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Sigatoka deixa produtores alertas

OESP, Agricola, p.G6-G7
16 de Fev de 2005

Sigatoka deixa produtores alertas
Doença comum na região amazônica chega ao Vale do Ribeira, maior produtor de bananas do País

Bananicultores da região de Registro (SP), no Vale do Ribeira, estão em estado de alerta por causa da proliferação da sigatoka negra, doença causada por um fungo originário da América Central e bastante comum na região amazônica. Os possíveis estragos na plantação, segundo especialistas, podem ser devastadores. Seu mal é secar as folhas da bananeira, estrutura responsável por enviar os nutrientes responsáveis pelo enchimento e crescimento dos frutos. Sem alimento, os cachos não se desenvolvem e as perdas podem chegar a 100% da produção, até com a morte da planta.
O controle deve ser feito de preferência no início da infestação, com aplicação aérea de fungicidas, para cobrir toda a área. "A doença tem quatro estágios, sendo possível controlar até o estágio três. Daí para a frente, nada mais segura a doença", diz o fitopatologista do Instituto Biológico de São Paulo, Wilson Moraes, da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta).

Especialista no assunto, ele comenta que a sigatoka negra tem se comportado de forma diferente no Vale do Ribeira se comparada a outros Estados, como o Amazonas. "Até pouco tempo, havia a dúvida se a doença conseguiria se desenvolver numa região de clima subtropical, como temos em São Paulo", diz. Até agora, segundo ele, a praga tem se manifestado de forma um pouco mais branda. "No Norte do Brasil e na América Central, são necessárias pulverizações semanais para controlar a infestação."

Por enquanto, comenta o pesquisador, produtores de São Paulo têm conseguido controle com apenas uma aplicação mensal, a exemplo do bananicultor João Luiz Ademar Albanaz, produtor de 700 caixas semanais de 12 quilos, em 25 hectares, cultivados com 45 mil pés. Ele explica que realmente uma aplicação mensal tem sido suficiente para segurar a doença. "Estamos aplicando desde novembro, época em que foi dado o primeiro alerta pela Casa da Agricultura de Registro."

Embora ainda esteja gastando menos do que produtores do Norte do País, ele reclama que o número de aplicações dobrou desde o alerta. "Antes do aparecimento da sigatoka negra por aqui, eu fazia, em média, cinco pulverizações por ano", diz. "Agora vou fazer pelo menos dez."

Albanaz ainda não calculou quanto esse aumento vai significar no seu custo de produção. Ele diz, porém, que o gasto com fungicida é pequeno em relação aos prejuízos que a doença pode causar. "Espero só que não necessitemos aumentar o número de aplicações", diz. Ele relata que em sua região muitos de seus colegas produtores ainda não acreditam que a infestação possa realmente fazer os estragos previstos pela pesquisa. "Dá para perceber que existe muito bananal infestado por aí, com as folhas caindo. Tenho até pena de quem não se cuidar. Eu estou fazendo a minha parte."

PROBLEMA

A observação de Albanaz tem sido motivo de preocupação para o diretor da Regional de Registro Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Luiz Antonio Penteado, da Secretaria de Agricultura paulista. Ele conta que identificou o fungo pela primeira vez em maio do ano passado, num bananal em Miracatu (SP). Segundo o extensionista, especialista em sigatoka negra, a doença se manteve "comportada" até a semana passada. No entanto, com o aumento da temperatura dos últimos dias, "muitos bananais estão ficando queimados de forma muito rápida", diz.

Um dos problemas, de acordo com Penteado, é a grande quantidade de bananais que não recebe tratamento, seja por estarem abandonados, ou porque os produtores ainda não se deram conta do risco que correm. "Quem não tomar as providências necessárias pode perder tudo", avisa.

Embora o especialista esteja ciente de que os impactos da doença ainda sejam imprevisíveis, ele estima que no prazo de dois a quatro anos os bananais que não forem tratados provavelmente serão destruídos pelo fungo.

SOLUÇÃO

Penteado tem recomendado a produtores de sua regional procurar as casas da agricultura de suas cidades e pedir informações sobre uma linha de crédito especial, lançada pelo Governo do Estado, para a renovação dos bananais com variedades tolerantes à sigatoka negra. "Estão disponíveis R$ 2 milhões", informa. Ele explica que há um limite de R$ 36 mil por produtor, para cobertura máxima de 3 hectares. Para conseguir a liberação do dinheiro é preciso primeiramente apresentar um projeto. "Serão feitas algumas exigências que visam a evitar fraudes e ajudar o produtor a aplicar bem os recursos. Todas as informações estão disponíveis, é só se informar."

Interessado no assunto, Isaque Albanaz, irmão e sócio de João Luiz, diz que vai procurar o financiamento. "Faz tempo que estão falando desse dinheiro, agora vou tentar renovar parte do bananal para fugir dessa doença."

SAIBA MAIS:

Casa da Agricultura de Registro, tel. (0--13) 3821-3444,

Apta. tel. (0--13) 3821-2282

Fungo é estudado no campo
Cerca de 40 espécies do patógeno causam a doença nos bananais do País

Ibiapaba Netto

Segundo a Embrapa Mandioca e Fruticultura, de Cruz das Almas (BA), há cerca de 40 raças diferentes do fungo causador da sigatoka negra no País. Mesmo com essa grande variedade de raças, a manifestação é sempre semelhante, conforme informa o pesquisador da Apta, Wilson Morais. "A folha da bananeira fica com pintas e estrias marrons, cor de café", diz.
Visando a tentar estabelecer um padrão de comportamento do fungo em São Paulo, o que não foi definido até agora, Morais montou um grupo de observação com o auxílio de estudantes de agronomia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Três diferentes pontos foram marcados: em Registro, Jacupiranga e Miracatu. "Observamos o desenvolvimento da doença em áreas tratadas conforme a recomendação técnica e em áreas sem tratamento e comparamos os dados para que tenhamos uma idéia do comportamento do fungo em nossa região", explica. Dados como temperatura e umidade relativa do ar são colhidos durante as análises, para que possa ser realizado um cruzamento de dados.

Interessado no assunto, o agricultor Izidoro Nakagawa, de Registro, tem seguido as recomendações técnicas, mas teme que a situação possa piorar. "É importante que a pesquisa possa nos falar como proceder com essa praga", diz. Ele conta que ainda não ter um dado fixo sobre a variação do seu custo de produção por causa do aumento das aplicações de fungicida contra a sigatoka negra. Ressaltou que os bananicultores estão acostumados ao combate à sigatoka amarela, doença comum em sua região. Entretanto, com o aparecimento do novo fungo, há muito boato e especulação. "Tem muita gente falando que o problema é grave, mas ninguém sabe direito o que é, por isso seria importante termos uma posição da pesquisa sobre o que teremos de enfrentar", comenta.

ESTUDO

O resultado desse trabalho, segundo Morais, servirá como base para futuras recomendações técnicas. Embora o trabalho esteja apenas começando, ele comenta que alguns detalhes podem ser observados desde o início. "Até o momento pode-se afirmar que o desenvolvimento da doença está estagnado, ou seja, ele vem se mantendo da mesma forma, sem grandes variações", diz. Numa das propriedades visitadas naquela semana, porém, o termômetro marcava temperatura de 29 graus e umidade relativa do ar de 80%. "Nessas condições de clima, o fungo se desenvolve muito rápido e há forte tendência de ele se espalhar mais rapidamente", comenta.

Conforme Morais, a situação está sob controle para aqueles que seguem as recomendações. "Os dados ainda são muito novos, mas estamos trabalhando."

Injeção de fungicida é novidade
Técnica, experimental, é ideal para pequenos e médios produtores

Ibiapaba Netto

Uma nova técnica, em fase experimental, pode revolucionar o tratamento da sigatoka negra para pequenos e médios produtores. Trata-se da aplicação de uma "injeção" de fungicida no tronco da bananeira. Segundo o autor do método, o pesquisador aposentado Raul Moreira, do Instituto Agronômico de Campinas, os efeitos obtidos têm sido animadores, gerando economia de 90% com defensivos. Segundo a gerente do Sítio Planalto, produtor de banana, Ione Meneghini, de Paulínia (SP), "os resultados são tão bons ou superiores aos da aplicação convencional", diz.
"O preparo da solução é feito colocando-se a quantidade de fungicida recomendada pelo fabricante para a pulverização de 1 hectare, em um recipiente plástico ao qual se adiciona água até completar 5 litros", diz Moreira.

Segundo ele, a solução deve ser utilizada no mesmo dia e não há restrição à aplicação das injeções nas bananeiras quanto ao clima ou horário. Aplicam-se apenas 3 mililitros por família de bananeira, no pseudocaule da planta, uma extensão da folha.

A agulha é introduzida quase que tangencialmente, para que atinja a segunda ou terceira bainha mais externa da bananeira. "Basta introduzir a injeção mais ou menos voltada para o solo uns 45o", diz. A altura correta da aplicação, segundo ele, é na altura do ombro do operário, que deve estar em pé (cerca de 1,5 metro da altura da planta, a partir do chão).

Outra técnica de aplicação é na base do primeiro "filho" da bananeira, na junção entre o caule e a raiz. Isso porque a bananeira principal se alimenta deste "filho" e a planta consegue, assim, conduzir o fungicida para toda a planta.

Moreira comenta que os equipamentos utilizados têm de ser aprimorados. "Uso uma seringa de recarga automática, para animais, equipada com uma agulha de mastite de boi", explica o pesquisador. Para reforçar o sistema, ele aplica massa epoxi em 30% ou 40% da base da agulha. "Isso evita que ela se quebre", ressalva Moreira. Para ajudar no trabalho, Moreira recomenda uma garrafa plástica de 1 a 2 litros para alimentar a seringa por meio de um tubo plástico.

O pesquisador comenta que, embora os fungicidas comerciais não estejam registrados para esse tipo de uso, há diversos benefícios, como a não-utilização de óleo mineral, o baixíssimo risco de intoxicação dos operários que fazem o trabalho, além de reduzir a poluição ambiental causada pela aplicação aérea. "Além disso, as pesquisas mostram que o produto se biodegrada dentro da planta, eliminando riscos de resíduos", completa. A aplicação deve ser refeita sempre que ressurgirem os primeiros sintomas.

OESP, 16/02/2005, Agrícola, p.G6-G7

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