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Iawyraky

CB, Opinião, p. 25
Autor: ZARUR, Carlos
20 de Dez de 2003

Iawyraky

Carlos Zarur
Jornalista, é assessor da Presidência da Eletronorte (zarur@eln.gov.br)

Iawyraky é um nome indígena que poderia se chamar vida, mas quer dizer lutador. É o nome do milésimo índio da altiva nação Kinja, os Waimiri Atroari. Unia estória, como poucas, que caminha para um final feliz.

Iawyraky é um menino forte, filho de Anapidene e Ketamy, veio ao mundo abençoado porque representa não só o nascimento de uma vida, mas o renascimento de uma nação. Nos últimos quarenta anos, esses índios foram dizimados: primeiro pelo garimpo , depois pela estrada que cortou suas terras, mas finalmente veio a redenção, pelo que parecia ser o golpe de mis misericórdia: a construção da Hidrelétrica de Balbina.

A recuperação da cultura Waimiri Atroari ocorreu com a implantação do programa desenvolvido pela Eletronorte em convênio com a Funai e idealizado pelo antropólogo Porfírio Carvalho, buscando uma compensação pelo impacto da construção de Balbina. Em quinze anos de implantação do Programa Waimiri Atroari, pela Eletronorte, a população indígena voltou a crescer, em média 6,5% ao ano. A terra dos índios, antes invadida, foi demarcada e ecologicamente equilibrada. Funcionam competentes sistemas de saúde e de educação - este segundo conduzido pelos próprios índios. A cultura ressurgiu com toda sua força, e as festas tradicionais voltaram.

Essa é uma estória boa para os pais contarem aos filhos antes que durmam. Uma estória verdadeira feita para se sonhar. Os Waimiri Atroari eram índios fortes, por volta de seis mil pessoas. Foram dizimados, principalmente porque eram guerreiros e matavam todos que invadiam seu território. Essa imagem combativa contribuiu para que o exército fosse incumbido da construção da rodovia BR 174 (Manaus -Boa Vista). Foram utilizadas forças militares repressivas para conter os indígenas e esse enfrentamento culminou com a quase extinção da nação Kinja. Era um tempo obscuro de ditadura e tristeza.

Em 1988, restavam daqueles seis mil índios, saudáveis e fortes, cerca de 370 pessoas. Vagavam pela estrada implorando comida, humilhados e derrotados - irremediavelmente perdidos. Nessa mesma época, o projeto de compensação aos impactos ambientais causados pela Usina Hidrelétrica de Balbina foi elaborado e proposto aos Waimiri Atroari pela Eletronorte em convênio com a Funai. A Eletronorte é hoje coordenadora e financiadora do projeto.

A partir daí, a área indígena foi demarcada, com superfície de mais de dois milhões e meio de hectares. Os índios voltaram a viver em total liberdade e o seu resgate cultural, populacional e de subsistência é modelo em todo o mundo, tendo, este ano, recebido da ONU o título de modelo de política para o meio ambiente.

Mas voltando aos dados dessa aventura que deu certo. Hoje, com o nascimento de Iawyraky, os Waimiri somam mil indivíduos com crescimento populacional de 6% ao ano. Não foi registrada, nos últimos dez anos, nenhuma doença que possa ser imunizada. Existe controle total de doenças respiratórias, malária e outras doenças endêmicas. Cem por cento da população está vacinada. Todo o controle da saúde desses índios está informatizado.

0 trabalho é feito pelos postos de saúde instalados em praticamente todas as aldeias.

Voltaram à agricultura cultivando grandes roças, possuem estoque de animais para abate, peixes e gado. A estrada é fechada no final da tarde para que os índios possam caçar e circular livremente.

Os Waimiri Atroari contam hoje com uma escola em cada uma das 19 aldeias. São 28 professores indígenas. Seu artesanato é muito rico e está sendo comercializado pelo endereço www.waimiriatroari.org.br.

Há muito mais para se falar do renascimento dessa nação. Fica a experiência e a prova que, quando existe vontade política, o progresso pode ser construtivo em todas as direções. Com sucesso, outro projeto semelhante é desenvolvido pela Eletronorte com os índios Parakanãs, que vivem perto da Hidrelétrica de Tucuruí.

Dia 26 de setembro de 20 nasceu Iawyraky, o pequeno lutador. Os índios cantam e festejam até hoje. O milésimo Kinja o símbolo de um belo momento que será contado para sempre ao pé do fogo, nas aldeias. Não só nas aldeias daquele povo mas em todo o mundo.

CB, 20/12/2003, Opinião, p. 25

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