VOLTAR

Sem alterar regras, crise de hidrelétricas deve se agravar

FSP, Mercado, p. B5
28 de Set de 2014

Sem alterar regras, crise de hidrelétricas deve se agravar
Após usina Santo Antônio, Jirau e Belo Monte temem problema com multas
Especialistas criticam determinação para turbinas ficarem quase 100% disponíveis já na fase de instalação

Júlia Borba Dimmi Amora de Brasília

As hidrelétricas de Jirau e Belo Monte podem amargar a crise enfrentada pela usina de Santo Antônio se o governo não alterar as regras de funcionamento de turbinas.
Pelas normas vigentes, há uma meta de disponibilidade que as máquinas devem cumprir. Trata-se do tempo, em um mês, em que elas devem ficar prontas para serem usadas, dependendo apenas de um comando do Operador Nacional do Sistema Elétrico.
A meta existe para fixar um padrão de funcionamento, com margem pequena para falhas eventuais ou reparos.
No caso de Jirau e Santo Antônio, que estão sendo construídas no Rio Madeira (RO), a disponibilidade das turbinas deve ser de 99,5%.
O problema, segundo as empresas, é que usinas como Jirau, Santo Antônio e Belo Monte --que não possuem grandes reservatórios e usam as quedas naturais dos rios para gerar energia-- só conseguirão atingir essas taxas quando todas as suas turbinas estiverem operando.
Na montagem das usinas, as turbinas são instaladas uma a uma e começam a operar a cada dois ou três meses. O governo, porém, cobra a meta a partir do funcionamento da primeira turbina, anos antes do fim do projeto.
Em Belo Monte, que está sendo construída no rio Xingu, as máquinas terão de ficar 100% disponíveis na casa de força principal e 94,46% na de menor potência, diz a Norte Energia, responsável pela usina. A empresa diz que cumprirá a meta, mas que "se adequará às regras de mercado" em casos de atrasos ou paradas não planejadas.
A punição às usinas que não cumprem as metas é aplicada sobre o tempo em que as turbinas ficarem indisponíveis, e o valor segue o preço da energia no mercado.
Por causa do uso maciço de usinas térmicas neste ano, esse preço paira próximo ao teto (R$ 823 o MWh), o que torna a conta bilionária --a empresa responsável pela usina de Santo Antônio, por exemplo, diz que vai perder cerca de R$ 2,3 bilhões.
"Ainda não estamos enfrentando problema, mas vai ocorrer conosco", disse Victor Paranhos, presidente da empresa Energia Sustentável do Brasil, responsável por Jirau. "Na fase de motorização [instalação das turbinas], é impossível cumprir a meta."
A empresa aguarda a análise do caso de Santo Antônio pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para decidir o que fazer.
Os administradores de Jirau dizem que o problema ainda é pequeno, pois há apenas 13 turbinas funcionando comercialmente, de 50. A usina atinge quase toda a meta.
Santo Antônio tem 32, de 50, com 91% de disponibilidade. "Atingir essa meta é ficção", disse o presidente da Santo Antônio Energia, Eduardo de Melo Pinto.
"Os gastos que temos vêm tornando o projeto desinteressante para o acionista, que já está no limite da exaustão."
Em Belo Monte, onde as turbinas ainda estão sendo instaladas, as regras já poderão ter sido alteradas quando a operação começar. Se isso não ocorrer, especialistas preveem os mesmos problemas de Santo Antônio e Jirau.
Procurada, a Empresa de Pesquisa Energética informou que esse tema é de responsabilidade da Aneel. A agência não respondeu o pedido da reportagem.

FSP, 28/09/2014, Mercado, p. B5

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/187894-sem-alterar-regras-cris…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.