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ÍNDIOS DESNUTRIDOS

Zero Hora-Porto Alegre-RS
Autor: Carlos Wagner
10 de Jan de 2002

Moradia precária afeta saúde de crianças indígenas

A maioria dos casebres tem uma única peça
A precariedade das casas habitadas pelos índios caingangues é uma das causas da morte e da maioria das doenças das crianças indígenas.

A essa conclusão chegaram ontem, em uma reunião, os líderes das oitos aldeias que fazem parte da Reserva Indígena da Guarita, um área de 20 mil hectares, nos municípios de Tenente Portela, Miraguaí e Redentora.

A preocupação com a saúde dos filhos cresce entre os caingangues nesta época do ano porque é quando as crianças morrem devido a uma aritmética cruel: fome mais a contaminação das fontes e vertentes de água, como foi descrito no domingo e na segunda-feira passados na série de reportagens intitulada Índios Desnutridos, de Zero Hora. Só em três aldeias da Guarita, no verão passado, morreram 22 crianças. A maioria entre zero e cinco anos. Neste ano, elas já começaram a adoecer - em cada grupo de 10 indígenas que procuram atendimento médico hospitalar diário, oito são crianças.

A grande contradição do problema da mortes das crianças caingangues, explica o cacique da tribo, Carlos Alfaita, é que nenhum outro momento da história dos caingangues a cobertura médica, hospitalar e o fornecimento de remédios estiveram tão bons. O serviço é prestado pela Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Mesmo assim, as crianças continuam morrendo.

Um dos motivos é a moradia, acreditam os líderes da tribo. Nas oito aldeias da Guarita, vivem 3.930 pessoas, em 1.024 moradias, sendo que 750 não têm condições de habitação. São casebres feitos de restos de madeira, ou cobertos com galhos de árvores. A maioria tem uma única peça, onde a família dorme, cozinha seus alimentos em um fogo de chão e faz as necessidades fisiológicas.

- A necessidade de habitação não é exclusividade da Guarita. Existe em outras áreas (são 27 reservas). Só que, por vários fatores, aqui ela causa mais danos às crianças - explicou Juvino Sales, do Movimento de Resistência Indígena, uma organização nascida entre índios com curso superior.

Sales foi encarregado de fazer o levantamento do problema habitacional dos indígenas, descrito pelas lideranças da tribo, como Sebastião Claudino, da Aldeia Missão, como um dos mais problemáticos da Guarita.

- A Guarita era uma das maiores florestas por esses lados. Levaram toda a madeira, não deixaram nada para os índios fazerem suas casas - recorda Claudino.

As florestas nativas da Guarita foram devastadas nos anos 80 por quadrilhas de madeireiros brancos. A história está toda registrada em vários processos na Justiça Federal. Na última década, o governo do Estado e a União vêm estudando projetos habitacionais para os caingangues. Mas pouco coisa foi feita, principalmente pela falta de verbas.

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