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Embrapa vai desenvolver plano de criação de búfalos em reserva extrativista no Pará

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Thaís Brianezi
19 de Jul de 2005

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), instituído em 2000, proíbe a criação de animais de grande porte em unidades de conservação. Por outro lado, ele garante a prática de atividades econômicas tradicionais nas unidades de uso sustentável - que permitem a presença de moradores. Essas duas premissas legais, contudo, se mostram contraditórias no caso da Reserva Extrativista Verde para Sempre, em Porto de Moz, no Pará. Metade dos cerca de 1,7 mil moradores locais vivem da criação de búfalos nos campos naturais da várzea, atividade que desenvolvem há pelo menos duas gerações. "Não tem sentido proibir uma atividade tradicional. Por isso, o Ibama procurou a Embrapa para juntos a gente desenvolver um Plano de Manejo para o gado bubalino que seja sustentável", contou Luciano Mattos, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Brasília (Empraba Sede).

O projeto será coordenado pela Embrapa Meio Ambiente, localizada em Jaguariúna (SP), mas terá também participação da Empraba Rondônia (Rondônia), Embrapa Amazônia Oriental (Belém) e Empraba Agroecologia (Rio de Janeiro). "O Ibama contratou uma consultoria para fazer o diagnóstico socioambiental da Resex, estudo que começará em agosto e irá até dezembro. Ele nos dará informações fundamentais para a elaboração do Plano de Manejo, como a quantidade exata de moradores e o tamanho do rebanho, por exemplo", informou Mattos. "Até 15 de agosto teremos a primeira versão do projeto, que nos permitirá buscar financiamento para elaboração do plano." Ele disse ainda que o financiamento será buscado preferencialmente dentro da própria Embrapa ou em outros órgãos do governo, como o Ministério da Ciência e Tecnologia.

Segundo Mattos, dados preliminares coletados em uma visita técnica realizada de 20 a 23 de junho mostraram que os búfalos hoje são mantidos soltos, próximos às comunidades, durante a época da seca (junho a outubro). Porém, ficam confinados em marombas (estruturas elevadas de madeira, construídas na várzea, sobre as águas) durante a cheia (de novembro a maio). "Isso gera dois problemas: a transmissão de doenças às populações locais e o sobrepastoreio, que destrói a pastagem natural da várzea", explicou o pesquisador. "A gente ainda precisa dos dados do diagnóstico para então elaborar o Plano de Manejo, mas de maneira geral sabemos que a solução é eliminar as marombas, deixando o rebanho solto também durante as cheias, em áreas mais elevadas. O importante é que a própria comunidade já tem consciência do problema."

A Reserx Verde para Sempre tem 1,3 milhão de hectares e foi criada em novembro do ano passado. De acordo com a estimativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto de Moz, na Resex existem entre 17 e 18 mil búfalos. "O búfalo é a única fonte de vida para cerca da metade dos moradores da Resex, que moram na várzea. Eles comem e vendem a carne, o leite e os doces e queijos que fabricam", contou Idanilo de Assis, presidente do sindicato. A outra metade da população, segundo ele, vive em áreas de terra firme, na floresta. "Essa está bem pior, porque enfrenta a invasão de madeireiras. Muitos largaram o roçado para trabalhar na extração ilegal, e agora estão sem ter para onde correr."
(Thaís Brianezi-Radiobrás-Brasília-DF-19/07/05)

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