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Novos caminhos para salvar a floresta

O Globo, Ciência, p. 27
27 de Mai de 2009

Novos caminhos para salvar a floresta
Obra oferece estratégia inédita de conservação da biodiversidade do Rio

Ana Lucia Azevedo

Dono de variadas paisagens de Mata Atlântica - de florestas de montanhas a restingas - o Rio de Janeiro tem também uma biodiversidade espetacular e ameaçada. O estado é o que apresenta o maior número de espécies em risco de extinção por quilômetro quadrado do Brasil - isso a despeito de possuir cerca de 0,5% do território nacional. Oferecer estratégias viáveis e efetivas para proteger essa diversidade biológica é justamente o propósito da obra "Estratégias e ações para a conservação da biodiversidade no Estado do Rio de Janeiro", lançada hoje pelo Instituto Biomas, a Fundação Cide, Uerj, a Embrapa e o Instituto BioAtlântica.
Ilhas de verde cercadas por gente
Fruto de quatro anos de trabalho, o livro contou com a participação de mais de 100 pesquisadores e lança uma nova metodologia, baseada não só nos tradicionais inventários de flora e fauna, mas em análises socioeconômicas. O Rio tem ilhas de mata cercadas por gente - é a maior densidade demográfica do país, 328 habitantes/km2. Foram realizados, por exemplo, diagnósticos de aspectos físicos (solo e hidrografia), de fauna e flora, pressão urbana, agrícola.

- O Rio é muito diversificado. Você não pode trabalhar com os mesmos parâmetros em todo o estado - explica a bióloga Maria Alice Alves, do Instituto Biomas e da Uerj, e uma das organizadoras.

Os pesquisadores usaram como base a classificação da Fundação Cide, que divide o estado em nove regiões: Petróleo e Gás Natural; Urbano-Industrial (abrange o Grande Rio); Turística dos Lagos Fluminenses; Serrana de Economia Diversificada; Turística da Costa Verde; Industrial do Médio Paraíba; Turístico-Cultural do Médio Paraíba; Serrana de Economia Agropecuária e Agropecuária dos Rios Pomba, Muriaé e Itabapoana.

Em melhor situação está a região Turística da Costa Verde, que abrange Angra dos Reis, Parati e Mangaratiba. No outro extremo, a Agropecuária dos Rios Pomba, Muriaé e Itabapoana, no norte do estado. Lá não restou quase nada da Mata Atlântica e problemas são a regra. Tudo o que sobrou foi a Serra do Monte Verde, de mil hectares.

- O que é bom para Parati não vai funcionar em Itaperuna - diz Carlos Frederico Duarte Rocha (Uerj/Biomas), outro dos organizadores.
Corredores para preservar a fauna
As estratégias propostas vão bem além da convencional sugestão de criação de unidades de conservação. Incluem, por exemplo, levantamentos de fauna e flora (o Rio é terra incógnita sob muitos aspectos), projetos de educação ambiental, recuperação de áreas degradadas, promoção de atividades que gerem renda para populações locais e programas de despoluição.

A coordenadora-geral Helena de Godoy Bergallo (Uerj/Biomas) observa que as estratégias são gerais, mas as ações propostas, muito específicas.

- Trabalhamos com três alvos: espécies endêmicas e ameaçadas, paisagens e processos ecológicos. Vimos como estão as regiões, o que causou a degradação e a partir daí oferecemos sugestões de ações. O trabalho usa um modelo de pressão e resposta e é um instrumento para políticas públicas - diz Helena.

Segundo Helena, o importante é criar corredores de biodiversidade, áreas que liguem as unidades de conservação e tornem as espécies viáveis.

A também organizadora Monique Van Sluys (Uerj/Biomas) diz que um dos méritos do livro é oferecer levantamentos atualizados para vertebrados. Embora seja um dos estados com mais pesquisa no Brasil, se sabe muito pouco sobre a fauna.

- Há regiões sobre as quais não se sabe quase nada. Espécies podem desaparecer sem que tenhamos conhecimento - alerta ela.

O Globo, 27/05/2009, Ciência, p. 27

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