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2014 é o ano mais quente já registrado, aponta Nasa

FSP, Ciência+Saúde, p. C8
17 de Jan de 2015

2014 é o ano mais quente já registrado, aponta Nasa
Com isso, dos dez anos mais quentes da história, nove ocorreram neste século
Desde 1976, temperatura global está acima da média do século 20; aumento é causado pela emissão de gases-estufa

De São Paulo

O ano de 2014 superou o de 2010 e é o mais quente já registrado desde 1880.
Além disso, desde 1976 a temperatura global está acima da média histórica do século 20. Isso significa que ninguém com menos de 36 anos conheceu um ano "frio" em comparação com o que viveram seus pais ou avós.
Chegaram a essa conclusão tanto a Nasa (agência espacial americana) quanto a Noaa --agência governamental americana dedicada aos oceanos e à atmosfera.
Com isso, os dez anos mais quentes da história, com exceção de 1998, ocorreram depois da virada deste século.
Os cientistas atribuem isso ao aquecimento global, especialmente na temperatura dos oceanos, causado pelo aumento nas emissões de gases-estufa, como o CO2.
O ano de 2014 também abrigou os meses de maio, junho, agosto, setembro, outubro e dezembro mais quentes dos últimos 135 anos. No acumulado, o ano foi 0,69oC mais quente do que a média do século 20, utilizada como referência para comparações.
O valor parece pequeno porque se refere à média da temperatura do planeta. Algumas regiões do globo, como o Sudeste brasileiro e boa parte da Europa ocidental, estiveram em 2014 mais de 2oC mais quentes do que a média do século 20.
Em São Paulo, a estação meteorológica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), que funciona a mais de 60 anos, registrou a maior temperatura da história no último 17 de outubro, marcando 37,2oC.
Para calcular a temperatura do planeta inteiro, são combinados os dados da temperatura dos oceanos (que cobrem aproximadamente dois terços do planeta) com a temperatura de terra firme.
Os pesquisadores utilizam, ao todo, dados de 6.300 estações meteorológicas, de medições nos oceanos por navios e de estações de pesquisa na Antártida.

TENDÊNCIAS
Desde 1880, a temperatura média da superfície da Terra aumentou 0,8oC. A maior parte desse aquecimento ocorreu nas últimas três décadas.
Os cientistas consideram que, se a Terra aquecer mais de 2oC, o número de secas, furacões e enchentes aumentará perigosamente. Como nunca se emitiu tanto CO2 quanto na atualidade, a humanidade tentaria a atingir tal marca em poucas décadas.
Como a temperatura de um local em certo momento é determinada por sistemas complexos ("caóticos", no termo utilizado os cientistas), oscilações pontuais são muito frequentes. O mais importante, então, é conseguir analisar tendências de longo prazo, afirmou Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa.
O pesquisador afirma que impressiona o fato de o recorde ter ocorrido em 2014, ano que não teve o fenômeno El Niño --com ele, o oceano despeja uma quantidade enorme de calor na atmosfera, como aconteceu, por exemplo, em 1998, agora o quarto ano mais quente já registrado.
Schimidt disse que da próxima vez que um El Niño forte ocorrer, é provável que todos os recordes estabelecidos em 2014 sejam quebrados.
No final deste ano, negociadores internacionais se encontrarão em Paris para tentar fechar um acordo global que limite os gases-estufa na atmosfera. Antes disso, os países devem apresentar suas metas de emissões.

Termômetros liquidam tese do "hiato" do aquecimento

Rafael Garcia de São Paulo

Quando cientistas da Nasa apresentaram os dados que apontam 2014 como ano mais quente da história, analistas que negam a existência do aquecimento global não tardaram em se manifestar.
Uma hora depois do anúncio, o blog do meteorologista americano Anthony Watts, que se descreve como "o site sobre mudança climática mais visto no mundo", já trazia um longo artigo.
Bob Tisdale,"climatologista independente", produziu rapidamente uma dúzia de gráficos para tentar explicar por que a temperatura média de um único ano não prova a tendência de aumento das temperaturas a longo prazo.
Pelos dados da Nasa, a superfície da Terra em 2014 foi apenas 0,02oC mais quente do que em 2010 --diferença menor que a margem de erro das medições, de 0,05oC.
Os negacionistas do aquecimento global foram rápidos em notar que é impossível, na prática, saber qual dos dois anos foi o mais quente, colocando o novo recorde em dúvida. Watts e Tisdale omitiram de suas análises, porém, o ranking divulgado pela Nasa mostrando que nove dos dez anos mais quentes da história ocorreram após 2000.
O único ano excepcionalmente quente do século passado foi o de 1998, sob um forte evento de El Niño (superaquecimento das águas do Pacífico). Para climatologistas como Paulo Artaxo, um dos brasileiros no painel do clima da ONU, é relevante o fato de 2014 não ter tido um El Niño bem definido, mas ainda assim despontar como ano mais quente já visto.
Quando negacionistas da mudança climática insistem em dizer que um ano específico é menos importante que a tendência de longo prazo para entender o clima, sabotam o próprio argumento que usavam para afirmar que o aquecimento global teria entrado num "hiato" em 1998.
Quando se media a subida das médias de temperatura em períodos de dez anos, o hiato nunca aparecia, e a curva seguia ascendente. Para o cientista Gavin Schmidt, da Nasa, 2014 não será a última vez que o calor bate recorde no planeta. "Este ano foi o mais recente de uma série de anos quentes, em uma série de décadas quentes", disse.

FSP, 17/01/2015, Ciência+Saúde, p. C8

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/204384-2014-e-o-ano-mais-…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/204387-termometros-liquid…

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