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Futuro depende de revolução verde

OESP, Negócios, p. N2
Autor: BICUDO, Marcos
16 de Ago de 2010

Futuro depende de revolução verde

Marcos Bicudo

O cinema já imaginava como seriam as cidades do futuro há anos. Quem é que não se lembra do impacto que a transformação tecnológica causou nos personagens do filme De Volta para o Futuro, nos anos 80? Eles viajaram 30 anos à frente de seu tempo e encontraram, em 2015, carros que voavam pelos céus das cidades, crianças que se divertiam nas ruas com skates flutuantes e enormes TVs. Mas em 2010, a realidade é parecida com o que a ficção imaginou há 30 anos? Há diversos recursos tecnológicos disponíveis como TVs de alta resolução, celulares com vídeo chamadas e conexão wireless. Mas e os espaços urbanos, estão parecidos?
O relatório internacional chamado Vision 2050, divulgado este ano pelo World Business Council for Sustainable Development, e disponível no site do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (www.cebds.org.br), propôs que 200 empresas fizessem o exercício de pensar o que será necessário fazer para que, daqui a 40 anos, as 9 bilhões de pessoas do mundo possam viver de forma sustentável sem promover o esgotamento dos recursos naturais e o colapso do planeta.
De acordo com o relatório, 70% das pessoas viverão em países em desenvolvimento, como o Brasil. O relatório também aponta que 6 bilhões de pessoas viverão em área urbanas, o que exigirá avanços significativos em termos de infraestrutura, qualidade de vida e mobilidade. O documento ainda aponta que o Brasil já está se urbanizando mais do que outras economias emergentes e seus investimentos em infraestrutura necessitarão ser muito superiores à média histórica de 4,5% do PIB nacional.
Diante desse cenário é imprescindível questionar: as empresas brasileiras estão cientes de seu papel na revolução verde para garantir que as cidades do futuro tenham condições de proporcionar qualidade de vida e bem-estar para a população? Para isso, práticas voltadas para a eficiência energética, construção de edifícios sustentáveis, reaproveitamento de resíduos e desperdício zero de materiais deverão fazer parte da rotina de negócios.
Entre as mudanças fundamentais nos diversos setores da sociedade, o relatório Vision 2050 apontou o desenvolvimento de soluções eco-eficientes de estilo de vida e comportamento. Algo que, ao contrário do que muitos pensam, já é uma realidade em alguns lugares do mundo.
A cidade de Barcelona, por exemplo, já descobriu como lidar com o lixo que produz de forma ecologicamente correta, por meio de uma tecnologia impressionante. Em vez de latas, que dependem de coleta periódica, as cidades têm bocas de lixo. Todas as bocas de lixo são conectadas a um gigantesco sistema de tubulação, que aspira os sacos de lixo de hora em hora, dia e noite, o ano inteiro. O lixo é transportado para uma usina de triagem; os plásticos, latas e papel são reciclados. O lixo orgânico vira combustível para mover turbinas que produzem eletricidade.
No Brasil, projetos voltados para as cidades com foco em eficiência energética já despontam como alternativas significativas. Considerado o bairro do futuro, Pedra Branca, na Grande Florianópolis, é um bom exemplo. O empreendimento é sustentável e propõe um novo jeito de morar em cidades. Entre diversos recursos tecnológicos, a iluminação pública se destaca. As ruas têm luminárias de LED, cujo consumo de energia é 80% inferior ao de lâmpadas convencionais de sódio.
A iluminação representa 20% de toda a energia elétrica consumida no planeta. Com as tecnologias hoje disponíveis seria possível reduzir em 50% o consumo de energia elétrica para iluminação pública no Brasil. Isto equivale uma economia de 6 TWh/ano (TeraWatt), o que representa 10% da capacidade de geração de Itaipu alocada ao Brasil.
Está claro que o setor empresarial tem inúmeras oportunidades se considerar a sustentabilidade como um fator estratégico para os negócios e não somente como um vetor de lucro. O desafio das empresas é criar e inovar para adaptar seus produtos e serviços e, com isso, colaborar diretamente com a sustentabilidade das cidades. Para alcançarmos o sucesso, precisamos incorporar a sustentabilidade no dia a dia das empresas, criarmos regulamentações que levem a um uso mais racional dos recursos. Afinal, 75% das pessoas hoje vivem em cidades e a saúde e o bem-estar destas pessoas está relacionado a cidades mais sustentáveis - no acesso a saúde, no uso da energia, na organização do espaço urbano e com mobilidade garantida. Temos um papel incontornável na sustentabilidade das cidades brasileiras do futuro.

Presidente da Philips do Brasil

OESP, 16/08/2010, Negócios, p. N2

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100816/not_imp595568,0.php

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