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O renascimento dos Waimiri Atroari: Nascimento do milésimo descendente faz os "guerreiros da floresta" comemorarem a vida

JB, JB Ecológico, p. 34-35
07 de Jan de 2004

O Renascimento dos Waimiri Atroari
Nascimento do milésimo descendente faz os "guerreiros da floresta" comemorarem a vida

Luiza Mello

Os índios Waimiri Atroari apresentaram para o mundo, no dia sete de dezembro, última lua cheia de 2003, o pequeno Iawaraky o milésimo indiozinho nascido em suas terras, hoje demarcadas e sem nenhum invasor no norte do Amazonas, quase divisa com o Estado de Roraima. O seu nascimento significa a garantia de "vida" para toda a etnia dos Atroari, que já tinham chegado a apenas 374 indivíduos em 1968, uma vez que, a partir deste número alcançado agora, segundo os indigenistas, a sua raça está fora da extinção, razão da grande festa que fizeram para comemorar.

Poucos brancos foram convidados. Somente aqueles, segundo a tradição Waimiri, que contribuíram para que a sua população tivesse sobrevivido à todas as atrocidades sofridas nas últimas décadas, como invasões de suas terras, confrontos com o exército, contaminação de doenças como malária e sarampo, entre outras violências.

O "marybá" (lê-se marubá, em português) que é o nome da festa de um povo que já foi conhecido anteriormente por "guerreiros da floresta", aconteceu na aldeia Iawará, seguindo o ritual de dançar dias e noites seguidas. Eles receberam os convidados em uma imensa fila que dava volta na maloca.

É costume dos Waimiri apertar as mãos dos que os visitam. Por isso, os convidados puderam cumprimentar, um a um, os mais de mil índios presentes ao evento. Enquanto os homens eram saudados, as mulheres ficavam atrás fazendo um ritual de danças. Em seguida, quando as mulheres se enfileiravam, cabia aos homens dançarem em volta da maloca em homenagem aos convidados. No rosto de cada um dos guerreiros estava estampada a alegria de poderem dançar para aqueles que colaboraram para a sua sobrevivência.

Preservados - "Digam ao mundo que vivemos", foram as palavras usadas pelo cacique Mario Pawere, ao saudar e agradecer os seus convidados brancos. Os Waimiri Atroari hoje vivem em situação privilegiada. Eles se encontram livres da ameaça de extinção que os perseguiu durante décadas. Seu destino mudou desde que se encontraram com o indigenista José Porfírio Carvalho, que os levou até as Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte). A empresa estatal de energia é quem financia e mantém o Programa Waimiri Atroari, como forma de mitigar os impactos causados pela construção da Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas.

Os Kinjá (lê-se kinhá, que é a sua auto-denominação) estão a um passo da auto-suficiência. Vivem em uma área de 2,5 milhões de hectares. Têm cultura alimentar própria e comercializam o excedente da produção de banana, mandioca e outras culturas de subsistência. Resgataram sua memória cultural e transformaram a taxa de mortalidade de 20% ao ano em crescimento de 7% no mesmo período.

Para auferir tamanha mudança e esperança, nessa última lua cheia de 2003, enquanto realizaram o "marybá", quase três meses após o nascimento do pequeno Iawaraky correu-se a informação de que 1.015o bebê Waimiri Atroari já havia nascido.

Portanto, naquele Domingo iluminado, mais do que comemorar o nascimento de Iawaraky, eles dançaram em comemoração à vida e sobrevivência restauradas.

Uma história de sobrevivência

Antes de 1986:
População: 374 indivíduos.
Redução Populacional: 20% ao ano.
Produção: pequenas roças e dependência alimentar externa.
Cultura: em processo de perda dos valores culturais, não realizando mais as principais manifestações de seu patrimônio e em fase de desmoralização enquanto etnia.
Escolas: inexistentes e desconhecimento .da escrita.
Saúde: epidemias de sarampo, malária e gripes, subnutrição, diarréias crônicas, nenhum atendimento odontológico, falta de vacinação e qualquer controle sobre a saúde.
Terra: não delimitada, nem demarcada e com processo de invasão em andamento. Situação fundiária totalmente irregular.
Situação atual:
População: 1.015 indivíduos.
Crescimento Populacional: 7% ao ano
Produção: grandes roças, estoque de animais para abate (peixes e gado) e total independência alimentar.
Cultura: resgate de todas as práticas culturais e de sua dignidade como povo indígena.
Escolas: 19 escolas com 40 professores indígenas, 50% da população Waimiri Atroari alfabetizada e o restante em processo de alfabetização.
Saúde: nenhuma doença imunoprevenível nos últimos 10 anos, controle total das doenças respiratórias, boa nutrição, controle de malária e de outras doenças endêmicas. Vacinação de 100% da população contra todas as doenças imunopreveníveis. Controle informatizado da saúde dos Waimiri Atroari.
Terra: demarcada, homologada, sem nenhum invasor. Fiscalização sistemática dos seus limites e dos transeuntes das estradas existentes dentro das terras indígenas Waimiri Atroari. Situação fundiária totalmente regularizada, com registro em cartório de imóveis e serviço de patrimônio da União.

JB, 07/01/2004, JB Ecológico, p. 34-35

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