VOLTAR

Impacto ambiental faz parte dos desafios da gestão

Valor Econômico, Especial, p. F6
08 de Mai de 2014

Impacto ambiental faz parte dos desafios da gestão

Por Andrea Vialli
Para o Valor, de São Paulo

Quem trafega pelo Sistema Anchieta-Imigrantes não deixa de notar a paisagem: as montanhas cobertas de remanescentes da Mata Atlântica tornam a viagem entre a Grande São Paulo e a Baixada Santista mais agradável. Tanta natureza impõe também um desafio de gestão: assegurar que a operação da rodovia e as obras de ampliação não gerem grandes impactos nas áreas de proteção ambiental, já que a estrada faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar.
A concessionária Ecovias, detentora da concessão do sistema desde 1998, enfrentou essa tarefa na ampliação da via. A construção da pista descendente da Rodovia dos Imigrantes, que durou de 1998 a 2002, foi guiada pela meta de reduzir ao máximo os impactos sobre o ambiente. Foi elaborado um plano de gestão ambiental integrado, e o consórcio responsável pela obra, formado pelas construtoras CR Almeida e a italiana Impregilo, colocou em prática inovações na obra, como um maior espaçamento entre os pilares dos viadutos (do padrão de 45 metros de distância para 90 metros) e novas técnicas de escavação de túneis. Cinco estações de tratamento de esgotos foram construídas ao longo do empreendimento para evitar que o descarte de efluentes da obra contaminasse a água das nascentes. Foi feito um monitoramento de fauna antes e depois das obras, de modo a avaliar os impactos nos padrões de deslocamentos dos animais.
As medidas de gestão ambiental permitiram que a segunda via fosse construída com um impacto sobre a vegetação muito menor em comparação com a construção da primeira pista da Rodovia dos Imigrantes, em 1970. Na época, foram suprimidos 1.600 hectares de floresta - impacto reduzido a 40 hectares desmatados na construção da segunda pista
O empenho fez com que a obra fosse considerada uma referência mundial em gestão de obra de infraestrutura pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e garantiu ainda a certificação ambiental ISO 14001, até então inédita no segmento. "Foi uma mudança de padrão no modo de construir e operar uma estrada", afirma Artaet Martins, assessor de sustentabilidade do Grupo EcoRodovias.
De acordo com Martins, o Sistema Anchieta-Imigrantes, por onde trafegam mais de 30 milhões de veículos todos os anos, se transformou em um laboratório de teste para outras inovações na área de sustentabilidade. Uma delas é o uso do asfalto borracha, pavimento fabricado com 15% de pó de borracha de pneus inservíveis - todos os anos, são coletados cerca de 2000 pneus velhos. O asfalto é utilizado para manutenção da pista e garante, além de uma destinação correta para os pneus velhos, o benefício adicional de aumentar a segurança na estrada.
Na Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro e é administrada pelo grupo CCR, o plano é articular os 36 municípios ao longo da via em torno de uma rede colaborativa voltada à sustentabilidade. O projeto, batizado de Estrada Sustentável, foi lançado durante a Rio+20, em junho de 2012, a partir de um diagnóstico que levantou dados socioeconômicos, demográficos, frota, saúde, segurança e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dos municípios. Com base nesses estudos, vêm sendo traçadas ações que envolvem prefeituras, entidades públicas, universidades e terceiro setor com o objetivo de aplicar o conceito de sustentabilidade ao dia a dia da rodovia. A concessionária também faz campanhas de coleta de celulares e baterias usadas nas 12 unidades da CCR Nova Dutra e nos postos de serviços localizados ao longo da via.

Selo verde certifica boas práticas

Por Andrea Vialli
De São Paulo

O mercado de certificações ambientais está em expansão no Brasil: de produtos florestais e alimentos ao setor de construção, os selos que atestam boas práticas ambientais chegam a registrar taxas de crescimento de até 51% ao ano - caso de certificações como a americana Leed, voltada à construção civil. De olho nesse mercado, a TÜV Rheinland do Brasil, empresa de origem alemã que atua no ramo de certificação, lançou em 2013 o selo Rodovias Verdes, destinado à certificação de rodovias com base em critérios sociais e ambientais.

O público alvo do selo são os grupos privados que operam as principais estradas brasileiras desde que o processo de concessões de rodovias teve início, no final da década de 1990. De lá para cá, cresceu também a demanda por sistemas de gestão ambiental, como a ISO 14001, e o mercado de capitais passou a observar indicadores de desempenho nas esferas social, ambiental e de governança corporativa - tendência que ficou evidente com a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa. "Com o processo de privatização das rodovias, identificamos que havia uma oportunidade de mercado para um selo que aliasse critérios de meio ambiente e responsabilidade social", explica Rita Toscano, coordenadora da área de construção sustentável da TÜV Rheinland do Brasil.

A inspiração, segundo Rita, veio de selos com perfil semelhante que já são concedidos fora do Brasil - caso do francês Certivea Route Durable e do americano Greenroads - este criado na Califórnia e voltado ao uso de materiais alternativos nas rodovias, como asfalto fabricado com pneus reciclados. "Construímos um selo que combina demandas socioambientais existentes no exterior, mas adaptado à realidade brasileira", diz Rita. Critérios sociais, como boas práticas trabalhistas, registro na carteira de trabalho e combate ao trabalho infantil também foram incluídos.

Para obter o selo, a empresa detentora da concessão de rodovia precisa, em primeiro lugar, pontuar em pré-requisitos obrigatórios, como a realização de EIA-RIMA (estudo e relatório de impactos ambientais, uma exigência da legislação), gerenciamento de resíduos, gestão de ruído, prevenção da poluição, gestão do pavimento, entre outros. Depois, a empresa é avaliada e pode obter pontos em itens mais específicos, como gestão de riscos, água e ambiente, materiais e recursos, acessibilidade, equidade, materiais e tecnologias de pavimentação. A certificação tem quatro graus - básica, prata, ouro e platina.

Valor Econômico, 08/05/2014, Especial, p. F6

http://www.valor.com.br/brasil/3540046/impacto-ambiental-faz-parte-dos-…

http://www.valor.com.br/brasil/3540048/selo-verde-certifica-boas-pratic…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.