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47% da Amazônia já foi ocupada

OESP, Vida, p. A18
04 de Dez de 2004

47% da Amazônia já foi ocupada
Relatório mostra que, além dos 10% já desmatados, a floresta sofre com invasão de madeireiros, construção de estradas e incêndios

Carlos Mendes
Especial para o Estado Belêm

Quem vê a Amazônia em filme ou em reportagens focalizando sua exuberante floresta entrecortada por 1.300 rios não é capaz sequer de imaginar a disputa feroz que se trava pela posse de seu solo e a exploração de suas imensas riquezas. Resultado dessa batalha: quase a metade dos 4,1 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia já foram ocupadas pelo homem.
Além dos 10% de florestas derrubadas nos últimos 30 anos - o equivalente ao tamanho de um país como a França -, a penetração de empresas madeireiras sobre outras áreas cobiçadas, a construção de estradas e os focos de incêndio marcam de forma cruel sua passagem por outros 37% da região.
Os 53% restantes da floresta, embora não se saiba até quando, felizmente ainda permanecem intactos. O levantamento, que lança números mais novos e consistentes sobre a região onde se localiza a maior biodiversidade do planeta, faz parte de um estudo ainda inédito feito pelo Instituto do Meio Ambiente e do Homem da Amazônia (Imazon), previsto para ser divulgado em janeiro próximo.
O pesquisador do Imazon Carlos Souza explica que o estudo se baseou em dados dos satélites que monitoram diariamente a região e na influência urbana. Um detalhe no trabalho chama a atenção. Em um raio de 20 quilômetros de cada núcleo urbano amazônico, a floresta já foi agredida de alguma forma, seja pela extração de madeira ou derrubada de árvores e queimada para formação de pasto.
Os assentamentos da reforma agrária também foram mapeados. Os localizados em áreas florestais ou que já sofreram alteração em sua cobertura vegetal representam 2,3% do total. As áreas destinadas à mineração são responsáveis por 0,5%. Os focos de calor, representados em sua maioria pelas queimadas, dominam a paisagem amazônica. Entre 1996 e 2000, período do levantamento, eles alcançavam 22%. "Há fortes sinais de exploração madeireira também nessas áreas", estima o pesquisador. A construção de novas estradas, avalia Souza, facilita a pressão humana sobre as áreas que até algum tempo atrás ainda estavam a salvo do ataque ao bioma amazônico. Essas estradas, muitas delas fora dos mapas tradicionais, são as grandes responsáveis pela exploração ilegal da floresta. Elas totalizam 23 mil quilômetros quadrados na região, estão fora do alcance do poder público e já atingem áreas como a Terra Indígena Baú, dos caiapós, em Novo Progresso, e a Serra do Cachimbo, ambas no sudoeste do Pará.
O problema hoje da Amazônia, afirma o estudo do Imazon, está além da fronteira do desmatamento. Entre a área desmatada e a floresta ainda em pé há uma zona de transição, justamente a que sofre o maior risco de ataque.
"Essa área, de alguma forma, está sendo degradada. Por ela passam estradas e seu recurso florestal vem sendo explorado", explica Souza.
A questão é o que fazer para evitar, num futuro bem próximo, a transformação dessa quase metade da Amazônia em um deserto. Souza entende que, além de uma firme intervenção governamental, a fiscalização deve concentrar seus esforços na prevenção de futuros desmatamentos.

OESP, 04/12/2004, Vida, p. A18

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