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Sigatoka-negra chega aos bananais do Vale do Ribeira

OESP, Agricola, p.G3
30 de Jun de 2004

Sigatoka-negra chega aos bananais do Vale do Ribeira
Doença pode reduzir em até 100% a produção e deve modificar mercado da nanica e prata
JOSÉ MARIA TOMAZELA
A sigatoka-negra, a mais temível doença já diagnosticada na bananeira, chegou ao Vale do Ribeira, uma das principais produtoras da fruta no País. Um foco da doença, causada por um fungo, foi localizado em Miracatu. A região produz 1 milhão de toneladas de banana por ano, quase 20% da produção nacional. A nanica e similares, a mais consumida e apreciada, e também a mais suscetível à doença, ocupa 70% da área. A presença do fungo foi confirmada pelo Instituto Biológico de São Paulo. "É uma catástrofe econômica para o Vale do Ribeira", diz o agrônomo Alexandre Santos, do Centro de Pesquisas Agronômicas da Secretaria. "Os 200 mil habitantes do Vale dependem muito dessa cultura e nem todas as tecnologias de controle estão acessíveis ao produtor." Segundo Santos, a chegada da doença, antes presente apenas nas Regiões Norte e Centro-Oeste do País, vai alterar profundamente a bananicultura paulista. "O agricultor deverá encarar a planta como uma unidade de produção, pois os custos envolvidos nos tratamentos fitossanitários serão expressivos." As plantas fora do sistema produtivo deverão ser eliminadas, caso contrário, viram foco de disseminação da doença. Para controlar a doença, o número de aplicações com fungicidas deverá ser muito maior, usado para prevenir a sigatoka-amarela. "Hoje se fazem quatro ou cinco aplicações, mas para a sigatoka-negra serão necessárias 15 ou mais."
Região interditada
Técnicos da Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria já isolaram o bananal onde surgiu o foco. Segundo o diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Eduardo Monteiro de Campos Nogueira, estão sendo tomadas as providências para retardar a disseminação. A região foi interditada, ou seja, a banana do Vale já não está sendo enviada para outras regiões do Estado. "Quanto mais rápido conseguirmos segurar a sigatoka, melhor", disse. Embora o esporo possa caminhar até 50 quilômetros, o local onde apareceu o foco é isolado por vales e áreas montanhosas, o que pode retardar a disseminação.
Prata e nanicão
A sigatoka-negra é causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis. Em todas as regiões do mundo onde ocorre, constitui-se no principal fator de queda na produtividade, com reduções de até 100% na produção comercial de bananas do tipo prata e nanicão. Segundo o pesquisador Luadir Gasparotto, da Embrapa, a doença, quando comparada com a sigatoka-amarela, é extremamente destrutiva, pois provoca a morte prematura das folhas, ataca um número muito maior de cultivares de bananeiras e, nas regiões quentes e úmidas, exige até 52 pulverizações por ano com fungicidas protetores ou 26 com sistêmicos para seu efetivo controle.
Segundo Gasparotto, os primeiros sintomas são pequenas pontuações claras ou áreas despigmentadas. Essas pontuações progridem, formando estrias marrom-claras, que podem atingir 2 ou 3 milímetros de comprimento. Nos estágios finais, as lesões têm cor branco-palha com pontuações escuras. Uma das formas de retardar a disseminação do fungo é impedir o transporte de mudas infectadas e o uso das folhas para proteger os frutos de ferimentos durante o transporte. Ao mesmo tempo, utilizar produtos químicos para desinfestação das embalagens e do veículo nas áreas contaminadas.
Nos municípios onde a doença ainda não ocorre, deve-se observar os princípios de exclusão, ou seja, regulamentar ou proibir o trânsito de materiais botânicos de hospedeiros suscetíveis que possam introduzir o patógeno. Nos locais onde a doença já ocorre, é recomendado o controle genético com o uso de cultivares resistentes ou o controle químico com o uso de fungicidas. Já o controle químico pode ser usado por produtores das áreas comerciais mais tecnificadas.
Mudança de hábito
Os apreciadores da banana nanica podem ir se preparando para pagar mais caro pela fruta. A chegada da sigatoka-negra nos bananais do Vale do Ribeira, maior região produtora do País, vai acarretar profundas alterações na relação dessa fruta com o mercado, segundo Gasparotto. "A única saída para quem continuar produzindo nanica é o controle químico, mas os custos vão aumentar", disse.
Com mais pulverizações, também os problemas de contaminação ambiental tendem a ser maiores, o que constituirá uma forma de desestímulo a novos cultivos.
Segundo ele, novos tipos de banana deverão entrar no mercado. As frutas vão atender, primeiramente, as crianças, que aceitam mudanças com maior facilidade.

OESP, 30/06/2004, p. G3 (Agrícola)

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