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Garimpo cresce 7% no território yanomami, denuncia associação indígena

Valor Econômico - https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/01/26/
Autor: CHIARETTI, Daniela
26 de Jan de 2024

Garimpo cresce 7% no território yanomami, denuncia associação indígena
A degradação causada pela extração ilegal de ouro soma 5.432 hectares

Por Daniela Chiaretti,
Valor - São Paulo 26/01/2024 12h12

A expansão do garimpo no Território Indígena Yanomami desacelerou um ano depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarar emergência na área, mas continua em crescimento. A degradação causada pela extração ilegal de ouro soma 5.432 hectares e a expansão do garimpo foi de 7% em 2023.
Morreram 308 yanomamis por doenças infecciosas, parasitárias e respiratórias em 2023. Pelo menos sete morreram em confrontos com garimpeiros armados.
Os dados estão em uma nota técnica lançada pela Hutukara Associação Yanomami lançada hoje, endossada por outras duas entidades indígenas (Associação Wanassedume Ye'kwana e Urihi Associação Yanomami) e com apoio técnico do Instituto Socioambiental (ISA).
Nos últimos anos, o avanço do garimpo na Terra Índigena Yanomami foi vertiginoso. A taxa de incremento anual foi de 42% em 2018-2019, de 30% em 2019-2020, de 43% no período 2020-2021 e de 54% entre 2021 e 2022. O aumento de 7% em 2023 indica, contudo, que "a atividade ilegal continua operando com intensidade no território", diz a nota técnica.
Das 37 regiões monitoradas pela associação, 21 têm registros de desmatamento relacionado ao garimpo. O sistema de alertas utilizado, o "Wãnori" (uma ferramenta que recebe, processa e qualifica denúncias dos indígenas que são depois verificadas e repassadas aos órgãos públicos) confirmou presença garimpeira em pelo menos 13 regiões.
"O Brasil precisa olhar mais para o território Yanomami", diz em vídeo o xamã Davi Kopenawa. "Precisamos das autoridades, dos deputados, senadores, ministros que cuidam do Meio Ambiente e da Defesa, para pressionar o chefe dos garimpeiros", continua. "Ele nunca foi preso. Tem que botar na cadeia quem está errado e fazendo muito ruim para o povo indígena brasileiro", continua a liderança.
Veja a íntegra da fala do xamã Davi Kopenawa
Associação indígena denuncia crescimento de ação de garimpeiros em terras yanomamis
"Está faltando isso: quem matou o índio, o policial pega e tem que botar na cadeia. Esse é o papel do policial", denuncia Davi Kopenawa. Ele também fala sobre a derrubada da floresta e os rios contaminados pelo mercúrio. "Peixe é nosso alimento. Não temos lojas que guardam comida, como vocês têm na cidade", explica. "Água é vida. Vocês têm água encanada. Nós não precisamos. A cultura yanomami traz água na panela de barro, é assim que funciona".
"Estou tentando explicar que o garimpeiro está voltando e continua garimpando. Chega de maltratar meu povo. Yanomami e Ye'kwana são seres humanos, não são bichos. Está acontecendo para vocês também, muita chuva, muita fome. O fogo está matando a floresta. O branco diz que é mudança climática. Mas não é. Isso é vingança da terra que está destruída. A Mãe Terra está se vingando".
A nota técnica registra as novas estratégias dos grupos ilegais para burlar a fiscalização, como a mudança de centros de distribuição da logística para áreas em território venezuelano, uso de novas tecnologias de comunicação para antecipar operações, fragmentação de canteiros e reativação mais distante dos grandes rios, funcionamento no período noturno e resistência armada à fiscalização. O texto traz também dados do monitoramento do Greenpeace, indicando quais são as áreas mais devastadas em 2023.
A nota técnica tem mapas, fotos de satélite, comparações e gráficos. Traz relatos da média diária de aeronaves em algumas regiões e até a hora em que o primeiro avião costuma pousar. "Até o momento, o governo ainda não apresentou um novo plano para a extrusão dos garimpeiros da TIY. O plano inicialmente apresentado pelo governo atual levaria apenas nove meses para retirada total (Fase 01 - 90 dias; Fase 2 - 180 dias), e, infelizmente, não logrou sucesso", informa o texto.
Estima-se que até 80% dos invasores foram retirados no primeiro semestre da TIY, mas no segundo semestre ocorreu retorno massivo; pistas chegaram a ser destruídas pelas Forças Armadas, mas foram recuperadas rapidamente; relatos apontam a presença de homens armados fazendo a segurança do garimpo e reagindo a operações. Profissionais de saúde se sentem intimidados pela violência garimpeira e não conseguem acessar comunidades mais vulneráveis. Em muitas regiões, diz a nota, a cobertura vacinal não atinge nem metade das crianças tanto as com menos de 1 ano, quanto as de 1 a 4 anos.

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