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Ongs põem Guarapiranga no mapa

JT, Geral, p. 13A
04 de Nov de 1996

Ongs põem Guarapiranga no mapa
Mapas digitais identificam problemas da bacia, cujo manancial fornece 20% da água da região metropolitana de São Paulo

'Com a recuperação da Guarapiranga, o que vamos evitar é um colapso total'
(De Mário Mantovani, superintendente da SOS Mata Atlântica)

Ubiratan Muarrek

Concluída em 1912 para a produção de energia elétrica da então Light, a Represa de Guarapiranga é "redescoberta" agora em mapas digitais que a situam dentro de sua bacia e identificam seus principais problemas - numa tentativa de ambientalistas de deter o que consideram o "colapso total iminente" do manancial que fornece 20% da água da região metropolitana de São Paulo.
O trabalho, chamado Diagnóstico Socioambiental Participativo Preliminar da Bacia Hidrográfica da Guarapiranga, é resultado da primeira fase do Projeto Ecoscambio, que reuniu sete Organizações Não-Governamentais brasileiras em parceria com as instituições italianas COCIS (Coordenação das ONGs de Cooperação Internacional) e Legabiente, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado.
A represa e sua bacia foram submetidas a um levantamento de informações cartográficas e estatísticas, que incluiu pesquisa intensa de índices e indicadores junto a entidades públicas e privadas, fotos por satélite e muitas horas de computador.
Expansão urbana, áreas de vegetação original ou plantada, desmatamento, lançamento de esgoto, invasões, mineração, acúmulo de lixo e solo exposto são alguns dos temas que podem ser vistos e analisados em doze diferentes mapas.
A comparação de imagens atuais com fotos de satélite da região feitas em 1989, adquiridas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostra a contínua degradação da bacia, formada por rios e córregos em sete municípios e que tem como ponto mais baixo a represa de Guarapiranga, localizada 90% na região metropolitana de São Paulo.
"Pela primeira vez foi feito um estudo amplo da bacia", diz João Paulo Capobianco, secretário executivo do Instituto Socioambiental, uma das sete ONGs locais que participaram da confecção do diagnóstico. "Isso permitiu assistir à sua degradação como se fosse um filme".
Para o secretário estadual do Meio Ambiente, Fábio Feldmann, o diagnóstico pode ajudar a definir políticas públicas. "Nossa proposta para a área e a parceria e a co-gestão".
Mais do que servir à contemplação, o material sugere uma mudança dos critérios de avaliação para a região. "Pretendemos colaborar no direcionamento das ações previstas no Projeto Guarapiranga, no sentido de que elas enfrentem os problemas prioritários", diz Capobianco "O estudo tem uma série de indicadores ambientais novos", diz Hugo Marques da Rosa, secretário estadual dos Recursos Hídricos e coordenador do projeto.
Outro ponto que, segundo Capobianco, poderá ganhar novas abordagens é a discussão do novo projeto para a Lei de Proteção de Mananciais. Elaborado sob a coordenação da secretaria estadual do Meio Ambiente, o novo projeto está sendo discutido por entidades e prefeituras da região de proteção de mananciais e deverá ser encaminhado à Assembléia até o final do mês.
"Fizemos um mapa específico para verificar de que forma a lei anterior foi de fato cumprida. Pode-se conhecer concretamente no ela falhou e no que o novo projeto pode avançar", diz.
Com a recuperação da bacia - devastada ecologicamente, invadida em áreas criticas por favelas e loteamentos irregulares e sujeita diariamente a toneladas de fixo e esgoto - não se trata, porém, de diminuir a defasagem de 20% do abastecimento de água em São Paulo.
"Com a recuperação da Guarapiranga, o que vamos é evitar um colapso total", diz Mário Mantovani, superintendente da SOS Mata Atlântica, que participou da confecção dos mapas.
Para Mantovani, seriam necessárias outras ações: uma política de recursos hídricos, uma nova lei de proteção de mananciais e soluções pontuais, como a perda de água nos encanamentos da Cidade.
Foram elaborados ainda uma base de dados computadorizada sobre 17 temas de trabalho, como uso do solo, urbanização e cobertura de vegetação, e dez análises sócio-ambientais obtidas do cruzamento de dados e imagens levantadas.

Imagens comprovam devastação
Vegetação diminui 10%

A situação crítica da bacia da Guarapiranga fica mais "visível" em uma análise do que se deu na região nos últimos sete anos.
A comparação de imagens de satélite feitas em 1989 e em 1996 mostra, por exemplo, que a área de vegetação densa (mata atlântica, matas e florestas naturais ou plantadas), que correspondia a 33,51% da bacia, diminuiu para 25,43% - cerca de 10% em sete anos.
Com o solo exposto (terra nua, sem asfalto e cobertura vegetal) foi o contrário: correspondia a 24,31 % da bacia em 89 e cresceu para 31,9% em 96.
"Quanto mais solo exposto, menos absorção da água da chuva, mais corredeiras e erosão", lembra João Paulo Capobianco, secretário executivo do Instituto Socioambiental.
Os índices de urbanização também são preocupantes: 12,72% da bacia era ocupada por áreas construídas em 89 contra 16,37% em 96.
Agravantes: a expansão urbana é irregular, não planejada e ocorre prioritariamente em áreas de forte restrição à ocupação. De toda a bacia, apenas: a área de primeira categoria' é considerada favorável à ocupação - cerca de 13 % da área total.
Em 96, apenas 7,76% da urbanização verificada se encontra nessa categoria; 65,21% da urbanização é feita em áreas com severas restrições à ocupação urbana.
Graves se considerados isoladamente, a real abrangência dos índices obtidos se dá na justaposição.
"De um lado, verificamos que diminuiu a vegetação densa; de outro, que aumentou o solo exposto, e por fim, a urbanização irregular", analisa Capobianco. "Só então temos de fato o panorama crítico que atravessa toda a bacia da Guarapiranga".

JT, 04/11/1996, Geral, p. 13A

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