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34 morrem em protesto indígena no Peru

FSP, Mundo, p. A18
06 de Jun de 2009

34 morrem em protesto indígena no Peru
Confronto motivado por repúdio a decretos que facilitam exploração da selva vitimam 25 manifestantes e 9 policiais
Presidente García diz que autoridade cumpriu dever; indígenas fazem 38 policiais reféns e ameaçam queimar trecho de oleoduto no norte

Da Redação

Ao menos 34 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas ontem, num confronto entre a polícia do Peru e manifestantes indígenas que bloqueavam uma estrada no norte do país. A interrupção é parte de uma série de protestos contra decretos do governo Alan García que facilitam a exploração de petróleo e minério na selva peruana.
No episódio mais sangrento do governo conservador García, nove policiais, segundo o Ministério do Interior, e ao menos 25 indígenas morreram, segundo o Colégio de Médicos da região (Estado) do Amazonas. O embate se deu em uma área conhecida como "Curva do Diabo", próximo da cidade de Bagua ( a 710 km de Lima).
Em resposta, um grupo de manifestantes fez 38 policiais reféns e, até fechamento desta edição, ameaçava matá-los se o governo não atender suas reivindicações. Eles prometem pôr fogo em uma estação de um oleoduto da estatal Perupetro.
"O governo tentou até não mais poder o diálogo. Até não mais poder", justificou-se o primeiro-ministro Yehude Simon, que havia montado, na semana passada, mesa de negociação com as lideranças indígenas para tentar conter os protestos em 5 de 25 regiões do país.
O longo conflito entre associações indígenas e o governo García recrudesceu em abril, quando o movimento indígena convocou mobilização nacional, que vem bloqueando intermitentemente estradas, aeroportos e ameaçando cortar dutos de gás e petróleo.
O objetivo dos manifestantes é conseguir a revogação de um conjunto de decretos de maio de 2008, estabelecidos com o objetivo de facilitar investimentos e exploração de recursos naturais na selva. Em agosto passado, protestos indígenas pressionaram o Congresso, que invalidou um deles.
García baixou as normas apoiado em poderes especiais dados pelo Congresso para que ajustasse leis do país ao TLC (Tratado de Livre Comércio) com os Estados Unidos.
Para ativistas indígenas e analistas, porém, os decretos violam pactos internacionais sobre direitos dos povos indígenas adotados pelo Peru -uma vez que a população local não foi consultada sobre eles.

Helicóptero e Sendero
"Quero responsabilizar o governo Alan García por ordenar o genocídio. Eles estão atirando balas em nós como animais", disse Alberto Pizango, presidente da Adesp (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana), que congrega grande parte das 65 etnias da região de selva do Peru.
Segundo Pizango, os policiais que tentavam desbloquear a estrada Fernando Belaunde Terry -a principal das artérias que ligam a selva peruana ao Pacífico- atiraram contra os manifestantes a bordo de helicópteros. O governo nega.
A ministra do Interior, Mercedes Cabanillas, disse que os indígenas atiraram primeiro. Afirmou que havia integrantes do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso infiltrados no protesto. Após o confronto, prédios públicos e comerciais foram saqueados em Bagua.
O presidente García acusou Pizango de "delinquência" e disse que os policiais cumpriram seu dever. Em meados do mês passado, Pizango conclamou os povos indígenas à "insurgência" -um movimento criticado inclusive por ativistas- e está sendo processado pelo Ministério Público.
"Isso só interessa às potências estrangeiras petroleiras que querem manter o país como comprador de petróleo. Não quer que desenvolvamos nossas riquezas", disse García, cujo discurso tem inflado a divisão peruana entre a população da costa, mais rica, e a da selva e dos Andes, onde se concentram os 36% da população abaixo da linha de pobreza.
O presidente tem apenas 30% de aprovação nacionalmente, puxada pela litorânea Lima e pelos mais ricos. O índice chega a menos de 5% nas montanhas e na selva.
García decretou, no mês passado, estado de emergência em cinco regiões, o que permite o emprego das Forças Armadas para conter as manifestações.
Os protestos obrigaram a estatal Perupetro a suspender temporariamente o único oleoduto que leva combustível da selva norte até a costa. A argentina Pluspetrol parou sua produção no norte por falta de capacidade de armazenamento.
Com agências internacionais

FSP, 06/06/2009, Mundo, p. A18

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