e nacional e os pesquisadores desenvolviam projetos financiados pelo PPG-7, Programa do Trópico Úmido e Sudam", destacou.

Já no segundo mandato, FHC nomeou o diplomata Ronaldo Sardenberg para o MCT, e José Sar- ney para o MMA. "O que colocou o desenvolvimento da Amazônia na UTI, deixando para Lula da Silva a tarefa de mandar tudo para o IML. É importante frisar que a difusão dos resultados não pode ficar sob a responsabilidade do pesquisador e, nesse caso, a instituição precisa de um Diretor que tenha vontade de divulgar e de um assessor que saiba fazer isso", concluiu Ozório Fonseca.

Procurados pela reportagem do Jornal do Commercio, os diretores e pesquisadores do Inpa, através da assessoria do instituto aptos a responderem sobre o tema biodiversidade, estão impedidos por estarem fora de Manaus/AM, participando da 67ª edição da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi fundada em 1948 com o objetivo de unir o pensamento científico brasileiro, motivado pela chegada de grandes cientistas europeus, trazidos ao país para implementarem as universidades brasileiras, em particular a Universidade de São Paulo (USP), criada em 1934, na cidade de São Paulo/SP.

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