VOLTAR

Vencedor quer mudar projeto de Belo Monte

FSP, Dinheiro, p. B4
23 de Abr de 2010

Vencedor quer mudar projeto de Belo Monte
Consórcio Norte Energia tem estudo que prevê alterações nas escavações dos dois canais, reduzindo preço em ao menos R$ 2 bi
Para otimizar ainda mais as obras nos canais, consórcio deverá ganhar em breve um integrante de peso: a Vale, especialista em escavações

Leila Coimbra
Valdo Cruz
Da sucursal de Brasília

O consórcio Norte Energia, que arrematou em leilão a concessão da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, tem estudos que mudam o projeto de construção da usina e devem reduzir os custos da obra em pelo menos R$ 2 bilhões.
A Folha apurou que as mudanças serão principalmente nas escavações dos dois canais, cada um com cerca de 30 quilômetros de extensão, e cujo volume de terra a ser retirado (de 230 milhões de m3) é maior do que o retirado na construção do canal do Panamá.
Para otimizar ainda mais as obras nos canais, o consórcio deverá ganhar em breve um integrante de peso: a Vale, que estava associada ao grupo perdedor e possui larga experiência em escavações.
Estudos feitos pela mineradora apontam a possibilidade de fazer as obras da usina com um preço próximo dos R$ 25 bilhões, sem contar os incentivos concedidos pela União, o que reduz o valor para algo perto dos R$ 19 bilhões calculados pelo governo. As grandes empreiteiras estimavam a obra em R$ 30 bilhões.
A Vale pode integrar o Norte Energia numa terceira etapa (após setembro), quando o edital permite esse tipo de mudança societária. Nessa primeira fase, até a outorga da concessão, isso não é possível.
Além da Vale, negociam entrada no projeto outros autoprodutores (indústrias interessadas na energia da usina para consumo próprio), como CSN, Alcoa, Gerdau e Braskem.

Pagamento de garantia
Integrantes do consórcio se reúnem hoje para tentar definir quem fica, a entrada de novos sócios e a parcela de cada um no pagamento da garantia de R$ 1,4 bilhão (5,5% do investimento), chamada de "depósito de fiel cumprimento", que terá de ser feito até o dia 17 de agosto. A documentação deve ser entregue até 10 de maio.
A Queiroz Galvão agora quer permanecer no grupo, mas devido aos atritos com os outros sócios ainda não se sabe se ela permanecerá no consórcio. Há dúvidas sobre a capacidade financeira da J. Malucelli de permanecer no Norte Energia.
Cálculos iniciais apontavam os custos de construção dos canais em torno de R$ 6 bilhões, mas as empreiteiras estimavam que esse valor poderia subir devido às incertezas geológicas. Se os custos com as escavações saírem aquém do esperado, a usina poderá sair por até menos de R$ 19 bilhões, segundo relato à Folha de técnicos envolvidos nas negociações.
Se for feita, não é a primeira vez que há mudanças no projeto que reduzem os custos das obras de uma hidrelétrica. No leilão de Jirau, no rio Madeira, a própria Chesf saiu vencedora, em parceria com a Suez, mudando no projeto o eixo da usina e conseguindo com isso uma redução de R$ 1 bilhão na obra.
O ministro Márcio Zimmermann (Minas e Energia) disse à Folha que os grupos vencedores do leilão "não são amadores" e "vão cumprir o compromisso assumido" na disputa da concessão da usina.
Segundo ele, o governo está tranquilo com o resultado do leilão. "Conseguimos uma das tarifas mais baixas de energia do país, o que vai beneficiar os consumidores e dar competitividade ao setor privado."

"Novos sócios"
O ministro diz não temer um recuo do consórcio Norte Energia devido ao preço ofertado, que o mercado estaria considerando muito baixo. Setores do próprio governo têm essa preocupação, mas avaliam que o resultado será um lucro menor para os ganhadores.
"Digo que a Chesf é a maior geradora do Brasil, as empresas parceiras são grupos fortes. Então, estamos tranquilos quanto ao futuro da usina."
Ele afirmou ainda que o consórcio está passando por uma fase "normal de acomodação" e que há espaço para outros sócios. "É natural que uma obra desse tamanho abra possibilidade para participação de muitas empresas."

FSP, 23/04/2010, Dinheiro, p. B4

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2304201010.htm

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.